Chorão

O livro ‘Se não eu, quem vai fazer você feliz?’ de fato é uma história de amor. O leitor não vai encontrar a vida do Chorão desde pequeno, seus dramas de família ou percalços da adolescência até a vida adulta. É uma história de duas pessoas que tiveram aquele encontro ‘casual’ na hora certa.  

A história discorre de quando e como se conheceram, todas as fases que passaram juntos em quase vinte anos de convivência e muito amor. As conquistas profissionais e pessoais, fatos engraçados e dramáticos, mas principalmente a pessoa atrás daquela imagem, um homem sensível, focado no trabalho e com muito amor no coração. 

Sofreu muito com a morte do pai, também com as brigas na banda, as críticas que recebia dos fãs, os problemas que surgiram com o sucesso. Tudo isso levou o ídolo que fazia a plateia interagir com ele como nenhum outro a sair de cena precocemente. Isolado, sem que ninguém pudesse fazer nada. Nunca mais voltou aos palcos. 

Uma história gostosa de ler, que conta fatos muito particulares da vida de Chorão e Graziela, uma trajetória feliz, mas com desfecho trágico. Leitura rápida e de fácil entendimento, que, com certeza, vai levar os fãs mais sentidos com sua morte a entender melhor como foi a verdadeira história.  

Resenha

Um rapaz bonito que chamava a atenção por onde passava, usava um skate nos pés e um jeito marrento de ser, mas só quem o conhecia sabia que aquilo era só um escape para o rapaz mais tímido e amoroso que existia atrás daquela aparência. Um poeta, um homem apaixonado, que de tanto amar preferiu sair de cena antes para não deixar o seu amor ficar infeliz ao seu lado. Um ato de amor. 

Conheceram-se em 1994. A primeira troca de olhares foi no calçadão de Santos, daí por diante o ‘acaso’ não parou mais, até que se encontraram numa balada da cidade. Sem saber que era ele, Graziela avistou de longe um rapaz com uma mecha de cabelo vermelho fluorescente. Decidida, foi até ele para falar exatamente sobre esse detalhe; quando ele se virou, viu que era o Chorão. Logo depois disso passaram a se encontrar, até que começou o namoro, da forma mais tradicional, o pedido oficial. Daí surgiu a música ‘Proibida pra mim’. A banda explodiu em 1996, com uma demo entregue a Tadeu Patola que chegou às mãos de Rick Bonadio, e assim o Brasil conheceu ‘Charlie Brown Jr’. 

O amor desse casal foi algo difícil de imaginar que possa existir, com cumplicidade, respeito, parceria e muito amor envolvido. Conheceram-se quando ele ainda não era nada, passaram dificuldades juntos, caíram várias vezes, mas nunca desistiram nem do amor nem do sonho. Ele tinha um propósito na vida, dar uma casa para a família. Conseguiu muito mais do que isso, conquistou o que nunca imaginou que fosse capaz de conseguir, ao lado daquela que esteve junto em todos os momentos, e isso pode ter sido o pilar que sustentou sua vida por mais tempo. 

A banda ‘Charlie Brown Jr’ passou por duas fases difíceis; a primeira foi desmontada pela saída de todos os integrantes, o que deixou Chorão arrasado. Na segunda, não só teve problema com a saída de Pinguim, também como um processo que tirou a paz de Chorão, mas também com os inúmeros compromissos burocráticos e shows, que só cresciam. 

Não havia nada errado com a banda na época de sua morte, mas havia muita coisa errada com Chorão. Não conseguia se livrar das drogas, não se sentia mais feliz com aquilo tudo; procurava algo para fazer sentido em sua vida. Como forma de não levar seu grande amor para baixo com ele, saiu de casa alguns meses antes da sua morte. Dizia que ia voltar, mas o seu estado não permitia que voltasse. Foram inúmeras as vezes em que Graziela tentou tirá-lo daquela situação. Ele até concordou com um primeiro tratamento para se livrar da dependência química, mas não prosseguiu. 

Foi então que, em 6 de março de 2013, o Brasil perdeu mais um ídolo do rock nacional, mais um poeta, mais uma banda que poderia estar aí com suas letras sensíveis, algumas nem tanto, mas feitas através do coração que batia naquele peito que transbordava amor.  

Não encontrei uma pessoa rude e pesada nas páginas desse livro. Conheci um Chorão que não se via nos palcos, aquele jeito despojado de ser parecia ser a sua melhor versão, mas não era, a sua melhor versão era o Alexandre, o homem, o marido, a pessoa atrás dos bastidores, e esse quase ninguém conheceu. 

Tem uma fala de Graziela no final do livro que diz: “Atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher”, mas para ela “esse ditado nos deixa, como mulheres, numa posição coadjuvante. Não há um real reconhecimento de que a “grande mulher” também trabalhou, lutou e sofreu, não participou apenas da colheita e das alegrias”. 

 Eu digo: Ao ‘lado’ de um grande homem existe uma grande mulher. 

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Renato Russo

Vinte e quatro anos sem o ícone da música brasileira, Rento Russo. 

Uma obra completa da vida e trajetória do vocalista da Legião Urbana, o maior ídolo do rock brasileiro. O autor conta em detalhes sobre a política brasileira desde a idealização do presidente da República, Jucelino Kubichek, em construir a capital do Brasil à concretização de Brasília em 1960, com destaque em 1964, quando houve o golpe militar que instituiu a ditadura no Brasil, quando o então presidente João Goulart foi deposto do cargo e assumiu o general Humberto de Alencar Castelo Branco até o fim da ditadura no País. Mais de vinte anos contados em detalhes, passagens assustadoras daquela época. Um livro para quem viveu esses anos e para quem só sabe pela história.  

Renato Manfredini Junior nasceu em 27 de março de 1960, no Rio de Janeiro.  De família de classe média alta, Renato teve toda estrutura cultural necessária para se transformar em um dos artistas mais inteligentes da música brasileira. Na infância, morou dois anos com a família em Nova York, onde adquiriu um inglês fluente e que mais tarde, já no Brasil, estudou na Cultura Inglesa para não perder a fluência do idioma.  

Aos treze anos foi morar em Brasília, onde fez muitos amigos, muitos deles se tornariam também ídolos da música. O livro mostra passo a passo todo o seu desenvolvimento, a escola, a faculdade, trabalho e a música. À época, muitos artistas foram morar na cidade com os pais, que tinham cargos em bancos, militares e diplomatas. No caso de Renato Russo, seu pai era assessor da presidência do Banco do Brasil. Na cidade ainda havia Herbert Viana, com o pai piloto da Presidência, e Dinho Ouro Preto, de pai diplomata. Todos se conheceram em Brasília. 

O autor faz uma esplanada em vários artistas que estiveram na cidade para fazer shows, muitos nomes surgem no decorrer desta história. As grandes bandas de rock dos anos 80 saíram de Brasília, em meio a uma política conturbada, mas os jovens não se intimidavam e saíam às ruas para protestar. Essa é uma situação recorrente durante todo o livro, pois o autor vai e volta em datas para um maior entendimento dos fatos decorridos. 

Renato Russo foi, sem dúvida, um filho da revolução, como diz o próprio nome do livro, não só por ter crescido e vivido a ditadura, mas também por não tolerar e não se calar diante de tudo que não aceitava. Por muitas vezes se envolveu em situações complicadas e até foi preso. Mas nada disso o fazia se calar, suas músicas são prova disso.  

Muitas delas foram censuradas, trocavam palavras ou até mesmo proibiam, mas a sua expressão estava lá, falava versos de indignação e os fãs repetiam com firmeza, como por exemplo: “Que país é esse”? e “Será”. Certa vez disse que não queria cantar essa música a vida toda, pois acreditava que um dia iria passar. Será? 

As fases da sua adolescência mostram sua transformação. Um fato marcante foi a doença descoberta aos 15 anos, epifisiólise – desgaste da cartilagem do fêmur. Isso o levou a passar mais de um ano sem poder se movimentar, época em que escreveu e leu muito. Aos dezessete anos mostra a transformação do garoto certinho, que trocou a camisa social pelas camisetas, adotou calças rasgadas e tornou-se um punk. Depois formaria a sua primeira banda, em 1978, com os amigos Fê Lemos e André Pretorius, a Aborto Elétrico.  

Em 1982, depois de ter deixado a banda e tocado voz e violão como, Trovador Solitário, Renato Russo formou a banda que mudaria sua vida, a Legião Urbana, juntamente com Dado Vila Lobos e Marcelo Bonfá; posteriormente entraria Renato Rocha.  

Foram muitas as histórias até chegar à sua morte, em 11 de outubro de 1996, aos 36 anos, no Rio de Janeiro, acometido pela Aids. Triste ver o fim de um ídolo de uma geração, de uma inteligência espetacular, um artista que interagia com seu público como nenhum outro; embora com temperamento difícil, mas que contagiava por onde passava. Deixou uma legião de fãs, que se multiplicam até hoje. Suas músicas são imortais, sua história continua mais viva do que nunca. Todo fã deveria ler “Renato Russo o Filho da Revolução”, para entender o porquê se posicionava com ênfase em tudo o que não aceitava, seus questionamentos, sua personalidade marcante. Vale muito a pena ler. Um livro rico na história política e da geração do nosso país, entre os anos 1960 e 1980. Contada lado a lado a construção da história do maior e legendário artista dessa geração, que mesmo após vinte e quatro anos da sua morte continua vivo e atual em suas canções.  

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade não há” 

Renato Russo 

Resenha

Nascido no Rio de janeiro em 27 de março de 1960 no Bairro do Humaitá ganhou o mesmo nome do pai, Renato Manfredini Junior. Pai bancário, tinha cargo de destaque como assessor da Presidência do Banco. Banco do Brasil e mãe dona de casa. Moravam no Alto da Boa Vista, viviam bem. 

Sua mãe nutria o desejo de morar em Brasília, recente inaugurada. Em visita ao primo dela que morava na cidade, Carminha queria criar os filhos lá, Renato tem uma irmã mais nova, Carmem Tereza. 

Seu pai achou que logo que a cidade fosse inaugurada, pela sua qualificação seria tranquilamente transferido, mas não deu certo. A família passou dois anos morando nos Estado Unidos para estudos do pai Renato. Mais uma vez na volta quando tudo parecia estar certo quando outro funcionário conseguiu a transferência. Somente em 1972 a transferência se concretizou 

Renato sempre foi ótimo aluno, escrevia muito bem e gostava de ler. A música fez parte da sua vida desde muito pequeno que junto de seu pai ouvia música clássica ou música norte americana. 

Aos oito anos na temporada de Nova York foi matriculado numa escola pública e impressionou a professora quando precisou listar os livros que já havia lido, relacionou mais de trinta. A professora chamou a mãe e disse que ele não havia entendido a lição, mas Carminha disse que tinha entendido sim, tinha lido todos. 

Quando foram morar em Brasília eram bloco de apartamentos destinados a funcionários dos bancos, a família estava no bloco do Banco do Brasil, assim como todos os moradores. Lá Renato fez amigos como Claudia Valença, também do Rio de Janeiro, Inês Serra e Luiz Gustavo. Estudou inglês sempre, a família questão do idioma. Era rodeado de cultura, seu pai sempre o levava em concertos de música erudita no Teatro Nacional, apresentações de orquestra internacionais, garantia ao filho acesso ao conhecimento. Enciclopédias, livros de referência, clássicos da literatura universal. 

Estudou no colégio Marista em Brasília, em sua classe havia filhos de advogados, médicos, engenheiros civis, bancários entre outros. Os filhos de militares eram identificados apenas com FP (Funcionário público). 

O amigo Luís Gustavo Valença levou Renato com 14 anos para colaborar no Jornal Diário de Brasília, escrevendo reportagens e artigos para o suplemento infantil, com supervisão de jornalistas profissionais. Recebiam por semana pautas e prazos para a entrega dos textos. Havia também prêmio para o melhor trabalho do mês. 

Assim como Renato, Gustavo tbm gostava de música e iam no apartamento da família cantar e imitar artistas americanos. Renato mostrava os discos trazidos de NY. 

Em 6 de outubro de 1975 foi descoberto uma epifisiólise, um desgaste da cartilagem, o fêmur se solta. Renato, precisou ser operado às pressas. Colocou 3 pinos na perna direita, mas sua recuperação foi de muito sofrimento, as dores não passavam, até que seus pais decidiram procurar a opinião de outro médico e foi assustadora. Os pinos tinham se soltado e precisou passar por uma nova cirurgia. Quando se recuperou havia crescido. Mas o problema deixou sequelas, quem o conhecia via que ele mancava. 

Foram muitos os músicos dos anos 80 que moraram em Brasília, cada um deles tinha o pai com função no governo ou em bancos. Haviam muitos jovens por lá e moravam em quadras destinadas a função do pai. Renato conheceu um rapaz, Luiz Gustavo muito popular na redondeza que contou para ele que um colega do Colégio Dom Bosco tinha ganhado uma guitarra Gibson do pai que acabara de chegar dos Estados Unidos, o pai desse amigo era piloto do Geisel. Assim Renato quis ver a guitarra de perto e pediu para que o levasse até lá, esse amigo era Herbert Viana, que morava na quadra destinada a graduados da aeronáutica, caso do pai de Herbert Viana que era responsável pela segurança do espaço aéreo do Presidente da República.  

Aos 17 anos Renato a partir de uma matéria publicada no Correio Brasiliense sobre os Punks, fica interessado. Fica sabendo da vinda da banda Pistols para o Brasil, muda totalmente sua aparência sempre muito séria passa a usar calça jeans rasgada, camiseta branca e acessórios como botas coturno. 

Renato entra na faculdade de jornalismo na CEUB, já que seu sonho era ser escritor e cineasta, sonhava em receber a estatueta de melhor roteirista. Continuava com o curso da cultura inglesa. 

Em 78 havia agentes infiltrados na faculdade e no curso de jornalismo havia um, tão despreparado que perceberam quem era 

 “Urbana Legio Omnia Vincit” ou “Legião Urbana Vence Tudo”, até mesmo a cinebiografia de seu ídolo mestre. 

Junto com o amigo Alex de Seabra querendo fazer uma banda lembram de Fê lemos que Renato conhecer na Cultura Inglesa que era baterista, e Petroius amigo da escola Americana. Quando falam com Fê sobre a banda topa na hora, assim nasce o “Aborto elétrico”. Começam a tocar na Colina com André Petroius, Renato Manfredini e Felipe Lemos. Em 79 Renato opta por usar o nome fictício de Érico Russo, nome traduzido para o português da sua primeira banda imaginária. 

Renato era irônico e não deixava passar nada. Na sala de aula da faculdade retrucava com a opinião dos mestres. Na mesa do bar “Chorão” discutiam sobre os rumos do Brasil, em outras escrevia poesias em guardanapos, entre uma cerveja e outra. 

FRASE DE RENATO 

“Considero-me a voz da geração Coca-Cola, que são os filhos da revolução. Sou um filho perfeito da revolução, por isso minha poesia não reflete nada” 

Flávio irmão de Fê entra na banda também. Todas as músicas do aborto elétrico são escritas por Renato Russo com punho social e político. 

Nesta fase se torno agressivo com a família, muda totalmente seu jeito de ser e se vestir, para a preocupação da mãe. 

Dinho Ouro Preto e Dado Villa Lobos tornam-se amigos de escola em Brasília. Dinho começou a ouvir um barulho estridente que vinha de longe, desceu e foi a pé até chegar no local. Quando viu era uma banda que tocava na calçada, daí viu que eram da quadra próxima a sua casa. O Aborto elétrico ao ver o grupo de filhos de diplomata se assusta com a presença, acabam de ganhar mais fãs 

Renato da aula de inglês na cultura inglesa, onde estudou desde que chegou a Brasília. Era o professor roqueiro muito querido pelos alunos. Um dia em conversa informal com a secretária da Cultura, Renato entregou uma fita cassete gravada com um ensaio do Aborto elétrico, e dispara: “guarda com você porque um dia vou ser famoso” 

Um show aberto pela Universidade de Brasília, Renato anuncia a banda Aborto elétrico, o povo havia vaiado outras bandas antes deles. Depois de cantar “Que país é esse” e “Fátima”, teve poucos aplausos. O som já não estava bom. Renato se enfurece com o público e grita. “Vocês não entendem nada, nem faz força pra entender” o público começa a vaiar. Renato rebate: “Vocês não estão preparados para esse som” as vaias aumentam e o show acaba. 

Renato trabalhou no Jornal da feira, vinculado à coordenadoria de comunicação do Ministério da Agricultura indicado pela amiga Leo Coimbra, fez teste como todos os outros e passou. Destaca-se na profissão como novato, é observador, objetivo e faz suas entradas ao vivo pelo orelhão. 

Nas férias os irmãos Fê e Flávio foram viajar, quando voltaram Renato foi à procura deles e anunciou que não queria mais tocar no Aborto Elétrico. Os irmãos decidem manter a banda com Ico Ouro Preto irmão de Dinho. A banda marca um show no Centro Olímpico da UnB (Universidade de Brasília), mas Ico com medo de subir ao palco desaparece. Pouco antes de começar o show Fê avista Renato na plateia e chama o amigo para tocar, Renato com sorriso irônico aceita e toca. Foi um sucesso, a banda nunca tinha contagiado tanto, mas Renato disse que a banda acabaria ali. Renato passa a tocar seu violão de doze cordas e cantar sozinho, “O trovador solitário”, como ele mesmo se denominava. Não agradava muito, mas continuou. 

“A música Eduardo e Mônica se inspirou num casal amigo que conversavam muito sobre história antiga e músicas da coleção do Eric Clapton”. 

Renato estava insatisfeito com o “Solitário trovador” e começa a escrever no papel a versão em inglês e francês da sua próxima banda, até chegar em “A Legião Urbana”. Até que faz um convite aos amigos: – Vamos montar a Legião? E assim começou com Marcelo Bonfá na bateria, Renato no baixo e Paraná na guitarra e paulista no teclado. Foram tocar em Pato de minas no festival do Rock. A banda assistida por policiais fardados é mau vista, mas seguem em frente. Logo depois sobe Plebe Rude com a música “votem em branco”. Assim que acaba o show os policiais perguntam à banda da Plebe Rude: Vocês são a banda de Brasília? Sim, vão todos para o posto policial montado. Legião Urbana e Plebe Rude tem que provar que são de Brasília, Renato se exalta reclamando da liberdade de expressão, mas os policiais não dão bola. São liberados mas com uma condição, tem que ir para a rodoviária e voltar no primeiro ônibus. 

Após o incidente, os shows passaram a ser nas redondezas de Brasília. Renato ficou sabendo que a banda Blits tocaria na cidade, ligou para para um colega do jornal da feira que estava produzindo o show e pediu para a Legião Urbana abrir o show, foi atendido. 

Hermano Viana irmão de Herbert Viana, é jornalista da Revista “Pipoca moderna”, assiste a um ensaio da Legião Urbana e entrevista Renato Russo e publica a matéria com o título “Ai de ti Brasília”, dando referência às bandas recém saídas da capital brasileira. Assim a banda em 1983 toca no Circo Voador. Começam uma ponte entre Rio/São Paulo 

Renato defendia o punk no Brasil e fez um comentário: 

“O punk apareceu no Brasil por falta de opção de músicas para jovens. O lance antes da abertura política, era o jovem escolher a lavagem cerebral: a MPB ou a discotheque”. 

São contratados pela EMI não costumavam lançar bandas de Rock, quiseram mudar a sonoridade da banda, mas não foi aceita pelos seus integrantes. Muitos contratempos com a gravadora, tensão e frustração, resolvem voltar para Brasília. Renato passa dias infelizes, brigas com a família, até que um dia sobe para o quarto e corta os pulsos. Socorrido à tempo pelos pais é levado ao hospital. Sem conseguir tocar tem um show marcado e pede para Renato Rocha tocar o baixo, ele aceita. Até que chega o produtor de som Amaro Moço 

Consegue fazer o som que a banda quer. No primeiro mês do lançamento do primeiro disco da legião foram vendidas 1,200 cópias, era janeiro de 1985 e o Rock in Rio começava, com bandas nacionais e internacionais de peso, a legião ficou fora para a revolta de seus integrantes. Depois das rádios tocarem a música “Será” a vendagem do disco ultrapassa cinco mil cópias. 

Renato depois de doze anos morando em Brasília muda novamente para o Rio, fica próximo da família. Renato não ficava quieto com brigas durante os shows, mandava parar, se irritava. Aproveitava para fazer discursos e colocar sua opinião, como este no dia seguinte à morte do ex presidente Médice. 

“Muitas vezes eu penso que só morre gente boa, gente que faz bem ao mundo. No entanto, a morte de um ditador me conforta, e, creio, conforta todas as pessoas que sonham com um Brasil livre e bonito. Então, vamos fazer deste show a celebração da morte de mais um facista”. 

Em abril de 1987, no auge da carreira com mais de 1 milhão de cópias vendidas entre os dois discos, Renato diz que quer parar, precisa se tratar, reconhece que o sucesso escapou de seu controle. Estava envolvido com cocaína e desejava parar. “Tudo o que é excesso não presta. Excesso de discos vendidos ou excesso de talentos, que não é meu caso”. 

Em 1988 a banda Legião Urbana volta a se apresentar em Brasília, desta vez no estádio Mané Garrincha. Renato queria o estádio embrulhado para presente, dizia que seria o show da sua vida. Neste dia a cidade estava tumultuada, integrantes do PCdoB circulavam com faixas pedindo a saída de José Sarney e do Governador de Brasília à época, José Aparecido de Oliveira, o clima estava quente. 

Quando saíram do hotel para o estádio haviam muitos ônibus sendo apedrejados, uma verdadeira confusão. A banda teve que atrasar a entrada devida a confusão que se formou no estádio, pessoas pulam alambrado. Quando começaram Renato, como de costume começou a conversar com a plateia e começou a contar uma fábula.  

“Narra a história de três anjinhos designados por Deus para proteger três países diferentes. Um fica sabendo que vai para o México, o segundo para a Tchecoslováquia. O terceiro anjinho, depois de receber um cartão com o seu destino, se encolhe num canto, chorando. Ao ser perguntado sobre o país para o qual seria enviado, grita, desesperado: “Pro Brasil, não! Pro Brasil, não”!. 

Que país é esse? Que país é esse? Renato emenda o refrão com a terceira estrofe: 

“Terceiro mundo se for piada”, a plateia delira. 

Renato era ácido, provocativo. Fez algumas brincadeiras com a plateia, mas teve uma que não foi tolerada, imita de forma grotesca um portador de deficiência mental. Nesse momento sobe ao palco um homem que se irritou com a brincadeira e dá uma gravata em Renato Russo. Com dificuldade de se livrar do agressor dá golpes com o microfone. Os seguranças correm para o palco e conseguem tirar o agressor. Era visível que estava assustado. 

Como não era de fugir de suas atitudes, pouco depois do incidente, já enfurecido, comente: 

“Eu disse que essa cidade era estranha” e canta o refrão mais famoso da história do rock “Conexão amazônica”. 

Em outro momento do show Renato começa uma confusão na plateia com a polícia. Para com o show e se aproxima da confusão e dispara:  

“Para, agora! Solta ele! Tu leva o microfone na cabeça, não tem que dar porrada não! Que história é essa de mão na cara”?! e ainda emenda  

-E cidade babaca…” 

A plateia começa arremessar bombinha de São João no placo, Renato não perdoa e chama os seguranças, diz que da próxima vez vai embora. Por conta disso resolve punir o público, anunciou que ia pular três músicas, o povo começou a xingar a banda. Renato fala mais, agride verbalmente e de forma agressiva quem estava jogando as bombinhas. Visivelmente nervoso afinou o violão e começou a tocar “Faroeste caboclo”, canta também “Será”, mas cinquenta e oito minutos depois de começar o show a banda sai do palco. O publicou esperou a volta da banda, mas não voltaram. A plateia indignada começa a destruir tudo, quebradeira e até fogo. Do lado de fora apedrejam o ônibus, muitas pessoas feridas. A banda chega ao hotel, Renato usa cocaína e fica mais agitado. Renato decide ir para a casa da família no meio da noite. Descobrem que está lá e o telefone não para de tocar a noite toda e na frente do prédio repetiam. “Legião não voltem mais”. Renato precisou sair pela porta dos fundos para ir ao aeroporto com segurança para o Rio de janeiro, e Brasília está a procura dos culpados. 

Em abril de 1993, Renato decide se internar depois de muitas brigas com a banda, Dado em uma turnê pelo Nordeste deu por encerrada, cancelaram todas as datas agendadas. Nesta fase Renato começa a escrever muito, escreve de Junior para Renato indagando a personalidade. Em 1996 numa entrevista para Jô Soares fala sobre sua recuperação nas drogas: 

“-Eu estava seguindo o caminho do Kurt Cobain, aquele rapaz do Nirvana. Muito depressão…”  

Passou por fases na música em Inglês e Italiano, na última foi para a Itália aprender o idioma, não foi fácil, mas realizou a vontade de gravar na língua de origem de sua família, os Manfredini. 

Suas idas a Brasília são raras, vai mais para ver o filho Giuliano que foi morar com os avós em Brasília. Renato pouco falava do filho, disse apenas que tinha sido um acidente, um belíssimo acidente que mudou a sua vida, mas são poucas as informações em torno do seu filho. 

Em 1989 Renato se apaixona por um americano e moraram juntos por um tempo, mas logo a relação acabou e Scott começou a se relacionar com mulheres Renato ficou depressivo e entrou na heroína. 

Depois da separação Renato entra em depressão e não quer mais aparição pública e precisa de medicação. Ainda tem boatos de que está com aids, mas ele só confirma para os amigos mais próximos. 

Pouco antes de finalizar as faixas do último disco sua irmã, Carmem Tereza liga para o irmão e percebe que não está bem e tenta estimular para o futuro, ele não queria mais continuar na música, mas pensava nos outros integrantes Sugere que volte a dar aula de inglês ou realizar um sonho antigo de fazer cinema. Pensa inclusiva em levar para as telas suas músicas, “Faroeste caboclo e Eduardo e Mônica” (Faroeste caboclo foi lançado em 2013 e Eduardo e Mônica em 8 de março de 2020). 

8 de outubro, o empresário da Legião, Rafael Borges chama Dado para irem visitar Renato. Ao chegarem no apartamento o pai de Renato quem abre a porta, levam um susto ao verem o amigo na cama extremamente magro, Dado vai ao banheiro e chora. pergunta ao médico o que pode ser feito, o médico a resposta é clara:  

-Não tem jeito 

Renato vira para o amigo e se despede com um tchau. 

Sua mãe estava cuidando do neto em Brasília enquanto o pai estava no rio ao lado do filho. No dia 9 de outubro o coração de mãe amanhece apertado queria antecipar sua ida para o Rio de janeiro que estava marcada para dia 11, mas seu marido disse que não precisava porque ele estava bem. 

No dia 11 de outubro pouco antes das 2h da manhã toca o telefone, Carminha atende o telefone, seu marido com voz calma avisa: 

-Carminha, o júnior acabou de falecer. 

Em um acesso de fúria e chorando muito grita que ele não podia ter feito isso com ela, devia estar do lado dele, ela o colocou no mundo e deveria estar nessa hora também. Pega o primeiro voo e vai para o Rio de janeiro. 

A notícia da morte de Renato Russo corre por todo país. Ao final da cremação do corpo do cantor a mãe da uma declaração: 

“ 

-Ele quis chegar ao fim. Ele não se suicidou, mas simplesmente não lutou. Ele quis chegar ao fim porque ele me disse: “Mãe, o meu lugar não é aqui, eu  

quero ir embora, eu quero ir para um lugar melhor.” 

Em 22 de outubro Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá voltam a EMI. Em entrevista coletiva comunicam que a Legião não existe mais. Dado lembra que os três tinham decidido que, caso algum deles deixasse a banda, o que fosse feito por qualquer um dos três não levaria o nome Legião Urbana. Conclui: 

-Renato partiu, automaticamente, o grupo não existe mais. E não faria o menor sentido continuar a existir. Renato é insubstituível. 

O álbum duetos, gravado Renato e outros cantores teve uma faixa curiosa com Marisa Monte, Celeste. Ela aceitou a participar quando foi lançado em 2010, mas não queria entrar em estúdio sozinha, achou que ficaria estranho ele não estar. Lembrou que tinha uma fita no seu acervo pessoal, havia um registro da música em que cantava com Renato no intervalo de uma sessão de gravação de “The Stonewall, em dezembro de 1993 e entregou a Carlos Trilha. Foi um trabalho difícil, mas é feito o dueto com as duas vozes, e Marisa Monte canta o verso que mais gostava junto com a voz de Renato. Quem ouve esta faixa no volume alto consegue ouvir que depois que acaba a música Renato diz: 

-Acabou?! 

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Cazuza

Cazuza

Sua vida foi rápida e intensa, fez tudo o que queria fazer, viveu tudo o que tinha para viver, parece que sabia que seria curta sua passagem, curta mas brilhante, deixou sua história, suas poesias; embora não se considerasse um poeta e sim um letrista, um sábio da geração dos anos 80, falava o que pensava, se defendia, escandalizava, mas sobretudo, vivia!  

Seus pais foram o esteio da sua vida louca, teve uma família que acima de tudo o amava, não desistiram dele nem um minuto. Chegou ao topo do sucesso, respirava vida, liberdade e alegria de viver, lutou até o fim, até onde conseguiu fazer o que mais amava, cantar e compor. 

Nos deixou sua obra, sua inteligência musical, seu olhar para a vida. Hoje sua mãe ajuda crianças e adolescentes com soro positivo na Sociedade Viva Cazuza, fundada por ela. A ajuda vem dos direitos autorias dele, doações, leilões, shows e eventos que promovem. Foi uma forma que encontrou para se manter viva, ajudar outras pessoas a lutarem por essa doença tão cruel, que mata aos poucos, até as últimas forças. Cazuza não morreu, ainda vive com sua história.  

 

Um livro para os fãs que fazem Cazuza vivo. Numa história contada pela sua mãe desde o seu nascimento, ela abre o coração e fala sobre as angústias e alegrias dos trinta ans da vida de seu filho. O carinho, a rebeldia, os devaneios, mas, acima de tudo, um livro que revela que só o amor salva, que a família, que a presença dos pais são alicerces jamais perdidos; que mesmo sendo artista, Cazuza sempre voltava pra casa.                         

Cazuza disse: “Espero que, no futuro, não se esqueçam do poeta que sou. Que as pessoas não se esqueçam de que, mesmo num mundo eletrônico, o amor existe. Existem o amor e a poesia. Que mais crianças venham a nascer e é fundamental o amor dos pais.”  

                                                                                                                                                                        

“Nem todas as mães são felizes” 

Lucinha Araújo 

Resenha

“Eram seis horas da manhã do dia 7 de julho de 1990 quando a enfermeira Edinha que cuidava de Cazuza em casa num quarto adaptado a uma UTI, iria fazer uma nebulização em Cazuza, mas ele não se mexeu e nem abriu os olhos, sua respiração estava pesada. Atordoada chamou João que me acordou. Às seis e meia ligou para o Dr. Paulo Lopes. Quando chegou deram uma injeção, mas estavam agitados, entrei no quarto e não acreditava no que estava vendo, não me lembro da hora da morte do meu filho, estava paralisada, hipnotizada. Alguém me perguntou se eu queria me despedir do meu filho, entrei no quarto correndo o abracei e pedi perdão por tudo o que fiz de errado, por toda a incompreensão, pela impaciência, por amar demais, em voz alta como se fosse me ouvir melhor. Senti a sensação naquele abraço como se estivesse querendo leva-lo novamente ao útero, que voltasse pra dentro de mim.” 

Lucinha e João Araújo foram mais do que pais eram muito presentes na vida do único filho; Lucinha não pode mais ter filhos depois do nascimento de Cazuza,  sonhava em ter uma família grande, mas a força usada na expulsão na hora do parto lesionou  o canal cervical, impedindo que pudesse engravidar novamente.  

Cazuza foi uma criança tímida, mas levada e um adolescente rebelde. Aos quatorze a família mudou-se para o bairro do Leblon começou a sair todas as noites sem hora pra voltar, mudou seu comportamento, adotou um estilo hippie sandálias japonesas e cabelo comprido. Aos quinze descobriu seu envolvimento com as drogas. Uma personalidade controvertida e sedutora, temperamento difícil. 

Em 81 Cazuza inscreveu-se no curso de Teatro que Perfeito Fortuna trouxe o Asdrúbal e o Trombone, Cazuza não tinha fala, mas cantava o tempo todo. Nesse tempo Léo Jaime foi chamado para compor um conjunto que estava em formação. Barão Vermelho, mas ele não queria já tinha outras duas bandas, foi aí que convidou Cazuza, mas ele não se animou muito, dizia que gostava de compor, mas foi. Os ensaios eram feitos na garagem e assim começaram os primeiros acordes da banda que seria sucesso nacional. 

Cazuza havia gravado uma fita cassete e entregou a Léo Netto. Na mesma noite chamou quatro amigos para ouvir a fita, entre eles Ezequiel Neves, o Zeca, que se uniu ao grupo e tornou-se fiel escudeiro de Cazuza até sua morte. O Disco foi gravado em dois finais de semana pela Som Livre a qual seu pai era Presidente; esta foi uma situação difícil, pois João Araújo não queria estar vinculado com seu filho, não queria que achassem que gravou só por ser seu filho, encontrou uma solução, a Banda gravaria pelo selo Opus dirigido por Heleno de Oliveira.  

Logo após essa temporada Cazuza foi procurado para uma produção musical para o filme de Tizuka Yamasaki e assim surgiu “Bete balanço” em parceria com Frejat. A vendagem do disco “Maior abandonado” superou as expectativas de vendas, mais de cem mil exemplares para o Barão Vermelho. Receberam o Disco de Ouro, mas Cazuza num momento de fúria jogou o disco que se quebrou. Depois desse episódio rompeu com a banda. 

Com essa situação já havia um repertório para a gravação do quinto disco da banda, mas foi dividido, uma delas era exagerado que identificaria seu primeiro LP solo, lançado em 85. Seu primeiro show solo foi em 17 de janeiro de 1986 no Morro da Urca 

Desde os últimos shows do Barão Vermelho, Cazuza não se sentia muito bem. Tinha febres diárias que vem e passa. Uma semana depois do rompimento com a Banda foi internado no Hospital São Lucas com 42 graus de febre. Na manhã do dia 31 de julho de 85 sofreu convulsões incontroláveis, o primeiro diagnóstico foi dado como um vírus que se instala no pulmão. Cazuza pediu para o médico fazer o teste de HIV, mas deu negativo. Em 26 de abril de 1987 foi diagnosticado com Aids. Cazuza só ficou sabendo três dias depois, seus pais não quiseram dar a notícia, convenceram que ele fosse ao consultório do médico para saber o resultado do exame. Saiu de lá, junto com seu amigo Zeca e pediu para andar na praia, sentaram num banco e Cazuza começou a chorar. Seus pais lhe acolheram e seu pai prometeu mover céus e terras, mas não o deixaria morrer. 

A partir de então começou um tratamento em Boston, foram inúmeras as vezes que foram, entre internações e tratamento na esperança de salvá-lo. Testou medicamentos novos, entre outros, sempre davam certo, mas sem o AZT os sintomas da doença voltavam a aparecer, como a magreza extrema e a mudança do cabelo, de encaracolado para liso. Cazuza aos poucos foi perdendo a saúde, se esforçava o bastante, mas a doença não deu trégua. Já sem forças precisou se locomover de cadeira de rodas, mas não deixava de compor. As vezes que estava no Brasil tinha pressa mandava suas músicas aos artistas que queria que gravasse, mas queria resposta imediata, foi uma fase difícil de lidar com ele, não só a família, mas como todos que faziam parte de sua vida.  

O disco Ideologia foi gravado em 88 já na fase de sua doença, a crítica o consagrou como seu melhor trabalho. Também fez parte desse disco “Brasil” que foi música de aba.  A abertura da novela Vale Tudo de Gilberto Braga, e “Faz parte do meu show” na mesma novela. 

Acometido pela associação do AZT junto com drogas e bebidas, Cazuza começou a ter um comportamento perturbado com provocações   e situações incontroláveis. “Eu estava meio louco. Quando eu fazia os shows, vinha um sentimento estranho. Todo mundo que estava me assistindo estava lá porque me amava. Mas eu queria que algumas pessoas também me odiassem. Eu não queria que todo mundo me amasse fosse bonzinho comigo. Então comecei a fazer coisas no palco para incomodar as pessoas.” 

Em sua entrevista para a Revista Veja, Cazuza já muito doente realizou um sonho. Mas quando viu a reportagem dando uma opinião completamente distorcida a seu respeito começou a passar muito mal, sua pressão foi a quase zero, precisaram socorrer. 

Foram muitos os amigos que estiveram do seu lado durante esses anos de tratamento, Frejat permaneceu do seu lado sempre. Na sua última internação em Boston passou seu último Natal internado. No final de janeiro de 1990 o médico que o acompanhava disse que não tinha nada mais a ser feito por ele. Sua mãe relutou, mas Cazuza precisava vir pra casa, ficar próximo aos amigos e a família. Ainda comemorou seu último aniversário em casa com amigos, se arrumou, comprou roupa nova e ficou deitado no sofá, ficou pouco tempo, sentia-se cansado, já quase sem forças. 

O livro é uma entrevista com a mãe de Cazuza à jornalista Regina Echeverria  onde  conta um pouco da sua história, como conheceu João Araújo e a vida intensa que seu filho viveu, desde o nascimento até sua morte. Um livro de lembranças de uma mãe que fez de tudo pelo único filho, como ela mesma diz “Queria que ele fosse o melhor em tudo: o mais inteligente, o mais bem vestido, o mais estudioso e comportado.” “Teve carinho demasiado e controle demasiado.” Uma superproteção que teve momentos conturbados por isso. 

Cazuza era aquele moço irreverente que falava o que pensava, fazia o que queria e viveu tudo o quis viver, sem censura. Tinha um gênio difícil ao mesmo tempo em que era rebelde era sensível e carinhoso.  

Descobriu a Aids em 87, já fazia dois anos quando sentiu os primeiros sinais da doença, foi internado com mais de 42º de febre, até fez o teste do HIV, mas deu negativo. Mas desta vez era real, a aids estava instalada no seu organismo. Cazuza num primeiro momento se abateu, chorou com o amigo Ezequiel Neves, o Zeca e foi para casa conversar com os pais. Mas as recomendações do médico não foram aceitas por ele, continuou a beber e usar drogas 

O disco Ideologia foi gravado em 88 já na fase de sua doença, a crítica o consagrou como seu melhor trabalho. Também fez parte desse disco “Brasil” que foi música de aba. Estava no seu melhor momento da carreira solo. Na turnê de “Ideologia” em Belém suportou um mal-estar até o final do show, depois do último verso de “o tempo não para” caiu desmaiado no palco. Em agosto de 89 foi lançado o álbum duplo “Burguesia” que havia sido gravado no começo do ano. Em outubro do mesmo ano foi para sua última internação em Boston onde passou cinco meses, sua última Ceia de Natal foi no hospital. 

Em março de 1990 voltou ao Brasil e foi montado um quarto de UTI para cuidar da sua saúde em casa. Nesses últimos meses ainda passou 15 dias na casa de Petrópolis que Cazuza gostava muito. Em maio foram para a casa em Angra dos Reis, fez alguns passeios de barco, sempre carregado por três seguranças. 

Um mês antes de morrer fez um passeio de Veraneio com os amigos e as enfermeiras que cuidavam dele, foi a última vez. Cazuza disse que queria ir no show de Renato Russo no dia 7 de julho. Não foi possível, Renato Russo fez o show em homenagem a ele. 

“Mãe, aconteça o que acontecer, eu vou estar sempre junto de você”

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Elza Soares

 

Autor_ Zeca Camargo

 

Se o que se percebe em Elza Soares é a sua força, garra para vencer e ultrapassar obstáculos que a vida oferece, é exatamente isso o que ela é. Subestimar, julgar essa mulher sem saber o que ela passou desde a infância até hoje é uma falta grave. Teve infância muito pobre, ajudava sua mãe a levar as roupas que lavava para ajudar no orçamento da casa. Uma adolescência na qual foi forçada a se casar aos 13 anos, por uma briga com um menino que seu pai achou que tinha sido um estupro, filhos, trabalho, perda de dois filhos, do pai que tanto amava; mas não estava aqui para vê-lo pela última vez, e uma carreira nada bem vista pela família. 

Sim, até hoje ela se reinventa, surpreende seu público, por sinal muitos jovens que conheceram seu trabalho muitas décadas depois do início de sua carreira, uma carreira cheia de pedras, mas ela as tirou, uma a uma, caindo e levantando. Sofreu com racismo, perseguição por ter se apaixonado pelo jogador do Botafogo-RJ e Seleção Brasileira Garrincha; tiveram que sair do País, já não havia mais condições de continuarem aqui, tamanha era a perseguição ao casal. 

No quadro musical, muitas vezes tiraram de Elza o que ela mais ama fazer em sua vida, que é cantar. Se viu em situações que pareciam não ter volta, mas encontrou pessoas em seu caminho que a fizeram enxergar que não estava nada acabado, Uma dessa pessoas foi Caetano Veloso, que a tirou de um enorme buraco quando a chamou para gravar “Língua”, que a projetou novamente ao mundo da música. 

Uma mulher sofrida, mas consciente com seus mais de 80 anos, uma queda no palco que lhe custou muitas dores na coluna, cirurgia, mas não deixou os palcos, não deixou de cantar, produzir. Em um parágrafo do livro ela diz: “Eu quero que me vejam como uma pessoa que viu verdades, que nasceu de verdade, passou por tudo isso de verdade, e é isso que eu quero passar pros meus filhos e netos. Não quero pensar que minha vida tá acabando. Eu quero é mais um dia. E viver esse dia. Pra onde eu vou? Não sei. Deve ter alguém escolhendo isso pra mim – por que eu devo me preocupar com isso agora?” 

Uma história verdadeiramente intensa e tensa, mas ao mesmo tempo de admiração por conhecer uma mulher forte e determinada em todos os aspectos da vida. Aplausos para essa grande dama da nossa música brasileira. 

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Suzane

Poderia ser uma ficção policial, mas é realidade. Nas 279 páginas do livro o leitor irá encontrar uma história sórdida, com passagens dignas de um filme de terror. O autor faz uma reportagem narrativa, dando detalhes de três anos de pesquisa e entrevistas.  

O livro foi vetado na sua primeira tentativa pela juíza Sueli Zeraik Armani, do STF, alegando prejuízo irreparável à imagem de Suzane. Mas um mês depois o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes permitiu a publicação garantindo a liberdade de expressão.  

À época do crime Suzane Cursava Faculdade de Direito pela PUC. Nascida numa família de classe média alta paulistana, pai Engenheiro e mãe Psiquiatra, já demonstrava ter uma personalidade fria, já que a família reagia sem muita emoção. Em um dado momento o autor relata que não costumavam se abraçar, nem mesmo em ocasiões especiais, um traço forte da origem alemã de Manfred  Richthofen. 

O crime é relatado em detalhes, desde como foi feito o marrete até o último golpe. A frieza com que recebeu a notícia, já que havia ligado para a polícia avisando que sua casa tinha sido assaltada, não esboçou nenhuma emoção, preocupou-se mais em como deveria proceder com o funeral do que pensar em saber como havia acontecido e quem foi; este foi o primeiro momento suspeito da polícia. 

Já na prisão Suzane precisou se defender do PCC; segundo consta, assassinos de pai e mãe, filho, pedófilo é jurado de morte. Aliou-se a criminosas como sequestradoras e assassinas para se defender. Teve um caso homoafetivo, mas também coleciona muitos defensores e aliados a ela, como o advogado e tutor/pai Denivaldo Barni e seu filho Barni Jr. 

O autor também dá detalhes dos irmãos Cravinhos no presídio e o arrependimento de Daniel (namorado de Suzane na época) ter se deixado manipular por ela, Suzane. Em um determinado momento do planejamento do crime, Daniel já havia desistido de matar, quando Suzane mentiu, disse que era abusada pelo pai desde pequena, levando Daniel à ira e voltando ao plano. Ficou sabendo da mentira já na cadeia, não se conformando com a frieza que a namorada revelou. Daniel está em regime aberto hoje, já seu irmão Cristian, voltou para a cadeia quando tentou subornar um policial. 

Suzane tem planos para o futuro, namora um marceneiro e pensam em casar assim que for promovida ao regime aberto. Mas esse plano inclui a mudança do seu nome, para desvincular sua imagem com o crime que cometeu, e vai usar o sobrenome do futuro marido.  Em algum momento não será mais possível encontrar com Suzane Von Richthofen, a criminosa, pois será Suzane Louise Olberg das Dores, Cristã. 

Um livro intenso, sangrento e às vezes difícil de continuar devido às inúmeras informações de tamanha crueldade, frieza, sordidez deste crime e outros contados por presos nessa obra. Uma narrativa rica em detalhes, mas que deixa alguns acontecimentos sem muita explicação. Uma história de uma mente nociva que pode mudar tudo, de uma menina de alto nível social a presidiária, e sem família. 

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Elis Regina

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O livro retrata a intensidade vivida por João Marcelo nos poucos 11 anos ao lado de sua mãe, Elis Regina. A história é impactante logo no começo, como se ali houvesse uma criança relatando um sofrimento calado, uma ruptura repentina que mudaria sua vida. 

Fala sobre o envolvimento de Elis com as drogas, da perseguição que sofreu ao ponto de ficar sem telefone para não ser gravada. Desmistifica a situação na qual a imprensa colocou seu pai, Ronaldo Bôscoli, como vilão, reconhece seus erros, mas compreende e fala com carinho sobre o pai. 

Tem repúdio a certas pessoas que conviveram com sua mãe, sem dar nomes. Chama de vampiros, parasitas, puxa-sacos, bajuladores, encostos, que logo depois da sua morte sequer deram apoio a ele, uma criança de 11 anos que sofreu a angústia da perda da mãe. 

Mas também tem passagens divertidas da sua infância, uma criança levada. Elis é retratada como uma mãe doce, mas severa, que em meio à sua vida atribulada entre shows e viagens, nunca deixou de estar presente. Envolveu-se pelo mundo da música, chegou a acompanhar a mãe em Los Angeles com Tom Jobim. Aprendeu tudo sobre produção, gravação e esse foi o seu futuro. Fala com muito carinho dos irmãos, Pedro e Maria Rita, e do padrasto César Camargo Mariano, por quem tem muita admiração. 

Um livro dinâmico, com uma linguagem clara e relatos íntimos de uma artista talentosa, amada e intensa, mas que ao se envolver com as drogas e dois casamentos desfeitos, deixou de acreditar nela e no seu potencial. Perdeu-se num vazio que a levou à morte precoce. 

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Rita Lee

Ora divertido, ora sarcástico, ora irônico, um livro repleto de passagens pra lá de curiosas, uma vida muito louca de uma pessoa muito inteligente e cheia de vida, sonhos e coragem. Ultrapassou seus próprios limites; nunca seguiu regras, quebrou todas, mas com tanta irreverência tornou-se um dos maiores nomes da música brasileira. 
 

Nascida em São Paulo e filha de um americano e uma brasileira, Rita Lee passou sua vida num casarão, como ela mesma descreve, na Vila Mariana, na Capital São Paulo, onde morou até jovem entre idas e vindas. Usa uma linguagem bastante peculiar, chama os pais pelo nome e a família, por harém, já que eram seis mulheres. Dá nome a tudo, inclusive ao jeep que ganhou do pai e deu o nome do mesmo, Charles. 
 

Conta como começou desde os Mutantes, passando pelo grupo Tutti Frutti; que lhe rendeu temas de novela, e chegando ao que foi de maior sucesso com a parceria com seu marido, Roberto Carvalho. A saída dos Mutantes não foi muito digerida por Rita Lee, diga-se que existe até um certo ressentimento pelo ocorrido, mas há de se levar em consideração como isso foi feito e consequências que vieram depois, quando ela, como Rita Lee, já era sucesso. 
 

Sobreviveu a uma ditadura cruel, se envolveu com drogas, foi presa, mas nunca perdeu sua majestade. Um livro intenso, divertido e dramático em alguns momentos. Uma mulher incrível e apaixonada por seu marido. Um livro para quem ama Rita Lee, viveu o auge dos anos 70 e 80 e não se esquece das músicas apaixonantes que marcaram uma época. 

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Sidney Magal

Com linguagem simples e objetiva, a autora descreve todas as fases vividas pelo cantor, desde sua infância até os dias atuais. Conta detalhes, intimidades da vida de Sidney Magal; sua infância, origem, influência artística e familiar.   

Um visual literário inovador. Tópicos que destacam momentos da carreira, entrevistas com pessoas que passaram por sua vida, trajetória, dramas e sucesso. Conta de forma muito envolvente a história de um artista que atraiu milhares de seguidores numa época em que o País explodia na MPB. Sidney Magal chegou para marcar, com gestos e danças nada convencionais para o momento, mas caiu nas graças do povo, e ainda hoje, por onde passa, deixa seu carisma e arrasta os fãs fiéis. 

Para quem gosta e admira o cantor, neste livro vai descobrir que Sidney Magal não só é o artista que todos conhecem, mas um homem apaixonado pela sua família e, principalmente, gente como a gente. 

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