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Quando a liberdade dependia do silêncio

Nasci em julho de 1964, apenas quatro meses depois do golpe militar que implantou a ditadura no Brasil. Época marcada por conflitos, torturas, perseguições e medo. Ninguém tinha voz, e quem dava a voz era perseguido, e mesmo aqueles que nada tinham a ver com a situação, poderiam ter a infelicidade de estar passando no local errado, na hora errada, e muitas vezes eram pegos, torturados e desapareciam. Hoje vivemos um medo parecido, só que de balas perdidas e de uma criminalidade desenfreada, que tem tomado conta das cidades, mas também de pessoas desequilibradas e fanáticas que, às claras, defendem a volta do período em que a nossa liberdade dependia do nosso silêncio.

Nenhuma nação sobrevive à violência física ou moral, nem mesmo uma criança aprende apanhando; aprende que bater é normal, e quando se sentir ofendido deve bater. Então, o que a repressão e a tortura podem ensinar? Nada. Ter medo não é ter respeito, surge a raiva, o ódio. O ser humano não nasceu para se calar diante do que não aceita, somos livres para gostar ou não, aceitar ou não os desejos de quem acredita que manda, que o poder lhe torna superior, sublime. É apenas outro ser humano como outro qualquer, ser rico ou pobre, branco ou preto, homem ou mulher, ser desta ou daquela religião, ter ou não ter, não diferencia um ser humano do outro.

O que está faltando no Brasil e no mundo é amor, dignidade e respeito. Existem pessoas em situação de miséria total, e outras querendo cada vez mais, e sequer pensam no outro. E, mais do que isso, ainda discriminam o pobre que, muitas vezes, é sua própria origem. Todas as maldades que vemos hoje são por poder, por domínio. Precisamos do equilíbrio, nem muito, nem pouco. Mas isso não vai acontecer, sabemos.

Podemos, e devemos, salvar as crianças que estão nascendo, e as que já estão em fase escolar, ensinando valores da vida, não das coisas. Criando filhos que aprendam que viver não é uma questão financeira e nem de poder, é uma postura de dignidade e de respeito. Na nossa bandeira, de todos os brasileiros, está escrito “Ordem e Progresso”, não existe nem um, nem outro. Ordem não é silenciar o povo, é dar exemplos de cidadania, e progresso é trabalho, educação, condições dignas de viver em um país desenvolvido, que há tanto tempo ouço sobre isso, mas como desenvolver um país onde o poder só serve para eles próprios e não para o povo?

Lembra da palavra ‘harmonia’? Faz tempo que não se fala dela, escutar o outro, não só falar e se colocar no topo da conversa, ou ainda fazer prevalecer a sua opinião. Você tem sua razão, eu tenho a minha. Ter argumentos quando for julgado, não precisa humilhar, mexer na ferida, isso é covardia e frustração, é feio. Ajudar a quem precisa não é só financeiramente, mas também emocionalmente, entender os sentimentos, seus e dos outros, a tal da empatia, lembra?

Pedir licença, dizer obrigada(o), desculpa, não é moda, é educação, e isso vem de casa, escola nenhuma tem obrigação de dar educação, as escolas ensinam conhecimentos, cultura; embora haja quem não aceite, ética e convivência, mas já é urgente que se introduza a educação emocional que está perdida nas telas onde é terra sem lei, nas imagens de violência dos jogos que as crianças começam a ter acesso desde de muito pequenas, tudo isso é exemplo de vida, tudo pode. Os adolescentes precisam de mais atenção, estão se preparando para a vida adulta, e não podem seguir com esses princípios. É agora, não é para pensar, não dá mais tempo, os problemas emocionais estão crescendo a cada dia, nunca se teve tanta depressão, ansiedade e tantos outros problemas mentais. Uma Nação para prosseguir não precisa de bomba, de alguém reprimindo e calando o povo, precisa de paz e de humanidade.

 Corremos o risco de uma evasão de professores por excesso de problemas mentais, exaustão mental por crianças e adolescentes malcriados que desaprenderam a hierarquia. Sim, ainda existe, o professor está ali para ensinar, se você já soubesse não precisaria estudar, mas não é isso que aprendem.

Por que falei tudo isso se comecei falando do golpe militar de 64, ano em que nasci? Porque nada se aprendeu com a repressão, pois apenas o medo era o principal ‘motor’ daquela baderna. Aconteceram tragédias com pessoas que apenas queriam a liberdade de volta, acabou com famílias. Então vamos lutar pela educação de verdade, por meio da qual se aprende sobre emoções, dores e sofrimentos causados pelo sarcasmo, pelo prazer de destruir o outro, como se aquele que faz isso não tivesse uma ferida que não quer ser mexida.

Sou filha dessa ditadura, mas vivi e sobrevivi com minha família, numa vida simples, naquela época não precisávamos provar nada a ninguém, marca era apenas uma marca. Nunca faltou nada na minha casa, nem amor. Tenho o prazer de ter educação e respeito, aprendi em casa. Aprendi também a ter cultura em meio a muitos livros, jornais e revistas e muita música. Pais dignos, trabalhadores e cultos, que nos ensinaram a ter respeito e comportamento, e nunca foram chamados na escola para resolver uma agressão, uma palavra mal falada. Na escola aprendi a ter conhecimento, e respeitar a quem me ensinava.

As crianças nada têm a ver com tudo isso, são vítimas de maus exemplos, de ambientes conturbados, da tecnologia que lhes levam a qualquer lugar, a ter informações que não deveriam saber agora, a ter acesso a tudo sem limite. Se cada um começar uma pequena mudança, daqui a alguns anos teremos um mundo melhor para as próximas gerações. Plante agora, você não vai se arrepender.

Por Maristela Prado

Solte para a vida

Uma mulher quando se torna mãe nunca mais é a mesma pessoa. Um filho traz consigo uma fragilidade tão doce, mas ao mesmo tempo a força do amor incondicional; na minha opinião o único Ser que conseguimos amar dessa forma.

Esse amor começa quando desconfiamos que estamos grávidas, e naquele momento já começam os cuidados, a preocupação com aquele ser que começa a se desenvolver dentro de nós. A cada surgimento da barriguinha tão esperada é uma alegria; a única barriga que a mulher gosta de mostrar, afinal lá está o grande amor da sua vida.

O parto é o momento mais incrível, onde mãe e filho acabam por reconhecer aquele rosto, porque o amor já existe há nove meses. É uma mistura de alegria, emoção de um momento no qual tudo se transforma dali para frente.

Essa ligação entre mãe e filho se estende por toda vida. Comemoramos cada conquista, os primeiros passos, as primeiras palavras, o sorriso de um bebê. Lutamos por aquele ser em todas as fases da vida, defendemos, brigamos, ensinamos; ah! como ensinamos, mas nem sempre seguem nossas orientações, são seres humanos únicos e com escolhas próprias, e seguem seu caminho, errando e acertando, mas sempre com a certeza de que têm para onde recorrer, para onde voltar, um colo onde chorar de alegria ou tristeza.

Tenho a certeza de que nossos filhos nos são enviados para que não só eles, mas principalmente nós possamos aprender muito, aprender que são nossos, sim, pois temos o compromisso de criá-los para o mundo e não para nós. São nossos até irem, e eles devem ir.

Não podemos ser egoístas nem possessivos, pois eles também vêm para a vida com o propósito de aprender, de ter suas próprias experiências, seus sonhos. Deixe que tropecem, pois precisam aprender, não terão nossa presença para sempre. Nós também aprendemos a caminhar e estamos aqui para contar.

Deixem ir, eles sabem que tiveram alguém que os ensinou o que era a vida; nós também não sabíamos e acho que nem sabemos ainda, mas viver é assim, a gente vai e se der certo continua; se não der, começa tudo de novo, diferente, mas começa.

Liberdade e passar confiança para seu filho é o melhor que se pode fazer, quem não tem confiança em si não consegue nada, sempre vai precisar de um empurrão e nada dá certo, sabe por quê? Não aprendeu a andar sozinho, e quando perder para sempre essa mão não saberá qual direção seguir.

Ver seu filho ir e dando certo é a resposta de Deus de que você cumpriu a sua missão com responsabilidade, não decepcionou quem acreditou em você. Sinta-se feliz com o Ser que você cuidou, é um pedacinho seu que deu certo aqui na Terra e vai levar a sua história para outras pessoas saberem quem foi você.