Os anos 2000 chegaram, mas não percebemos.

Dando continuidade ao assunto da última crônica – Inteligência Artificial –, quero abordar aqui a evolução que estamos vivendo e o que não percebemos. A forma de comunicação dos humanos evoluiu de símbolos desenhados para a escrita e isso mudou tudo, imagina agora.

A escrita nasceu no antigo Egito e, quando começou, não foi fácil com que chegasse às pessoas aquele novo modo de se comunicar, levou tempo e entendimento, aquilo poderia fazer o homem parar de pensar passando a confiar num papel. A internet foi um meio rápido de chegar ao maior número de pessoas no mundo, no começo também teve a recusa de alguns e o deslumbramento de outros. Com o tempo foi tomando espaço e, hoje, é o meio de comunicação que conhecemos e aprendemos a conviver.

Agora surge a Inteligência Artificial para nos assustar e contestar seu uso. Certamente que em breve será usada pela maioria da população mundial, e mudará nosso jeito de pensar e enxergar essa nova ferramenta. Mais uma vez seremos desafiados a mergulhar num novo modo tecnológico, que pode nos ajudar, mas também pode atrapalhar. Como tudo não é cem por cento, o que podemos esperar?

As crianças desse novo mundo não se adaptam aos velhos tempos, estão à frente do que nós fomos e tudo isso que não entendemos é porque eles vão dominar, não nós. Assim talvez fique mais fácil de compreendermos tanta coisa nova chegando, mas temos que entender que os novos tempos precisam chegar e, para isso, o velho precisa ir.

Se parar para pensar tem muita coisa que não faz mais sentido e ainda perdura aos nossos olhos, sem que percebamos o quanto está obsoleto. O conflito com o novo sempre existiu, um dia fomos os jovens incompreendidos, hoje estamos na oposição ao mundo dos jovens, talvez ainda não compreendamos que nada mudou, somente nós é que estamos vivenciando tudo novo junto com eles, os jovens, e por isso não entendemos.

É complexo e confuso, mas um dia isso não será mais assim porque os jovens de hoje serão muito mais preparados para as mudanças, já nasceram nesse mundo de mudanças constantes, de entenderem com mais facilidade as diferenças entre as pessoas, gostos, modos de vida. Quando envelhecerem, suas mentes estarão sempre atuais, porque vieram para mudar, para aprimorar e para entender.

Estou certa de que agora sim enxergo o novo mundo. Negamos durante muito tempo os anos 2000, mas não tem mais como negar, ele chegou e estamos vivendo intensamente, só não tínhamos percebido ainda. Bem-vindo ao século XXI.

Inteligência artificial, não precisa mais pensar?

Dia desses me surpreendi quando entrei num site de língua portuguesa e lá estava: ‘Digite aqui seu texto que nossa inteligência artificial corrige pra você’. Eu nem tinha a intenção de escrever nada, apenas uma pesquisa que estava fazendo. Mas aí pensei: como será o aprendizado dos jovens a partir de agora?

Desde que o antigo celular passou a ser smartphone deixamos muita coisa de lado. Quase não se liga mais para as pessoas, pois é só passar uma mensagem escrita ou de voz que conversa do mesmo jeito, ou ainda as fotos postadas que indicam onde você está, mapas de localização – até o Google manda todos os lugares que você esteve no mês!

Meu Deus! Somos todos encontrados, quer você queira ou não. Então, adeus privacidade. Mas agora os tempos mudaram, e as inovações não param, com a IA não precisa mais pensar nem tentar aprender, o robô faz por você. Já estava fazendo até a limpeza da sua casa, mas agora pode também pensar por você, caso queira.

Como será que estaremos daqui a dez anos? Sentados no sofá com o smartphone na mão pedindo comida, esperando o robô escrever pra você, trocando canal de TV e colocando as músicas que quiser no streaming de sua preferência, jogando, conversando, trabalhando, o que mais?

Será que vamos dirigir? Acho que não, o carro vai te levar por meio de computador programado. Escola não existirá, afinal algumas profissões não existirão mais, e eu estou correndo perigo, logo mais o robô vai escrever livros, artigos. Vamos continuar a existir?

As máquinas estão invadindo nosso universo já faz um tempo. O ruim disso é que estamos ficando cada vez mais sem movimento, usando quase tudo pelo comando de voz, sem que seja necessário levantar para acender a luz, ligar o som, colocar o relógio para despertar e outras coisas mais. Agora a evolução chegou ao cérebro também, é só um clique e esperar o cérebro artificial fazer por você. O quão importante isso será?

Ou seja, não tem mais volta, a tecnologia tomou conta e só nos resta seguir junto, nos adaptando nesse mundo louco. Nos disseram que seria assim, com robôs e tudo muito futurista. Não é exatamente como fantasiamos ou como certos desenhos mostravam, mas tá bem parecido, e hoje é real.

Daqui a dez anos a gente volta a falar nesse assunto, se ainda existir o ser humano. E, se existir, não faço ideia de como vamos conversar, talvez por chips telepáticos. Aguardemos. Até lá.

Àquele diário!

Lembra daquele diário que era segredo absoluto trancado a sete chaves? Era uma forma de desabafo para colocar pra fora os mais secretos desejos, acontecimentos e mesmo raiva de alguém ou da gente mesmo. Te fazia muito bem escrever tudo aquilo que não queria contar pra ninguém. Fazia mesmo e você nem sabia. Escrever sobre você te faz compreender as verdades que não quer enxergar, pois nesse momento não dá para mentir, só você está lendo e sabe o que sente.

É a forma mais sábia de se conhecer, o autoconhecimento. As palavras têm força tanto na escrita quanto na fala, mas escrevendo está gravando tanto na mente quanto no papel. A maneira de se fazer um diário é boa porque não vai ter o julgamento de ninguém, é só pra você mesmo, e isso traz segurança para colocar todo o seu sentimento, e a partir daí consegue desvendar seus medos e inseguranças.

Será que é por isso que hoje existe tanto problema emocional? Ninguém mais tem um diário, nem mesmo os adolescentes. Quantos suicídios acontecem, e não tem idade para isso. O número de problemas emocionais só aumenta, principalmente depois da pandemia. Nunca se ouviu falar tanto em terapia, ansiedade e depressão como agora. Acho que éramos mais inteligentes e não sabíamos.

Hoje o diário são as redes sociais, aquilo que não era pra ninguém saber agora é escancarado, e ainda precisa ter likes. Mas o estranho desse diário virtual é que só se mostra a felicidade total, todo mundo se ama, está sorrindo, em lugares maravilhosos, amigos, roupas, lugares, um luxo! Será?

A vida real atrás de tudo isso ninguém quer mostrar. Lembra daqueles medos e inseguranças, os problemas familiares, amorosos e com os amigos? Isso não existe no novo diário, e onde resolvem? No consultório do terapeuta e do psiquiatra, porque a vida é de mentirinha.

Não precisa ficar mostrando todos os seus passos, todas as suas conquistas, isso causa sofrimento porque a necessidade de mostrar que tá tudo lindo te angustia. Aquilo que é importante pra você pode não ser para quem vai ver. A felicidade é sua e não precisa de aplauso. Nós vivemos como somos por dentro e não como somos por fora. Viva mais off do que on, no fim das contas é só com você mesmo.

As relações humanas e a falta de humanidade.

De acordo com a história da humanidade, fomos divididos em clãs, vivíamos em grupo. Desta forma a população de cada nação se formou e cresceu. Até que naquele período uns ajudavam os outros, mas, e agora, o que é que aconteceu que não existe mais essa ligação entre as pessoas? Talvez a individualidade, o querer ter razão, ser melhor em tudo, ou o faço por mim, mas não faço pelos outros.

Podemos dizer que o que mais existe hoje de tóxico é a intolerância com as diferenças, ninguém quer saber de lidar com aquilo que não gosta. Mas não podemos e nem devemos ser todos iguais, mesmo porque viemos de famílias diferentes, não só pelas pessoas que nela habitam, mas principalmente por valores, crenças e costumes que cada família carrega.

Somos todos iguais por estarmos inseridos na mesma sociedade, da qual nos são apresentados desde muito pequenos os mecanismos existentes. Se parar para pensar tem um ritual, regras que estão estabelecidas que são incorporadas por todos sem questionamento nenhum.

As religiões são parte dessas diferenças, mas isso não invalida aquela ou outra pessoa apenas por ter aquela crença, continua sendo da mesma sociedade em que você está também. Mas não é assim que acontece. Existe uma competição insana pelas crenças, o que gera verdadeiros conflitos, sendo que basta entender e aceitar o que cada um é ou prefere ser.

Os conflitos nada mais são do que a insuficiência do ser humano para lidar com aquilo que não aceita no outro, precisa atacar para se sentir melhor. Mas será que isso é o suficiente? Afinal, o que se ‘ganha’ com isso? Angústia, o vazio que forma dentro daquele que atacou e tudo continua da mesma forma. Não temos o controle de tudo, apenas de algumas coisas da nossa própria vida, algumas coisas. Da morte, por exemplo, não temos.

Essa angústia gera conflitos consigo mesmo, vai sempre de encontro com aquilo que não se consegue mudar, é um monstro criado por você mesmo que briga constantemente com a sua insuficiência de querer mudar o que não lhe compete.

As relações humanas estão à beira da loucura, ou já se tornaram loucura? Todos os dias sabemos de notícias de absurdos que acontecem por intolerância, por desprezo e egoísmo. O egocentrismo prevalece de uma forma assustadora, sem ressentimento. Vale a pena viver para ser o melhor, o certo, o mais bonito, o mais inteligente, ou não deveríamos voltar a querer de fato viver o aqui e agora sem essa exposição toda e sermos de verdade quem somos?

Não esqueça que sua vida começa e termina um dia. Se não estiver disposto a enfrentar os altos e baixos, correr riscos e não aprender a lidar com os finais, então não vale a pena viver. Concentre-se mais em você, esquece os outros, temos prazo nessa passagem. Se perde tempo em querer brigar para vencer, vai acabar sem tempo para viver.

 Costela de Adão 

Já escrevi muitos textos sobre mulher, seus direitos e seu lugar nesse mundo machista, um mundo cada vez mais crescente. É incrível que isso ainda aconteça em pleno século XXI, ano 2023, que nem acreditávamos que existiria. Aprendemos que quando chegasse o novo milênio o mundo acabaria, não aconteceu e o machismo continua por aqui, triste realidade. O mundo não acabou, mas acabou o encanto, a simplicidade da vida que vivíamos – hoje, se não for pra mostrar aos quatro cantos, não tá valendo.

Como podemos ter alguém do sexo feminino à frente do mundo dominado por homens? Mulher ter opinião, posicionamento em discussões, liberdade, autonomia? Afinal, se nos contaram que fomos feitas pela costela de Adão é porque somos submissas aos homens, por isso eles mandam. Ah!! agora tá explicado. Não, não devemos obediência nem somos seres a servir um homem só por um pedaço de costela. O que é uma costela perto do que é uma mulher de corpo e alma? Tanto é que a responsabilidade de colocar um Ser no mundo foi dada à mulher e não ao homem.

Será que precisará de mais mil anos para que a mulher seja compreendida como um Ser livre em suas ações, com capacidade para ser e fazer o que quiser? Sem que haja machistas colocando lugares, restringindo e menosprezando só por ser mulher? Como ainda pode ter quem fale que a mulher passa dificuldade por não ter um marido, um companheiro, seja qual for a palavra usada, como pode isso?

A violência contra a mulher para ser considerada uma violência precisa ter morte, ficar desfigurada? A maldade contra a mulher não tem limites, e muitos por aí estão sossegados por não terem matado, ainda. Para os ignorantes é preciso explicar que violência não é apenas física, mas verbal, psicológica, cárcere, escravidão, todas são violências. Portanto, para quem acha que por não bater não está praticando um ato violento, fique atento, muita coisa acabou com a chegada do ano 2000, mas as mulheres ficaram mais atentas a quem são de fato.

Não podemos e não devemos aceitar insultos e desprezos. Grandes mulheres fizeram história de lutas e de conquistas, e vamos continuar mostrando que podemos mais do que nos é ofertado. O mundo não existiria se não fosse o homem e a mulher, por isso não existe o melhor. É preciso aprender a ouvir, podemos transformar, somar, dividir. Precisamos do olhar humano, do amor, do respeito daqueles que um dia chegaram ao mundo pela força de uma mulher.