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O fim é para todos, e as escolhas também

Piscou o olho, a vida acabou. E tanta gente desperdiçando a vida, as oportunidades, desviando do caminho, brigando por tudo e, ao mesmo tempo, por nada. Preta Gil foi uma mulher que conviveu com críticas ao seu corpo, que não estava dentro dos padrões de produção de fábrica, tudo igual, sua cor, suas escolhas, mas sempre foi ela mesma, uma mulher de personalidade, inteligente, talentosa, alegre e que lutou bravamente contra sua doença até o fim.

São pessoas assim, como ela, que deixam uma história para ser lembrada. Nunca se deixou levar pelos comentários maldosos sobre sua aparência, levantava a bandeira e falava, doa a quem doer. O que pensar de uma pessoa que relega o outro pela aparência? A própria infelicidade de não ser aquela pessoa precisa diminuir para se sentir superior. Mas tirar o chapéu para a inteligência e a cultura não fala, mesmo porque quem olha por fora não se interessa pelo que o outro tem por dentro. Filha de um dos maiores compositores e cantores desse País, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), um título para poucos, importante para quem conhece a cultura das letras, e não da aparência, do vazio.

Os grandes artistas estão indo embora, mas deixam um legado para nossa história, mesmo que alguns não gostem, critiquem, mas são os verdadeiros artistas. Estamos ficando órfãos da boa cultura, dos poetas, dos artistas que viam o mundo com os olhos de quem vê a vida, aprendizes de um tempo passageiro, e se não aproveitar, vai-se como uma nuvem que passa e ninguém percebe. Pois esses foram percebidos e sempre serão lembrados pelo legado e inteligência, mas infelizmente muitos não entendem.

Esta semana assisti a uma palestra que falava sobre o vazio das pessoas depois das redes sociais. Todos acham que têm o direito de fazer o que querem, falar o que querem, e podem mesmo, só esquecem de que as palavras ou atitudes ferem, e para tudo há consequência. Será que alguém se importa com isso? Tive a resposta para esta reflexão na série sobre Raul Seixas, que também assisti nesta semana. Ele dizia ter o direito de fazer tudo o que quisesse, e ninguém iria impedir. Foi avisado de que estava no caminho errado, mas ignorou, foi ao fundo do poço e de lá não saiu mais, ou melhor, saiu morto.

São as consequências das nossas ações, fazer o que se quer é um direito de cada um, mas terá que arcar e suportar com o que vem depois. Estão começando a acordar para a vida real, o olho no olho, o abraço, o toque, o sentir. Essa é a vida de verdade, quente e responsiva, sem dramas e a falsa coragem de diminuir alguém sem olhar nos olhos. Deveríamos chamar essa forma de relacionamento de redes mortais, pois acabam com a vida real ali mesmo. Encerra os sentimentos e afetos.

 Assim fizeram com Preta Gil, tentando colocar sua autoestima no chão, fazendo com que ela tivesse que viver a sua vida, o seu sucesso, as suas escolhas em dois extremos: o feliz, quando podia falar sem que a ouvissem, e o julgado, quando pessoas covardes se tornam corajosas de longe e entram para destruir o outro. Mas o seu lugar na vida ninguém tirou, esse lugar era só dela, predestinado, dado a ela, não só por ser filha de quem era, mas por merecimento que a vida lhe propôs. E isso não é só com ela, mas com qualquer outro que sofre todos os dias com acusações, maldades e ‘piadistas’ que não enxergam a própria vida, e acham que piada é debochar até na hora da morte. Isso não é piada, é desrespeito e incapacidade de ser uma pessoa melhor. O Universo se encarrega. O tempo é o senhor das respostas, soberano da vida, e a lição de quem anda por caminhos tortuosos um dia mostra, cara a cara, qual piada será sua vida. Ninguém é mais ou menos do que alguém, somos todos iguais, e o fim será o mesmo, e as suas escolhas seguirão com o fim.

“Andar com fé eu vou

Que a fé não costuma faiar”

(Gilberto Gil)

Prazer em conhecer

Sou mulher, escritora, mãe, avó, curiosa e observadora. Às vezes tenho a impressão de que enxergo além do que estou vendo no comportamento das pessoas, às vezes vejo naquela atitude a criança que cresceu, mas os medos, e os gestos, ainda guardam aquela infantilidade que não acompanhou o tamanho daquele adulto, bem ali na minha frente.

Sou apaixonada pelo comportamento humano, por como funciona a mente, e o porquê de cada ser reagir da mesma forma em situações que a gente acha que aquilo é só nosso, mas não é. Todo mundo faz tudo igual, mudando apenas uma coisinha aqui e outra acolá. Por isso estudei muito; ainda estudo, li muito sobre o assunto. Fiz cursos e hoje escrevo sobre isso, das mais diversas formas.

O ser humano é esquisito, tem sentimentos de soberania como se fosse único na Terra, mas na verdade é só mais um, aquele pontinho no meio de tantos outros iguais, que sente dor, angústia, solidão, tristeza, alegria, que passa mal, precisa de um médico, corta as unhas, escova os dentes, e outras coisinhas tão comuns dos seres humanos, que o mais soberbo faz também.

A sociedade do mundo nunca entendeu que somos todos a mesma coisa, mudando apenas as fases da vida, um dia lá em cima e outro embaixo, um dia sem nada e em outro conquistando tudo que deseja, e vice-versa. Um dia alguma coisa me preocupa, me entristece, mas passa, como tudo passa, como tudo tem prazo de validade, até nós.

Aprendi com minha maturidade que nada tem mais valor do que a vida, a família e o amor. A vida porque é sua, é única, e só você pode cuidar e dar um sentido a ela, um caminho. Mas se errar não adianta culpar ninguém; lembra que a vida é tua? As consequências do que você é, também. Já a família é a única certeza que temos de pessoas que sempre estarão ao nosso  lado; salvo raras exceções, e que te amam de verdade. E o amor? É o sentimento mais nobre que podemos ter, traz paz, não te deixa doente, acumulando tensão, somatização de raiva, e se transformar na vítima da vida. O amor é leve.

Viver para você e por você, seja feliz como queira, desde que não prejudique ninguém, pois isso não é ser feliz, é ser incapaz. Família, a que nascemos, a que formamos, somos todos membros desse núcleo, ligados pelo sangue que nos une. Cuide, acolha, esteja sempre presente, tudo começou com eles, também termina com eles. Ame, ame muito e de verdade. Não fale para todo mundo que ama, não é verdade, afinal esse é um sentimento nobre e não uma palavra, apenas. Use-a com cuidado, apenas com quem te faz sentir o amor verdadeiro.

Por fim olhe por você, estamos aqui por nós e não pelos outros. Se preocupe com suas atitudes, com o que fala, como trata os outros, isso é o que faz de você um ser único, jamais existirá outro como você. Não decepcione quem te ama. Se seguir cuidando da sua vida, do seu caminho e dos seus sonhos terá cem por cento de chance de ser feliz. O que fica é o que fomos, e não o que acumulamos. Viva, ame e permaneça com sua família. Isso é a vida.