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Violência em forma de guerra

Tenho falado muito sobre violência na saúde mental, mas existe outra que também abala a saúde mental para sempre, a violência armada. Abala o medo, a guerra, a opressão, a liberdade de viver e ser feliz. O poder de uma arma em mãos e tudo se torna perigoso.

Chego à conclusão de que a agressão entre as pessoas, tanto em palavras quanto em atitudes físicas, vem da agressão que estamos sofrendo há anos, crescentemente, sem uma política pública da qual possamos contar para nos proteger. O humano está se tornando um animal irracional, sua defesa é instintiva de tanto nos virarmos sozinhos, nos proteger do jeito que dá. Claro que é injusto sair matando ou agredindo, mas é o que estão ensinando descaradamente.

As pessoas estão ficando doentes, nunca teve tantos casos de depressão e ansiedade como temos agora, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, imagina o quanto isso traz de prejuízo para o povo? É tudo difícil, urgente, querendo ganhar dinheiro, ter, sobressair, estar certo, ser o melhor. E ainda a violência que sofremos diariamente, nas ruas e pelos noticiários. Para onde vai nossa saúde mental se não tratarmos? Ou melhor, se nada for feito?

O que aconteceu no Rio de Janeiro foi um alerta para a população se unir e, em união, solicitar segurança, cobrar por uma solução. Basta de violência, golpes, até mesmo com nossas crianças, que não têm o direito de serem crianças, brincar e aprender o que precisam, e não o que não precisam saber.

Fica meu recado, minha indignação com tudo o que estamos vivendo. Aliás, estamos sobrevivendo. Ou mudamos e nos unimos, ou todos seremos prisioneiros do Planeta Terra.

A violência diária em forma de novela

Já não se faz mais novelas como antigamente. Sempre venho falar, ou comparar, o novo com o velho. Seria uma divergência de gerações, ou realmente os valores mudaram muito? Na minha opinião, acho que atualmente vivemos uma dura realidade em todos os sentidos da vida, principalmente nas opiniões. Vivemos numa democracia em que deturparam a liberdade de expressão, em falar o que quiser, doa a quem doer. Não é bem assim. Liberdade significa escolhas, e não ofensas.

Todos temos nossos direitos, mas com limites. Não posso sair por aí batendo, quebrando as coisas por raiva, isso não é direito, é falta de educação e respeito. Violência se aprende, não se nasce violento. Nunca foi na violência que se conquistou algo e nem respeito. Passamos o dia sabendo de atitudes absurdas por acharem que é assim, mas não é.

Nem mesmo no descanso se relaxa. Basta ligar a televisão e está lá noticiário de assassinato, sendo o que mais dá repercussão, sobretudo para emissoras sensacionalistas, as quais adoram causar pânico e medo. O desencanto e, de certa forma, a tensão segue até mesmo nas novelas, que milhões de brasileiros sempre amaram, pois, as tramas se passam principalmente em torno do dinheiro, da riqueza, da safadeza, da violência, do machismo, dos desejos de quem só visa a si.

Fala-se tanto em corrupção e existem tantos corruptos ao nosso redor, pois quando se suborna alguém, quando se dá um jeito de não pagar imposto, coagir, intimidar, trapacear para se dar bem, difamar um colega para conseguir seu cargo, furar fila, ser dissimulado, são atos corruptos. Tem tanta coisa que é corrupção, e os especialistas de fofoca, ou alienados sem informação, falam só de políticos.

As novelas, os jogos online, estão formando experts em violência e trapaças. Hoje, até no núcleo pobre das novelas se dá um jeito de mostrar quem não aceita a vida que leva e parte para o pior. Não tem mais a parte engraçada, o subúrbio de gente simples, só poder, poder e poder. Parece que é assim que tem que ser.

Perderam a mão, estão partindo para um lado que não está dando certo, os remakes estão aí para provar que não é esse o caminho, mas até mesmo a volta de novelas de sucesso no passado não tem o mesmo poder de sedução. E por um simples motivo: nas mãos de roteiristas atuais, que acham que aquele modelo está ultrapassado, mudam a essência, comportamentos, com a justificativa de que é preciso atualizar, pois os tempos são outros. Tudo bem que tem uma coisa aqui, outra ali que precisam ser mudadas, mas deixar de lado aquilo que deu certo é burrice.

Temos ótimos artistas dispensados, eles que deram vida a personagens inesquecíveis, mas que hoje não têm a oportunidade de poder transformar um texto ruim numa grande adaptação, como foi com a novela ‘Amor de mãe’, com artistas do nível de Regina Casé e Adriana Esteves. As duas fizeram a história fluir como se fosse real, mesmo após a retomada pós-pandemia. A partir daí, porém, a impressão que se tem é que aquele hiato mudou tudo, para pior.

O remake de Pantanal deu muito certo até agora, com artistas experientes e uma protagonista jovem e muito talentosa que deu vida a Juma. Até agora, dos remakes realizados, essa foi a melhor. Esperamos que não assassinem ‘Vale tudo’, que foi uma trama realista, mas sem os exageros atuais. Um pouquinho de ficção ainda cai bem.

Por Maristela Prado

Quando a liberdade dependia do silêncio

Nasci em julho de 1964, apenas quatro meses depois do golpe militar que implantou a ditadura no Brasil. Época marcada por conflitos, torturas, perseguições e medo. Ninguém tinha voz, e quem dava a voz era perseguido, e mesmo aqueles que nada tinham a ver com a situação, poderiam ter a infelicidade de estar passando no local errado, na hora errada, e muitas vezes eram pegos, torturados e desapareciam. Hoje vivemos um medo parecido, só que de balas perdidas e de uma criminalidade desenfreada, que tem tomado conta das cidades, mas também de pessoas desequilibradas e fanáticas que, às claras, defendem a volta do período em que a nossa liberdade dependia do nosso silêncio.

Nenhuma nação sobrevive à violência física ou moral, nem mesmo uma criança aprende apanhando; aprende que bater é normal, e quando se sentir ofendido deve bater. Então, o que a repressão e a tortura podem ensinar? Nada. Ter medo não é ter respeito, surge a raiva, o ódio. O ser humano não nasceu para se calar diante do que não aceita, somos livres para gostar ou não, aceitar ou não os desejos de quem acredita que manda, que o poder lhe torna superior, sublime. É apenas outro ser humano como outro qualquer, ser rico ou pobre, branco ou preto, homem ou mulher, ser desta ou daquela religião, ter ou não ter, não diferencia um ser humano do outro.

O que está faltando no Brasil e no mundo é amor, dignidade e respeito. Existem pessoas em situação de miséria total, e outras querendo cada vez mais, e sequer pensam no outro. E, mais do que isso, ainda discriminam o pobre que, muitas vezes, é sua própria origem. Todas as maldades que vemos hoje são por poder, por domínio. Precisamos do equilíbrio, nem muito, nem pouco. Mas isso não vai acontecer, sabemos.

Podemos, e devemos, salvar as crianças que estão nascendo, e as que já estão em fase escolar, ensinando valores da vida, não das coisas. Criando filhos que aprendam que viver não é uma questão financeira e nem de poder, é uma postura de dignidade e de respeito. Na nossa bandeira, de todos os brasileiros, está escrito “Ordem e Progresso”, não existe nem um, nem outro. Ordem não é silenciar o povo, é dar exemplos de cidadania, e progresso é trabalho, educação, condições dignas de viver em um país desenvolvido, que há tanto tempo ouço sobre isso, mas como desenvolver um país onde o poder só serve para eles próprios e não para o povo?

Lembra da palavra ‘harmonia’? Faz tempo que não se fala dela, escutar o outro, não só falar e se colocar no topo da conversa, ou ainda fazer prevalecer a sua opinião. Você tem sua razão, eu tenho a minha. Ter argumentos quando for julgado, não precisa humilhar, mexer na ferida, isso é covardia e frustração, é feio. Ajudar a quem precisa não é só financeiramente, mas também emocionalmente, entender os sentimentos, seus e dos outros, a tal da empatia, lembra?

Pedir licença, dizer obrigada(o), desculpa, não é moda, é educação, e isso vem de casa, escola nenhuma tem obrigação de dar educação, as escolas ensinam conhecimentos, cultura; embora haja quem não aceite, ética e convivência, mas já é urgente que se introduza a educação emocional que está perdida nas telas onde é terra sem lei, nas imagens de violência dos jogos que as crianças começam a ter acesso desde de muito pequenas, tudo isso é exemplo de vida, tudo pode. Os adolescentes precisam de mais atenção, estão se preparando para a vida adulta, e não podem seguir com esses princípios. É agora, não é para pensar, não dá mais tempo, os problemas emocionais estão crescendo a cada dia, nunca se teve tanta depressão, ansiedade e tantos outros problemas mentais. Uma Nação para prosseguir não precisa de bomba, de alguém reprimindo e calando o povo, precisa de paz e de humanidade.

 Corremos o risco de uma evasão de professores por excesso de problemas mentais, exaustão mental por crianças e adolescentes malcriados que desaprenderam a hierarquia. Sim, ainda existe, o professor está ali para ensinar, se você já soubesse não precisaria estudar, mas não é isso que aprendem.

Por que falei tudo isso se comecei falando do golpe militar de 64, ano em que nasci? Porque nada se aprendeu com a repressão, pois apenas o medo era o principal ‘motor’ daquela baderna. Aconteceram tragédias com pessoas que apenas queriam a liberdade de volta, acabou com famílias. Então vamos lutar pela educação de verdade, por meio da qual se aprende sobre emoções, dores e sofrimentos causados pelo sarcasmo, pelo prazer de destruir o outro, como se aquele que faz isso não tivesse uma ferida que não quer ser mexida.

Sou filha dessa ditadura, mas vivi e sobrevivi com minha família, numa vida simples, naquela época não precisávamos provar nada a ninguém, marca era apenas uma marca. Nunca faltou nada na minha casa, nem amor. Tenho o prazer de ter educação e respeito, aprendi em casa. Aprendi também a ter cultura em meio a muitos livros, jornais e revistas e muita música. Pais dignos, trabalhadores e cultos, que nos ensinaram a ter respeito e comportamento, e nunca foram chamados na escola para resolver uma agressão, uma palavra mal falada. Na escola aprendi a ter conhecimento, e respeitar a quem me ensinava.

As crianças nada têm a ver com tudo isso, são vítimas de maus exemplos, de ambientes conturbados, da tecnologia que lhes levam a qualquer lugar, a ter informações que não deveriam saber agora, a ter acesso a tudo sem limite. Se cada um começar uma pequena mudança, daqui a alguns anos teremos um mundo melhor para as próximas gerações. Plante agora, você não vai se arrepender.

Por Maristela Prado