Solitude e solidão

O que solitude tem a ver com solidão? Nada. São estados distintos de se sentir, enquanto um traz o vazio de estar sozinho, isolado, o outro é gostar da sua companhia, uma escolha, seu momento sozinho.

Tem quem não suporte estar sozinho, não gosta do barulho da própria mente, é como se não quisesse se auto entender. Realmente é difícil para o ser humano se encontrar com os problemas que o atordoam, mas também é a melhor forma de compreender e refletir.

Quando estamos sozinhos encaramos quem somos de verdade, o que pensamos e o que queremos da vida. Não é raro pegar alguém sozinho pensando em voz alta e até dançando sem problema algum, é estar longe do julgamento das pessoas, é ser livre.

Estar sozinho é encontrar-se consigo mesmo, descobrir os vários ‘Eus’ que existem em você, a pessoa a qual é de verdade. O direito a estar no silêncio, a ouvir uma música, meditar, simplesmente silenciar.

Já a solidão é triste, uma pessoa solitária está isolada da sociedade ou até mesmo da família, apesar de às vezes estar acompanhada, mas se sente só. Isso é a pior forma de sentir solidão. A tristeza traz sofrimento, o não pertencimento, podendo desenvolver distúrbios psíquicos como a depressão. A condição de sentir solidão não traz bem-estar psicológico.

É importante cuidar da saúde física e mental para ter uma qualidade de vida melhor, fazer o que gosta, o que traz prazer. Pode ser ouvir música, ler, caminhar. Seja o que for, desde que de alguma forma não se sinta só. Não deixe que sua condição mental afete sua saúde física. Sentir-se bem e em paz é o melhor remédio para salvar a sua vida.

Embora nasçamos sozinhos e morramos sozinhos, o meio tem que ser vivido com pessoas, tem que ter amor, afeto, tato, carinho, alegria e tudo mais que a vida oferece. Como diz a música de Lulu Santos: “Vamos viver tudo o que há pra viver”

A solitude é necessária, mas a solidão, não.

As emoções não são uma bobagem

Recentemente foi lançado um livro da bióloga brasileira Natália Pasternak e seu marido, o jornalista Carlos Orsi, intitulado ‘Que bobagem’, colocando em xeque a psicanálise como não ciência, ou pseudociência. O livro vem provocando revolta no mundo psicanalítico, sendo desqualificado quanto à sua eficácia.

Para quem não conhece o estudo feito por Freud, o precursor do funcionamento da mente, que aliás era neurologista, mas acabou se dedicando à pesquisa das neuroses, não pode se basear apenas em aspectos palpáveis, os quais se resolve com medicamento. É muito mais do que isso.

 Como diz Vera Ianconelli, psicanalista e doutora em psicologia pela USP, no seu brilhante artigo no jornal Folha de São Paulo: “A ética freudiana faz enorme falta entre nós.” “A maior façanha de Freud foi sustentar com sua genialidade, o desconcerto diante do não saber.” “O tema da cientificidade da psicanálise é antigo e fascinante, mas nem tudo está à altura dessa discussão.”

Para falar com veemência sobre um assunto o qual seu conhecimento não tenha sido estudado, mas elaborado em cima de pesquisas – as quais podem ser favoráveis ou não – ficará apontado apenas na sua opinião. Não que o casal não tenha capacidade, mas é baseada na área de cada um. Reforçando que tenho cursos paralelos sobre psicanálise e estudo muito sobre a terapia, mas meu interesse é sobre o comportamento do ser humano e suas causas. Escrevendo passo informações sobre o que aprendo e acho importante que mais pessoas saibam.

Os sentimentos estão ligados diretamente com a saúde mental, visto que depressão, ansiedade, TDAH e pânico, entre outras doenças relacionadas aos sentimentos, são controladas com medicamentos, mas com a necessidade de um acompanhamento psicológico. Tudo começa nos pensamentos, na dor, tristeza, medo, amor, e torna-se doença. Se todos cuidassem mais da saúde mental não haveria tanta doença.

Não dá para tirar um tumor desses sentimentos, mas dá para descobrir de onde veio, como começou. Traumas nascem dentro de nós e o único remédio poderia ser as atitudes que tomamos, os caminhos que seguimos, as coisas erradas que falamos e fazemos. Um dia isso tudo se torna um monstro dentro de nós, e precisamos de alguém que entenda e nos ouça para que isso possa ser compreendido, aceito e transformado.

As tarjas pretas controlam, relaxam, são necessárias em alguns casos, mas não curam, o que a psicanálise faz é encontrar a causa, não a cura.  É o seu entendimento, é saber lidar com isso sem prejuízo, e isso só é possível com terapia.

 Os problemas emocionais sempre existiram, mas eram tratados em manicômios com choques e medicamentos pesados, por vezes desnecessários, causando graves problemas. O mundo atual gerou muito mais transtornos, mentes estão perturbadas pelos impulsos do ter, pelo fracasso, pelas opiniões e pelas imposições em prol do próprio ego.  

Existem estudos sobre a eficácia da psicanálise, que se designa como ciência natural, ou seja, mecanismos naturais do inconsciente dos processos cerebrais, sendo da mesma natureza de outros processos psicológicos. Portanto, se tantas pessoas já se beneficiaram com o tratamento, a quem interessa desmistificar isso? Freud explica.

O futuro da geração 2000

Outro dia assisti a uma entrevista com crianças dos anos 1960 sobre como elas achavam que seria o ano 2000, e imaginaram desde computadores que dominariam o mundo, robôs, superpopulação e até o aquecimento global. A profecia foi feita com sucesso.

Agora poderíamos fazer o mesmo com as crianças dos anos 2000, ou seja, como elas acham que será o mundo daqui a 50 anos? Talvez um pouco previsível, já que a tecnologia não para de avançar.

É preocupante ver que robôs estão dominando o ser humano, e até que ponto isso pode ser positivo? O que será do futuro, se já estamos vivenciando o quase sedentarismo mental? Sem qualquer esforço, o ser humano será imprestável, já que um robô o está substituindo aos poucos em tudo, tomando conta.

Se conhecimento e cultura se adquirem lendo, escrevendo, estudando, como tudo isso será sem que haja interesse e disposição em aprender? Só será necessário dar comandos. Será que seremos servos dos robôs? O ser humano está sendo tragado por máquinas e nem percebe o tamanho do buraco.

Dizem até que os robôs vão se rebelar contra nós. Não acho que chegará a tanto, mas é fato que o humano, e modo geral, está se deixando dominar, ficando tudo mais fácil, sem muito trabalho. E se isso se tornar tão confortável ao ponto de não sermos mais capazes de agir sozinhos? Quanto pode ser destrutivo? Afinal, corremos o risco, inclusive, sobre o que podem fazer com nossa imagem, voz e até com nossa vida.

Essa nova geração de crianças já nasceu num mundo tecnológico, pois o primeiro contato com as telas começa muito cedo. É comum ver bebês que já ficam distraídos vendo imagens e joguinhos no celular ou tablet. O estrago começa mesmo antes do desenvolvimento cognitivo, e os equipamentos fatalmente serão os passatempos prediletos.

As telas invadiram as escolas, a princípio com um bom propósito, nas quais as crianças faziam pesquisas em sala especial, montada com computadores, mas aos poucos foi permitido o uso de tablets nas salas de aula para facilitar o processo. Mas por que isso seria importante no aprendizado, visto que já utilizam em casa na maior parte do tempo? Não sou contra a informatização das escolas e do processo de ensino apenas acho que as crianças já passam tempo demais em frente às telas, e as escolas colaboraram para que não se desconectem. Os livros didáticos e a escrita com as próprias mãos não podem deixar de existir, são ações que servem como estímulo ao cérebro e também à memorização do que se escreve. É assim que se aprende.

Na Suécia já voltaram ao processo dos livros didáticos e aboliram o uso de telas nas escolas. Isso porque, de acordo com pesquisas, os alunos suecos tiveram uma queda no aprendizado, que estaria relacionada ao fato de a tela tirar a concentração, enquanto em livros de papel é mais fácil a memorização. Esse exemplo deveria ser seguido, visto que as crianças e jovens brasileiros passam um tempo muito grande do dia focados nas telas.

Agora mesmo, aqui no Brasil, em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas disse que iria digitalizar as escolas em 100% em 2024, mas como a notícia não teve boa repercussão, ele voltou atrás e disse que irá encadernar esse material para quem assim preferir. Esse assunto é um tanto polêmico e não vou discutir, apenas quero chamar a atenção do que essa tecnologia desenfreada pode repercutir negativamente com o futuro dessa geração.

Nossas crianças não conheceram a infância de verdade, como foi com as gerações anteriores. Não existe mais programa infantil, músicas e nem mesmo desenhos compatíveis com a ingenuidade de uma criança. Não tem mais fantasia, o mundo real faz parte dos pequenos muito rápido, o excesso de informação acelerou a puberdade, e a melhor fase da vida acaba muito cedo.

Espero que tudo seja diferente, que essas crianças sejam adultos inteligentes e mais humanos do que temos hoje. Que possam mudar o mundo com a tecnologia que nasceu com eles e fazer um lugar melhor para se viver.

O sentido da música na vida

Quem me acompanha sabe o quanto amo a música brasileira, já fiz várias críticas em biografias de nossos artistas da MPB. Cantam nossa língua, a nossa cultura.

Nas biografias vi a dificuldade que encontraram e ultrapassaram para se consagrarem e serem reconhecidos como artistas. Nunca foi fácil, a trajetória também não. Fizeram história, alguns passaram por exílio numa época em que tudo era proibido, uma simples menção já era considerada uma afronta. Tudo mudou, muitos já partiram, outros estão se aposentando, mas conquistaram uma legião de fãs espalhados pelo país.

Esta semana Caetano Veloso completou 81 anos, está deixando os palcos, meu ídolo. Me apaixonei pela literatura quando estava na faculdade de letras, pois na aula de interpretação de texto tinha um professor muito descolado e culto que nos dava letras de músicas do Caetano, dificílimas de decifrar, mas de extrema cultura, um linguista brasileiro.

Assim como ele, Gilberto Gil, Milton Nascimento e nossa mais recente perda, Rita Lee, foram artistas revolucionários em uma época em que se arriscaram a fazer música no país, sofreram com a repressão, mas se consagraram, eternizaram músicas que são ouvidas até hoje. Lotam shows, emocionam, inspiram novos artistas, estão deixando um legado na cultura.

Música, para quem gosta, tem sentimento e te leva a um passado cheio de saudade, um presente que te mostra a vida leve e solta. Dançar, cantar, emocionar faz bem pra vida, faz a sua endorfina dar prazer, felicidade – aqui entram os momentos de felicidade, a alegria, gostar da vida como ela é. Nesse momento não tem rico nem pobre, nem poder, nem nada, existe você e seu sentimento, o viver a vida e só.

Sou de uma família totalmente musical, cresci em meio a festas de família com muita música e alegria. Meus pais se conheceram na Rádio Clube, minha mãe cantava e meu pai fazia parte de um conjunto de músicas de samba canção, tocava violão e cavaquinho, tocava não, toca ainda. Aos 86 anos, todos os dias, acompanha pela internet conjuntos de chorinho com seu violão, é uma alegria de viver! Minha mãe ainda se arrisca a cantar, e canta bem!

Meus tios também se conheceram na mesma rádio, ele tocava bateria e ela cantava (in memoriam) , nenhum deles seguiu a carreira, mas influenciaram toda a família, filhos e sobrinhos, e assim cresci e aprendi a gostar de música, de todo tipo.

Não há como se sentir triste ouvindo música, é bom esquecer um pouco as coisas ruins que acontecem lá fora, relaxar, sorrir e até chorar de emoção. Faz bem.

Abaixo deixo um trecho da música “GilGal do álbum Meu Coco” de Caetano Veloso.

“Ele me ensinou
O sentido do som
E eu quis ensinar
O sem som do sentido”

Quem é um anjo?

Você é um anjo? Temos anjos na nossa vida vez ou outra, mas são ocasiões, fatos isolados. Dizer que alguém é um anjo acho que não combina com nossa atual situação social mundial, pois temos mais maldosos do que anjos.

Todos nós podemos ser parcialmente bons e maus, dependendo da situação. Por mais que tente ser um, tem momentos que não dá, perder a paciência é humano. Por isso não acredito em falsos anjos falando com voz baixa, em compasso lento, quase chorando. Prefiro alguém que fale com consistência – isso não significa grosseria; falar de verdade.

Certo dia passei por uma pedinte na rua, sentada no chão com uma criança de colo, quando me pediu e não dei – quem anda com dinheiro na bolsa hoje em dia? Ela simplesmente blasfemou contra mim em voz alta, mas quando pediu a voz era baixinha, como de quem não tem mais forças.

Está difícil acreditar nas pessoas. Presenciamos fatos que até chegam a nos deixar mexidos e com dó, mas como nada fica escondido por muito tempo, a verdade sempre aparece e assim descobrimos a verdadeira face.

Os comportamentos estão cada vez mais evidentes, ninguém mais consegue enganar. Já vi muitas pessoas levarem embora tudo o que acreditei um dia, pessoas que vestiram máscaras, personagens que se dissiparam. O modus operandi da farsa está em risco, estão seguindo um padrão de comportamento aos quais muitos aderiram, mas também muitos já deixaram transparecer.

Hoje nos deparamos com a maioria dos jovens vivendo essa farsa, estão seguindo um caminho na vida ‘adulta’ em busca do material, sem rumo. Procuram chegar em algum lugar, mas não querem alcançar com os próprios pés. Daí o vitimismo é uma estratégia genial. Ninguém ensinou que o mundo lá fora não adianta chorar? Somos descartáveis.

Por isso não existe um anjo humano, poucos querem fazer o bem, apenas receber. Mas como, se ninguém quer dar? É melhor seguirmos nosso caminho contando com a gente mesmo, às vezes somos os nossos próprios anjos e às vezes também somos o nosso próprio azar.