Século XXI e os anos dois mil chegaram, um século esperado ansiosamente pelos relatos que crescemos ouvindo, de ali acabaria o mundo. Mas não aconteceu. Muita coisa mudou nesses 21 anos que se passaram, muita evolução tecnológica na medicina, nas carreiras e no modo de vida, mas nada disso ajudou na evolução humanitária, salvo algumas pessoas que ainda têm olhar para os seres que não fazem parte dessa ‘evolução’ tão sombria e tão cheia de ódio espalhada pelo mundo.
Do que valeu chegarmos até aqui, sendo que o homem foi corrompido pela ganância e orgulho? Do que vale tanta evolução se não serve para o crescimento da pessoa, do Ser que habita em cada um?
O trabalho dignifica o homem, sim, mas desde que tenha a sensibilidade de entender que nada do que conquistar é seu de verdade, que se souber dividir com aqueles que necessitam mais do que você não estará perdendo nada, mas sendo um humano com capacidade de entender que ninguém domina nada, que não é dono de nada, mas é responsável pelo o que faz ou deixa de fazer. Sua vida não depende do que você tem ou juntou, mas de quem você é.
Moramos num País com a maior diferença social que existe, enquanto alguns não se cansam de arrumar brechas para ganhar sempre mais, outros não têm o que comer, vivem em pobreza extrema, sem saneamento básico, sem nada. Se o Brasil é um País rico em terras, onde se planta tudo nasce, e o maior exportador agropecuário, por que tanta diferença social? Aonde ficou a solidariedade?
Recentemente minha filha, que é jornalista, fez uma matéria com uma família de comunidade com 11 filhos em extrema pobreza. Uma das crianças, com 7 anos, disse que seu maior sonho era comer bolo de chocolate. Essa declaração foi tão impactante que inúmeras pessoas se prontificaram em mandar o bolo de chocolate. Eles não só receberam mais de um bolo como cestas básicas, roupas, material de higiene e uma pequena festa de aniversário, coisa que nunca tiveram.
Infelizmente, essa situação é comum em todos os cantos do nosso País, crianças que nunca comeram muitas outras coisas, que não têm sequer um pacote de bolacha recheada para comer uma coisa gostosa fora de hora.
Em contrapartida, temos famílias e crianças consumindo um panetone de R$ 150 ou mais, e que não raro parte vai para o lixo. É comum saber de crianças obesas por comerem lanches, fast foods pedidos por aplicativos, ou ainda muitas delas passando por terapia porque não comem, não vão bem na escola particular, mas recebem os presentes que querem, as viagens, jogos e afins, sem sequer saber que existem outras crianças iguaizinhas a elas que nunca comeram um bolo de chocolate.
A sociedade está completamente errada, com valores invertidos, sem significado algum, sem que nossas crianças saibam das diferenças, dos absurdos que acontecem. Não é verdade esse mundo que é apresentado.
Essa nova geração também crescerá dando pouca importância para essa diferença, não aprenderam a compartilhar, mas sim acumular. Não acumulam bens, mas jogos, aparelhos, cartas, celulares e ainda aprenderam a mostrar o que têm, disputar e exigir.
Devemos olhar para uma nova forma de sociedade de direitos para todos, de ter comida na mesa não ser um privilégio de alguns, mas de todos. Ter uma casa, água e emprego, isso não é sorte, é vida. Essa vida não foi dada para uma classe social, ela é dada a todos. Ser rico ou pobre não faz diferença nenhuma no sopro da vida, afinal, quando cada um deixar esse corpo deixará tudo, os pertences, o carrão e a casa, as pessoas que ama; e assim também deixará o pobre a sua casa, os seus pertences e a quem amou. Essa foi a maior prova deixada por Deus de que somos todos iguais, chegamos sozinhos e vamos sozinhos. Deixe sua arrogância e orgulho de lado, se torne um pouco melhor, ainda dá tempo, e leve com você a luz que deixou por aqui.