Selva de pedra

Hoje (27 de julho) eu publicaria uma crônica diferente, sobre outro assunto, mas aqui em São Paulo aconteceu um fato muito chocante, e mais uma vez venho falar sobre o machismo abusivo que, nós mulheres, estamos enfrentando, e. mais que isso, ainda assim sendo julgadas.

Uma garota de seus vinte e poucos anos foi brutalmente agredida por um ‘homem’ que passeava com seu cachorro. Para infelicidade da garota, o pneu do carro que dirigia pegou no meio-fio e bateu na guia da calçada, assustando o cachorrinho. E este assistiu, ao lado de seu tutor, mansamente, a violência mais descabida a uma mulher. Em provável ofensa verbal, como mostra nas câmeras, a moça se aproxima e leva uma cabeçada, a qual quebrou seu nariz, passando por cirurgia, e afundamento da face. Apenas porque teria assustado o cachorrinho, que estava tranquilo ao lado do agressor.

Claro que ele está sumido, afinal, ele está certo. Ser macho com uma mulher é fácil, mas na hora de encarar a Justiça o machismo some. Infelizmente é o que temos hoje, homens achando que ser macho é ser violento, agredir psicologicamente e fisicamente uma mulher, mas assumir os erros e encarar os desafios que a vida traz, ah! isso não querem não.

Esse tipo de comportamento está gerando o fim das relações interpessoais, não há mais o respeito, a preocupação. Estamos numa selva de pedra habitada por muitos animais racionais que estão voltando a se comportar como animais irracionais, ganhando a batalha no ataque físico porque deixaram de pensar, pois o impulso é animal, nunca foi humano. As mulheres não podem mais ser alvo desses homens agressivos, a sociedade enlouqueceu.

Ainda tem quem defenda uma atitude dessa e julga a mulher, dando adjetivos sem saber o fato real, apenas suposições. Seja qual for a suposição, nada justifica a violência, e se para você justifica, então não há mais o que fazer. Se um dia disseram que o fim do mundo chegaria, acho que estamos perto do fim.

A tragédia da vida

“A vida é uma tragédia, não um drama”

(José Celso Martinez)

A melhor frase que ouvi nos últimos tempos para definir a vida. Passamos a vida em busca de alguma coisa que nos traga satisfação, acalento para a alma, mas frequentemente não acontece como planejamos, quase sempre somos surpreendidos com aquilo que não queremos. Qual seria o motivo para não acontecer como se imaginou? Porque não temos o controle de nada, não entendemos que temos um propósito para esta vida, e que certamente insistimos naquilo que não é para ser. Está dando tudo errado? Não, está dando tudo certo, talvez aquele sonho seria a pior coisa que poderia acontecer na sua vida.

Sabe aquela frase “remando contra a maré”?, é isso, não chega a lugar nenhum, depois acha que nada dá certo, só acontece com você; é um drama, quando na verdade demoramos a entender que o caminho é outro, talvez até chegue aonde deseja, mas antes precisa aprender algumas coisinhas, conviver com pessoas que não vai gostar, passar por situações que não estavam no seu programa de satisfação, mas é o que tem que ser.

A tragédia da vida está justamente nas frustrações que nós mesmos causamos, nas expectativas que colocamos nas coisas e nas pessoas e que não nos agradam. A tragédia é que são mais espinhos do que flores, muitas pedras no caminho para ultrapassar, uma batalha após a outra.

Nada volta da mesma forma que foi um dia, seja bom ou ruim sempre será um novo tempo, um novo lugar, uma nova situação. Entre o passado e o futuro viva o presente, é aqui que está se construindo o futuro, é agora que se prepara, não para o que vai chegar, mas como será o resultado do que está sendo feito hoje. O passado não volta mais, só é capaz de voltar na sua memória, deixe ir, não há mais como mudar.

Mesmo que nada tenha acontecido como queria, tenha a certeza de que aconteceu como deveria, e não adianta fugir e nem culpar ninguém, na sua vida quem rema é você, são suas escolhas que te definem, se você não mudar ou não quiser entender você será o único culpado da maré te desviar do seu caminho. Está certo que às vezes entramos no barco com alguém que nos levará para as pedras, e, mesmo assim, entrou no barco porque quis.  

Essa tal felicidade

 Palavrinha muito falada e pouco vivida. Por que todo mundo quer ser feliz? Você sabe a definição do que é felicidade? Vamos conversar sobre o assunto?

Ser feliz, estar feliz, fui feliz. Várias conjugações de ser, estar e ter sido. Mas na vida real, sem regra gramatical, o que esse sentimento significa? Olhe para sua própria vida e defina. Você se sente feliz em tempo integral, todos os dias? Se a resposta é não, você está certo, o conceito dessa palavra é feito por momentos felizes e outras séries de fatores que muita gente pode não concordar. Um exemplo disso é a  ética com a vida e o prazer nas pequenas coisas.

A grande maioria associa felicidade a poder, riqueza, fama, prazeres. Não é. Somos seres que precisamos mais do menos, se é que me entende. Uma pessoa que busca a fama sonha com o reconhecimento, ser amado, reverenciado, assim como na riqueza, quando se conquista tudo o que é material, luxo. E o que se precisa realmente para ser feliz?

Se você se desgastar com a busca incessante desses prazeres sem deixar tempo para seu descanso, para sua paz, adoecerá seu corpo, e você precisa que ele esteja saudável para viver. Já os prazeres momentâneos são inerentes a você. Dormir, comer, são necessários e naturais, é vida.

Acontece que, enquanto se busca a felicidade naquilo que não é necessário para sua vida, na verdade está tentando não sentir dor, mas a dor também é necessária e acaba. Ela vem, você aprende, sobrevive e ela vai embora. O medo faz com que se encontre prazeres, muitas vezes destrutivos.

Se somos seres livres, por qual motivo nos apegamos às coisas e pessoas achando que assim seremos felizes? Porque temos medo de admitir nossos erros, nossas escolhas.

Mas e se focarmos nas pequenas coisas, que nem são pequenas, mas aos olhos do ser humano passam desapercebidas grande parte dos dias? A natureza, a brisa, o sol, o pé na areia, uma flor, o mar, a serenidade de um rio, a água que se bebe, a comida que te alimenta. Mas o homem parou de dar importância para isso, colocando em evidência só os seus interesses, e hoje estamos convivendo com a revolta da natureza, nosso corpo está adoecendo mais pelo ecossistema errado, pela insensatez, pelo descaso com o que realmente importa. E todos querem a tal da felicidade.

Como ser feliz num mundo em que a busca pelo prazer é mais importante do que a saúde? O dinheiro e as coisas tomaram um lugar primordial na vida. Volto a falar da tecnologia que nos levou à loucura e ao sofrimento, a frustração do Ter, porque o Ser já nem faz falta mais.

Pessoas que se inflamam por não aceitar a opinião do outro, o pensamento entra em atrito com o sentimento e vira essa baderna que assistimos todos os dias. Matam, agridem sem prudência nenhuma. É necessário medir o que importa. Está se dando mais atenção ao que não importa, por isso a felicidade não chega e nem vai chegar.

Ser feliz não é ostentar, sorrir ou mostrar o que se tem, ser feliz é estar em paz com sua vida, é entender que o essencial é o que basta. Virtude, ética, razão e emoção andam juntas, nem muito nem pouco, tem que haver equilíbrio. A felicidade é muito menos do que temos e do que somos, é uma tentativa de fugir da dor. Não mude pelo mundo externo, pense e sinta na mesma sintonia, se não houver sinergia não haverá equilíbrio.

Se preocupe mais com suas escolhas, o seu tempo aqui tem prazo de validade. Você é a sua história, os seus sentimentos, o que vai deixar na lembrança de quem te conhece. Você nasceu pelado e vai embora sem corpo.

 

 

Da geração de 50 para 2000

O que mudou da geração dos anos 50 até hoje? Na década de 50 foi quando tudo começou a acontecer, principalmente no Brasil. A indústria automobilística se instalou por aqui, a economia do país começou a crescer, o desenvolvimento chegou, o Brasil não era mais um lugar à parte do mundo.

Surgiu a Bossa Nova, o ‘rock’ in rol, o chiclete, a brilhantina, o rabo de cavalo, as saias rodadas, a juventude começou a descobrir um novo mundo. A rebeldia estava presente, e a perspectiva de futuro era grande, muitos foram os jovens que brilharam em suas carreiras. O que diferenciava do nosso mundo de hoje era a educação que prevalecia no meio da sociedade, a hierarquia.

A partir daí, as próximas décadas viriam com mais transformações, na vida, no comportamento, nas conquistas e lutas pelos direitos. A política era relevante, a população era engajada, mas a repressão tomava lugar preponderante, e muita coisa aconteceu. Jovens foram torturados, exilados, a imprensa não tinha liberdade, o medo predominava. Os jovens dos anos 60 e 70 que sofreram com sua coragem na mudança do comportamento, no sexo, na paz e amor dos ‘hippies’ que transformariam uma geração.

Nos anos 80 foi a revolução no modo de vida, no crescimento econômico, as diretas já, que mudaram totalmente nossa história. Em 1985, o Brasil se libertou e nossa sociedade passou da ditadura (regime militar) à democracia. Foi um período histórico, que tenho orgulho de ter vivido, hoje estudado e processo importante do nosso país.

A discoteca, as músicas inesquecíveis daquela época, a moda de lurex, calça boca de sino, os cabelos femininos, como Farrah Fawcett, o ‘glamour’, a vida de verdade sem ostentação, simplesmente com vontade de viver intensamente, estudando, trabalhando e tendo em vista um futuro num país que tinha tudo para chegar ao topo do primeiro mundo, com seu povo alegre e acolhedor. Mas a partir do fim dos anos 90 as mudanças, ainda mais radicais, nos inseriram em um novo século, que mudaria tudo o que não imaginávamos; então, o que aconteceu depois do ano 2000?

Parece que tudo virou de cabeça para baixo, ainda que nos sintamos transformados com a chegada da ‘internet’, do celular e da aposentadoria da velha e boa máquina de escrever, foi bom. Tudo começou a mudar rápido, as transformações não pararam de chegar, nem tínhamos nos acostumados com uma coisa e já vinha outra. Isso começou deixar as pessoas ansiosas, com sede de informação, e com pressa de tudo. De um ICQ e MSN só no computador passamos para um ‘smartphone’ que faz tudo. Filma, grava, manda mensagem, liga, recebe ligação, faz foto de todo tipo, fala e, ao que parece, fotografa seu cérebro também.

Imagina você lendo uma propaganda e de repente começa a aparecer em tudo o que você abre no celular! Daí você pensa. Como sabe que eu quero ver isso? Pois é, essa tal tecnologia sabe tudo mesmo, até o que você pensa. Dia desses assisti a um vídeo que falava sobre isso, fiquei assustada ao saber que esse pequeno aparelho que carregamos nossa vida dentro pode ser o maior traidor, mas no qual confiamos. Será que isso é bom? Eu acredito que não, quero ter liberdade e privacidade nos meus pensamentos, não quero que um computador tenha domínio sobre mim nem que destrua vidas por tanta facilidade.

Existem meios para tudo, te rastreiam e podem te colocar em situações bastante complicadas com toda essa modernidade, que, ao mesmo tempo que é bom, não é. Um assunto bastante difícil de falar, afinal muita gente gosta de tudo isso e não imagina como é viver sem. Mas, assim como eu, muita gente sabe como era receber um telegrama, uma carta de um amigo distante, ligar do orelhão e acabar a ficha no meio da ligação, levar convite de casamento na casa dos convidados e servir picles espetado no melão envolto com papel alumínio.

 É, era simples, diferente, mas a gente era mais feliz. As fotos que a gente tirava só ia ver depois que revelava, algumas queimavam, outras saíam sem cabeça, e estava tudo bem, porque o sorriso na foto era por pura felicidade e não para provar uma felicidade que não existe.  A discoteca era um lugar para dançar, se divertir e poder dançar aquela música lenta com seu crush, palavra que nem existia naquela época. Aliás, existia sim, mas era marca de refrigerante. Os amigos eram de verdade, a vida era mais simples, o amor era de verdade, a comida não era gourmet, ninguém tinha vergonha de gostar de pão com mortadela. A gente era feliz. E você, é ou ainda é feliz?