Doa a quem doer

Se valer da derrota de outro não é vitória, é incompetência. Achar que está por cima apenas porque detém de meios incompatíveis com a verdade, não faz de você o ser mais inteligente. Ao contrário do que pensam, a pessoa inteligente age com educação e respeito pelo outro, desempenha o que sabe com sabedoria; diferentemente de quem age com a prepotência, ou ainda pior, com o desprezo e o tanto faz.

A grande disputa é com o próprio ego, que não aceita saber menos ou não ter a mesma competência do outro. Então, é preciso uma estratégia, e claro que não é usando a inteligência, mas o pior lado do ser humano, a maldade.

Se ao pensar em fazer algo ruim para alguém parasse para pensar nas consequências que isso possa vir a repercutir na própria vida, acho que em sã consciência não faria. Sempre que se comete o mal, como um bumerang, a vida traz de volta. A lei da atração. Pode demorar, mas a vida traz de volta.

Não há nada melhor do que uma consciência tranquila, um agir sabendo que está fazendo o bem para você mesmo, plantando e colhendo frutos bons e não podres. Cada vez que fizer algo que gratifica não só você, mas também o outro, lá na frente terá sua recompensa.

O foco aqui é o quanto de vantagens alguns se estão valendo em detrimento a outros. Qualquer coisa que se conquiste que não seja de forma legal não é seu, não fez por merecer, enganou ou se fez parecer alguém que não é, e isso não te qualifica, te empobrece ainda mais; lembrando que pobreza não é só financeira, mas pior ainda, de espírito.

Pode estar achando que é papo careta e que ninguém mais pensa assim. Realmente muita gente hoje olha apenas para o seu próprio umbigo sem pensar em ninguém, o doa a quem doer. Agora te pergunto, você já fez doer ou já foi doído por quem pensa assim? Foi bom? Achou justo estar desse lado? Afinal, ninguém pensa mais em ninguém, não é mesmo?

Acontece que nossas conquistas dependem de nós mesmos, se não fizer a lição de casa da vida da maneira certa, se passar a vida colando do coleguinha ou dedurando para ser o primeiro da classe, um dia será descoberto e o professor vai te deixar atrás de todo mundo para começar tudo outra vez. Vai sentir vergonha, vai doer muito, mas é assim que se aprende a tarefa da vida. Ou se faz direito ou vai sofrer as consequências. No final, quando acaba o ensino, se aprendeu deixará boas lembranças, se não aprendeu terá que rever tudo e ainda será esquecido. Faça certo enquanto há tempo, não sabemos quando o ensino vai acabar.

‘Horizonte Perdido’, Muito mais do que uma ficção.

Não costumo fazer resenha crítica sobre filmes, mas esse, especialmente, me chamou a atenção. Assisti pela primeira vez nos anos 1970, ainda era criança, mas saí encantada do cinema com meus pais e minha irmã, tanto que nunca esqueci das cenas e da trilha sonora, que ouço até hoje. É claro que não compreendi, na época, a mensagem que o filme passou, apenas que ali as pessoas não envelheciam e eram felizes.

Ultimamente ando recordando muitos momentos daquela época tão feliz da minha vida, anos 1970 e 1980, que deixaram uma história que volta e meia retorna. Procurei o filme na internet e encontrei, na íntegra, e resolvi escrever porque fiquei impressionada com a mensagem que passa ser tão atual, parece mais uma profecia do que viveríamos hoje.

O autor, James Hilton, escreveu este romance em 1933, e em 1937 foi transformado em filme pela primeira vez, tendo seu remake em 1973. A história se passa numa fuga da guerra na China, e um dos aviões que levava um diplomata e mais quatro americanos é sequestrado e cai num deserto de neve do Tibet. Seus integrantes, todos vivos, são encontrados por um povo local, perto do acidente, e são levados para um lugar chamado Shangri-la, onde as pessoas não envelhecem e são felizes. É aí que vem toda a mensagem do filme.

Em meio a um lugar paradisíaco e uma trilha sonora lindíssima, com músicas do maestro Burt Bacharach e letras totalmente intuitivas a uma vida como deve ser vista e vivida por cada um de nós. Não estou aqui para influenciar ninguém, mas para chamar a atenção do mundo no qual estamos vivendo; como eu mesma já retratei várias vezes nas minhas crônicas, um mundo competitivo, maldoso, onde as pessoas se digladiam diariamente por um lugar, uma posição, status, poder, assuntos que são recorrentes de muito tempo, mas que só pioram.

Não quero a longevidade, mas uma vida em paz, em que cada um segue o seu caminho, olhe para sua vida com gratidão sem querer a destruição da humanidade, do nosso Planeta. Uma vida na qual se possa enxergar mais a beleza do que é viver. Cada um viver a sua vida.

No filme, o mestre do Vale fala que a loucura no mundo já existe; lembrando que esse romance foi escrito em 1933, ou seja, o caos já existe muito antes disso tudo. Diz que os comandos são obtusos, os humanos estão confusos. Que o mau se autodestruirá, o mundo chegará um dia a procurar uma nova vida. Então, pede para que sejamos gentis e pacientes, ter o amor fraternal. Um novo mundo sairá das ruinas. Isso não te lembra o que estamos vivendo hoje? Teria sido uma profecia?

Vejo que estamos vivendo esse mundo problemático que está levando o ser humano ao caos da existência neste Planeta, com discursos de ódio, intolerância, briga por poder, e nós no meio disso tudo.

O filme é uma ficção, mas a nossa realidade não, e não podemos negar o caos em que o mundo se encontra. Desta forma, vejo que há muito tempo que o ser humano está passivo na destruição, vendo e não agindo contra os desmandos e interesses que não são da maioria. Estamos vendo o Planeta sendo engolido pelas tragédias, mas parece que está tudo bem, pois apesar de tudo continuamos a viajar, a reclamar e ver as tragédias como se a culpa não fosse nossa. Afinal, não estamos fazendo nada para que isso acabe, muito pelo contrário, estamos assistindo a destruição achando que mês que vem acaba, que daqui a alguns meses chegará alguém para colocar ordem nisso tudo, que ano que vem será melhor.

Não há mais tempo para esperar um salvador, somos nós mesmos. Se cada um entender que temos o poder de mudar nossas atitudes, juntos mudaremos o mundo. Abaixo vou colocar o trecho de uma música do filme, que também é reflexiva, para pelo menos se inspirarem no que é bom e em como podemos mudar nossa vida com pouco, é só querer.

 “Quando você olha para si mesmo – você gosta do que vê? Se você gosta do que vê, você é a pessoa que deve ser. Porque o seu reflexo reflete em tudo que faz, e tudo que você faz reflete em você. Quando você acorda todos os dias, você gosta de como você se sente? Se você gosta de como você se sente, você não tem nada a esconder. Quando você se deita para dormir – você gosta dos seus sonhos? Se você gosta de todos os seus sonhos, a vida é tão feliz quanto parece. (Música: Reflections, cantada por Sally Kellerman)

Janeiro de 2022. O mês que tudo aconteceu

2022 tem apenas dezenove dias, nem completou um mês ainda, mas parece que faz um ano que entramos no novo ano, pois já aconteceu de tudo e mais um pouco nesses dias.

Já iniciamos com as tragédias de enchentes na Bahia, que começaram em dezembro de 2021 e continuaram nos primeiros dias de 2022. Pessoas desabrigadas, famílias que perderam tudo o que tinham, ficaram só com a roupa do corpo. 26 mortos.

Quando a chuva deu uma trégua e puderam ver suas casas e tentar recuperar o que sobrou foi a vez de Minas Gerais. Chuvas, rompimento de barragem e uma rocha que se desprendeu em Capitólio, matando 10 pessoas que estavam numa embarcação.

Chuvas com enchentes no Espírito Santo, tsunami em Tonga (Nova Zelândia), meteoro que caiu em Minas Gerais, invasões de besouros na Argentina e de pássaros em um estacionamento nos EUA. Aumento dos casos de Covid, gripe H3N2. E tá tudo bem?

Será que as chuvas passaram a ser mais intensas só porque aumentou um ou dois graus na Terra, o efeito El nina é um fenômeno natural, as queimadas são perfeitamente normais, os tsunamis acontecem, a pandemia não acaba e continua matando pessoas mesmo depois de vacinas, e não conseguem dar um fim nisso? Além de tudo, chega uma gripe fora de época, grave, falta alimento na mesa de muitos brasileiros, o salário não acompanha os aumentos abusivos, a economia vai mal das pernas, o mundo está enlouquecido, enfraquecido, cansado e não se encontra solução pra nada?

Alguém te avisou que entraríamos num redemoinho no século XXI que não teria saída? Quantas tragédias serão necessárias para se perceber que o ser humano estragou tudo? E quem tem que consertar? Nós mesmos. De braços cruzados esperando que sejamos vistos continuaremos a ser mais engolidos sem saída para a vida.

Deixar a natureza em paz é o começo de tudo.

Quando tudo acabar, tudo vira pó

A vida passa e deixamos de fazer tanta coisa por não dar valor naquele momento, com a desculpa de depois eu faço, amanhã eu vou. Quanto erro, e depois tem que ter o culpado, pois raramente esse título cabe a si mesmo, mas na maioria das vezes é.

Quando vimos tragédias como estas que estamos presenciando, nos damos conta de que vivemos totalmente errado, nos preocupando com coisas pequenas, e não nos damos conta que em fração de segundos tudo pode acabar. E daí eu pergunto: valeu a pena ter deixado de fazer o que queria, ter pedido perdão ou perdoar alguém? Dizer eu te amo, dar um abraço, escancarar mesmo o coração sem pensar se está certo ou errado?

Quantas bobagens fazemos em nome do orgulho ou de não querer demonstrar um sentimento, de falar a verdade, de chorar, de concordar que está errado, que ninguém é perfeito, ninguém é invencível. É só viver e pronto, deixar fluir, ser um ser humano de verdade, sem máscaras.

Quantas tragédias estão acontecendo no mundo afora? Não é momento de parar pra pensar e sentir que a natureza está nos chamando a atenção para a vida? Está tudo errado, é muito egoísmo e egocentrismo, peito estufado e nariz empinado, aparências infladas, posições privilegiadas. Vidas vazias, orgulho pelo superficial, e a superioridade que só existe no ego de quem a carrega, porque o abismo está na frente o tempo todo, e sem perceber, se deixa de existir, e não é mais nada.

Depois de dois anos de tantas más notícias e de perdas, vamos viver a vida como ela é de verdade, contemplar a natureza do jeito que ela é, sem querer mudar ou transformar o curso natural dela. Vamos viver por nós mesmos e não para os outros, cada um faz a sua parte, o melhor que pode por você e sua família. Seja feliz, viva em paz, ninguém tem que provar nada, ninguém veio pra competir, viemos para aprimorar a nossa própria vida. Chega de malandragem e oportunismo, as melhores coisas da vida são de graça, é simples viver. Viva pra você e por você, o que você faz, conquista, tem, ou a sua opinião, só interessa a você.

Portanto, pense se vale a pena tanta competição e discussão se não levamos nada daqui, e quando acaba toda a corrida, viramos pó e não sobra nada.

O ar que nos sufoca

Sobrevivemos à tempestade que foi 2021, chegamos até aqui, aos trancos e barrancos, com dúvidas, insegurança, medo, angústia, uma mistura de sentimentos e sensações que nem dá para descrever. O que importa é que chegamos, apesar de toda turbulência.

E agora, o que podemos esperar? Conforme se aproxima o fim deste ano, sentimos que muita coisa ainda está para acontecer. Não sabemos quase nada, mas para quem conseguiu entender o que essa pandemia trouxe, sabe que devemos ficar atentos ao que fazemos, pensamos e como agimos diante das situações. Não somos nada, nem mesmo sabemos nos defender do invisível; nos trancamos quando tudo começou porque não sabíamos o que era.

Mas o homem não está aqui para nascer, crescer e pensar em si. Está aqui para aprender e descobrir os mistérios da vida. Temos os cientistas, os médicos, que logo se empenharam em descobrir o que era e como curar ou parar com a transmissão. Faltando pouco para completar dois anos de pandemia, começamos a respirar um pouco mais aliviados, principalmente no Brasil, que apesar das divergências em torno da vacina, o brasileiro disse sim à esperança trazida pelo medicamento, e nossa população alcançou um número expressivo de vacinados, diferentemente dos chamados países de ‘primeiro mundo,’ que não conseguiram imunizar a maior parte da população por negação à vacina.

Ao chegarmos no fim deste ano turbulento, mas em certo ponto animador por termos desafiado e, ao que parece, dominado o vírus, nos vemos no meio de um outro recomeço de doenças respiratórias pelo mundo afora, inclusive aqui. Poderíamos estar aliviados, mas por que não estamos? Cresce a cada dia o número de pessoas infectadas, agora com H2N3, ômicron, delta, e o que mais vier. Por quê? As vacinas não deram certo ou o homem não aprende?

Depois de tudo o que passamos nos deparamos com um homem pior ainda, individualista e orgulhoso de seu próprio egoísmo e desdém para com o outro. O que foi mesmo que se falava no começo? ‘Não é só pensar em você, é pensar no outro também, um proteger o outro’. E cadê essa preocupação tão falada? Nunca existiu, e sabe por quê? A corrupção não se dá apenas em desvio de dinheiro de um ‘bom vivant,’ mas também na maldade, no egoísmo, na classificação social, de cor, de raça, de esperteza, e tantas outras.

Isso tudo não significa nada na vida. Não estamos sozinhos, pois vivemos em grupo o tempo todo, e por isso já deveria ser mais do que entendido que sem o trabalho do outro, sem o comprometimento, companheirismo, não temos nada. Talvez por isso estagnamos. Enquanto existir o egocentrismo, a competição, o ódio, teremos que enfrentar a destruição da humanidade com pandemias, catástrofes, perdas.

O ser humano está morrendo sufocado, sem poder respirar, pois o problema é no pulmão, nas vias aéreas, no afogamento pela enchente, pela fumaça do fogo. Para calar as palavras, para parar de destruir a natureza, para respeitar o ar contaminado por metais pesados que nos levam à morte. A comida modificada para vender mais, para adoecer e precisar de mais medicamentos que nos curem disso e nos adoecem daquilo, até nos deixar loucos e não resistir às doenças mentais de querer mais, de ser mais e morrer sufocado sem respirar.

Será que o mundo vai acordar e entender que ninguém veio para ficar? Viver é muito mais simples e bonito. Se todos abrirem os olhos e fizerem a sua parte, todos se ajudam e tudo se transforma. Mas enquanto o mundo for regido por ódio, intolerância, desprezo e poder, iremos sofrer com tudo isso, que não acaba.

Sobrevivemos à tempestade de 2021 e chegamos até aqui. O que podemos esperar agora?

Depois do distanciamento, ele continua nas relações humanas.

Uma pandemia e tudo mudou. Estamos voltando à nossa vida ‘normal’ sim, mas nem tudo está tão normal como antes. A reclusão trouxe um tanto de individualismo entre as pessoas, algumas gostaram do isolamento e nem querem mais sair tanto; outras nunca ficaram isoladas e continuaram suas vidas. Normalmente não, porque não estava normal, mas tentaram ignorar. Teve quem o medo tomou conta e ainda toma, e outras que estão saindo, indo e vindo com alívio no rosto; mas e as relações humanas, continuam iguais?

Muita coisa mudou, muito se perdeu nos relacionamentos, separações entre casais, discórdia em família, amigos que se foram sem razão. A vida não é mais a mesma em nada, por isso não existe vida normal ou novo normal, nunca existiu, é apenas uma metáfora para não enxergar a realidade à qual fomos colocados à prova, mas ninguém se deu conta disso.

Mas que prova é essa? A vida. Tem quem diga que está pior do que antes, e está realmente, porque depois de ficarem presos em suas próprias escuridões, em vez de olhar para dentro de si, que é um exercício difícil, mas necessário, resolveram dar vazão à raiva, à intolerância e ao desrespeito. Estamos vivendo a pior fase da humanidade, essa que retrocedeu à violência gratuita sem raciocínio, simplesmente por prazer e um poder inexistente.

O medo sobrepôs o afeto, deixamos de abraçar e beijar as pessoas, de nos aproximar. O distanciamento tornou-se proteção contra um vírus, mas que distanciou as pessoas. O carinho se foi, a demonstração de afeto também. Ficaram apenas as palavras, mas palavras nem sempre dizem a verdade, como diz um abraço bem apertado. O amor quase acabou, quase deu espaço à indiferença, ao tanto faz. Por que quase?

O amor jamais acabará enquanto houver relações de verdade, não só de casais, mas de todos os tipos entre as pessoas. É por amor que ficamos, é por amor que cuidamos, é por amor que ficamos em pé para viver.

O mundo mudou e a humanidade se perdeu, vamos viver unidos no amor para termos, a partir de agora, uma vida mais leve, uma vida mais simples, mas em compensação uma vida melhor, sem medo e em paz.

As dores e angústias de Ser

Será que todo sorriso é de alegria? Quantos dramas cada um carrega na alma, quantas vezes precisamos mostrar um sorriso, mas estamos chorando por dentro? Cada Ser sabe das dores e angústias da sua vida.

Somos julgados pela postura, por um dia que não estamos bem para conversar, por uma palavra mal interpretada; são tantos os motivos, e dificilmente o real motivo é percebido, aquele que está guardado no fundo do peito, mas ninguém sabe, aquela lágrima que ninguém vê, o pedido de ajuda está nos olhos, mas quem enxerga?

Imagino como deve ser difícil para uma pessoa pública ser e parecer estar bem todos os dias, mas não está. E, sem dúvida, aquelas pessoas que falam e desfazem de alguém não se colocaram no lugar do outro para saber se está tudo bem. Não, não está tudo bem todos os dias, não se é feliz todos os dias; aliás, felicidade já se sabe que não é permanente, mas sim um estado.

Tem dias que não estamos bem fisicamente, mentalmente, ou simplesmente não estamos bem e ponto. Seres humanos são assim, então por que não respeitar essa condição? Se todos somos iguais, como pode haver tanta falta de sensibilidade com o outro? Precisamos nos aprimorar para as pessoas ou para nós mesmos?

Cada passo na vida e cada evolução que temos é nossa, portanto, viver para agradar não é o que devemos fazer, já que todas as consequências do que faço, somente eu vou arcar. Então, a pessoa mais importante sou eu mesma.

Isso não é egoísmo nem arrogância, é pura e simplesmente a lógica da vida, ou alguém já viu uma pessoa pagar pelos erros do outro? Não me venha com ‘Eu passei por isso por causa de fulano’. Não foi isso, passou porque aceitou estar junto, aceitou a situação, se estava lá foi por escolha. Nossos erros são pagos por nós mesmos, se não aprendo uma lição o problema é meu.

Antes de julgar alguém, pense em você primeiro, provavelmente não é o dono da verdade, mesmo porque se fosse já nem julgaria. Cada um de nós carrega mágoas, traumas, sonhos não realizados, não dá pra sair falando dos outros se a vida é igual pra todos. A única diferença são as pessoas com quem convivemos, família e endereço, mas os sentimentos são os mesmos.

Da próxima vez que pensar em falar desse ou daquele, pense primeiro em você, pode ser que você mesmo não esteja bem e queira apenas aliviar a sua angústia mostrando que o outro está pior do que você. Pense nisso.

Dia da consciência Negra. Qual é a sua cor?

A Lei Áurea foi criada já há muitos anos — 13 de maio de 1888 –, mas ainda há quem rejeita o outro pela cor da pele. O que diferencia as pessoas umas das outras é o caráter, e isso não tem cor ou cheiro; está no Eu interior de quem manipula, rouba, engana, nutri nas pessoas uma falsa esperança apenas para se dar bem; mas isso tem cor?

Acho que não é coincidência o Brasil ter sido o último país independente a dar liberdade aos escravos, pois nesse próprio país ainda é necessário ter um dia de ‘consciência negra’, para que as pessoas tomem conhecimento de que somos todos iguais, necessitamos de respeito igualmente. Uma nação que ainda trata a sua população preta com xingamentos pejorativos realmente não está preparada para liderar. Talvez no próximo século as pessoas venham mais preparadas para as diferenças e nasçam sabendo o que é respeito.

É inaceitável que não se contrate uma pessoa por causa da cor da pele, que não aceite em determinados lugares, que trate com indiferença, até mesmo uma criança, como se a cor fosse sinônimo de honestidade, bons costumes ou passaporte para ser aceito.

Chegamos ao século XXI sem evoluir nada, pois não precisa ser bom em tudo como muitos querem, se for apenas uma pessoa que vale a pena já está ótimo. Tem muito branco articulando as piores situações e ninguém usa um termo pejorativo para aquela cor. Até quando viveremos na miséria de ser tão insignificantes de dar valor ao que não tem valor, e ao mesmo tempo, desfazer da sua própria origem. Sim, origem, ou os brancos vieram de outro mundo?

Resenha crítica: Ninguém pode com Nara Leão

A garota tímida nascida em Vitória/ES, em 1942, foi para o Rio de Janeiro com a família quando tinha apenas um ano de idade para morar no bairro de Copacabana. Filha de pai advogado e mãe dona de casa, Nara teve uma criação bem diferente da cultura da época, pois seu pai tinha ideias muito avançadas e criou as filhas, Nara e Danuza Leão, para serem independentes, serem o que escolhessem.

Aos doze anos, Nara foi incentivada pelo pai a fazer aulas de violão, sendo esse seu primeiro contato com a música. De maneira despretensiosa, nascia a cantora Nara Leão. Passou a ter aulas particulares de violão com Roberto Teixeira, ex-integrante do grupo Oito Batutas de Pixinguinha, muito requisitado na época pelos artistas das rádios. Nara se deu tão bem com o instrumento que em duas semanas já sabia tocar alguns chorinhos e maxixes.

O livro mostra a trajetória da carreira da cantora com leveza, contando histórias da época, envolvendo a ditadura, o movimento tropicalista, a Bossa Nova e o samba, no começo de uma geração da música popular brasileira com nomes de peso e inesquecíveis, os quais fizeram história.

 Fala sobre a rixa entre a cantora e Elis Regina, bem como sua amizade com Chico Buarque e Roberto Carlos. São muitas as passagens e nomes da música durante o período da carreira da cantora. Uma época de censura, em que jovens artistas lutaram contra, desafiando a perseguição que existia no mundo da música daquela época. Um livro para quem gosta de música, da Bossa Nova eternizada na voz de Nara Leão e outros grandes artistas lembrados na biografia.

A vida de Nara Leão terminou cedo, mas não sem uma intensa bagagem de conhecimento e superação. De menina tímida e que sofria com tudo vivendo em seu próprio casulo, passou a ser uma mulher corajosa; não tinha meias palavras, falava o que pensava. Destemida, enfrentou críticas na carreira, vários relacionamentos, autoexílio e a doença que a levou à morte precoce, aos 47 anos, com câncer no cérebro.

Foram muitas músicas gravadas, muita história para contar, uma carreira que começou em 1959 e foi interrompida em 1989, trinta anos vividos intensamente, mas marcados para sempre. Será impossível ouvir a Bossa Nova sem lembrar de Nara Leão. Será impossível ler e não admirar a história de um dos maiores nomes que o Brasil já teve.

“Quando digo música popular brasileira, digo música de raiz brasileira. […] A Bossa Nova foi uma evolução enorme que serviu para o nosso movimento de agora, mas espelhou-se na música norte-americana, fugindo das nossas raízes. […] Alguns compositores têm preconceito contra o que é nosso e querem logo pensar em termos de música desenvolvida lá de fora sem procurar evoluir o que realmente temos.”

Nara Leão

“Foi símbolo da reação à ditadura de 1964, sem nunca pretender coisa alguma.”

Paulo Francis

Crônicas, artigos e críticas literárias