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A adultização precoce e o perigo desta irresponsabilidade.

Há muito tempo vem se falando sobre adultização de crianças, eu mesma escrevi uma crônica falando sobre o assunto. Crianças sendo expostas na internet desde muito pequenas, pela inteligência, esperteza, pelo jeitinho de falar. Enfim, formas que os pais encontraram para viralizar através de seus filhos, como se o mundo hoje fosse contado por curtidas ou visualizações, uma necessidade imensa de aparecer.

Muitos conseguiram, e até começaram a fazer merchandising através desta exposição, aparecer cada vez mais, e o dia a dia dessas crianças foi mostrado normalmente, sem que pensassem no que poderiam estar fazendo com seus próprios filhos. Hoje alguns são famosos, mas a infância foi, infelizmente, perdida, porque até brincar é mostrado pela câmera. Como serão essas crianças daqui a alguns anos?

Fora essa exposição proposital, tem também aquela por excesso de amor e querer mostrar o crescimento, os momentos de felicidade, passeios. Só não esperávamos que houvesse tantas pessoas arquitetando contra os pequenos, roubando fotos, vídeos de família para exibir essas crianças como se estivessem à venda, e realmente tem quem compre essas imagens para vender a pedófilos.

Não é de hoje que se fala de não postar fotos de criança, principalmente com uniforme de escola, em frente de casa, carro, lugares em que você esteja em tempo real, mas nada disso importa, todos querem mostrar onde e o que estão fazendo, e tudo isso só facilitou o crime e os golpes, que não param; cada ora é um novo que aparece. As crianças e adolescentes correm perigo somente por postarem fotos, por serem atraídos por joguinhos, com jeito de criança, para chegar mais perto, com plataformas escondidas de acesso que parece inocente, mas não é.

Agora que foi revelado pelo influenciador Felca, fotos de crianças vazadas, vendidas, exploradas por pedófilos e muitas pessoas interessadas em viralizar às custas da infância, e até alguns pais que recebiam uma mesada em troca da adultização de seus filhos, acendeu um alerta para o que está de fato acontecendo com essa fase da vida que é tão curta, especial, complicada, e que muitos não estão se dando conta de que estão acabando com o mundo infantil, colocando-os no mundo adulto erotizado, pernicioso e perigoso.

O que será dessa geração daqui a alguns anos, qual tipo de adulto se tornarão, o que poderão contribuir para um mundo melhor, se eles estão sendo jogados num mundo sujo? Será que precisaremos reeducar os adultos para podermos criar crianças mais conscientes da vida, que possam brincar, entender a vida através da brincadeira como era antes? Pular corda, amarelinha, brinquedos e não telas, dar risada, ter amigos. Quando foi que isso acabou? Por que tanta pressa de os filhos crescerem se a infância é a melhor fase da vida?

A partir disso conseguimos enxergar os porquês que hoje não conseguimos entender. Tanta violência, abuso contra a mulher, abuso no trabalho, na escola, na vida. O que essas crianças estão aprendendo é que estão levando a todo esse caos que estamos vivendo. Filhos que não podem deixar de ter tudo o que desejam, crescem ansiosos, imediatistas, não aceitam o não! A birra incessante até que consigam o que querem. A falta de presença dos pais transformada em material, luxo, a ter.

A falta de paciência dos adultos, os berros, a violência dos pais contra as mulheres; não raro com seus próprios filhos. Priorizar a vida do casal e deixar os filhos de lado. Não participar da vida escolar, saber dos amigos, com quem anda, onde está, ou melhor, com quem está falando, se realmente aquilo é um jogo. Chegamos a um terço do século com toda a população, não se exclui nem a infância, envolvida em um verdadeiro caos humano. Como podemos exigir respeito, se os adultos não respeitam nada nem ninguém, são os tais exemplos que tanto se fala e não se faz. Se um pai ou uma mãe vai até a escola defender um malfeito do seu filho agredindo, mesmo que verbalmente, um professor, qual exemplo ele dará para seu filho? Que tudo se consegue na violência? A criança aprende e cresce violenta. É responsabilidade dos pais, sim, pois são eles que devem proteger e zelar pela vida de um menor. Se isso não acontece, em quem confiar? Expor seus filhos na rede, de forma irresponsável, é entregar de bandeja à prostituição, à pedofilia.

Quantos homens e mulheres estão despejando suas frustrações nas crianças, na escola, aonde for, sem sequer refletir sobre suas atitudes, só querendo ter razão. Quantas crianças estão carregando problemas psicológicos por não saberem se defender, tendo problemas de aprendizagem, relacionamentos com colegas, professores. Estão sofrendo e precisando de ajuda, mas não são escutados (escutar é diferente de ouvir), tornam-se agressivos e isso vira uma bola de neve. A escola chama atenção, chama os pais, e não querem resolver, defendem e o problema continua.

Por isso a importância da educação socioemocional, mas também é necessária a educação familiar, podemos ajudar as crianças e adolescentes, mas e os pais querem aprender? O dinheiro tomou conta da cabeça das pessoas, tudo gira em torno do dinheiro, e tudo acaba em doença mental, e é a última que se pensa em tratar. Sem saúde mental não há solução para tanto problema. Sem regras rígidas não tem solução, sem responsabilização não tem o que ser feito.

Para acabar com a violência precisa de uma educação eficaz em casa, parceria com a escola, respeito e responsabilidade dos responsáveis. Só assim teremos um mundo e uma sociedade preparada para colocar filhos no mundo que possam fazer a diferença, e não para continuar com a violência. Cuidem dos seus filhos, protejam, conversem, mostrem os caminhos perigosos que podem encontrar na internet. Ser responsável é a melhor forma de começar a pensar em ter filhos. Eles nãos nascem sem caráter, eles aprendem dentro de casa.

“Se você perceber algo de estranho com alguma criança ou adolescente, que esteja correndo perigo, não hesite em denunciar. Disque 100 Direitos humanos em completo sigilo, ou ao Conselho Tutelar da sua cidade, ou região”.

Por Maristela Prado

Adultização infantil

Já faz algum tempo que não estão tratam mais a criança como criança. Essa é a fase mais importante da vida, é onde começa a se formar o caráter de uma pessoa, é onde começam os primeiros ensinamentos da vida que moldarão a todos para a idade adulta. O que fazer para não inserir a criança no mundo adulto?

Primeiro é necessário que os pais ou o responsável pela criança tenha a noção de que a criança ainda está em processo de conhecimento e, para falar com ela, deve existir a preocupação de usar palavras e formas que a criança compreenda, de acordo com a idade. Não se fala com criança como se fala com um adulto, não é legal deixar a criança participar de assuntos que não é do mundo dela – nem tudo precisa saber, esse cuidado é muito importante.

O que tem acontecido no mundo atual é a exposição desacerbada diante da internet, principalmente em vídeos como Tik-Tok e Reels, com crianças fazendo dancinhas sensuais, falando como adultos. Algumas até viram influencers, ganhando curtidas e, não raro, com contratos com emissoras de televisão e patrocinadores, os quais os pais é quem gerem o negócio. Ou seja, não deixa de ser um trabalho infantil, pois tem obrigações com conteúdo para garantir o patrocínio. O excesso de telas certamente é o maior problema e causador do acesso, e, pior ainda, a influência que vídeos que circulam pela internet têm sobre as crianças, tornando-as ansiosas por quererem ser aquela pessoa da tela.

Naturalmente que sabemos que as crianças têm vida escolar regular e outras atividades, afinal os pais sabem (ou deveriam saber) bem das obrigações legais que se tem com um filho menor de idade. Tudo bem que a gente se derrete quando vê o filho fazer alguma coisa muito legal e quer divulgar, não acho de todo errado, mas tem que existir limite entre o mundo real e a fantasia. A criança não tem essa dimensão, essa é uma obrigação dos pais, que normalmente incentivam a exposição ou fazem vistas grossas às brincadeiras que os pequenos expõem nas redes sociais. A brincadeira é o meio de aprendizado da criança, se não tiver essa fase ficará cansada e desmotivada.

Os meninos também têm sua figura exposta, principalmente como influencer de jogos e também dancinhas na internet, se comportando como um mini adolescente. Entre os dois gêneros existe a vestimenta e aparência exacerbada pelo corpo, cabelo e roupas. As meninas ainda mais, maquiagem, acessórios e, inclusive, comportamento de mocinha, no andar e gestos. A criança torna-se vulnerável a informações e situações com as quais não sabe lidar.

 Certamente o mundo mudou muito nos últimos anos, mas a infância é curta, mas não por isso sem importância. É justamente por esse motivo que se deve dar mais atenção, aproveitar essa fase, que passa tão rápido, e fazer da vida das crianças um mundo muito feliz e repleto de brincadeiras, porque a vida adulta é longa e não tem brincadeira, quem brinca se dá mal.

Essa adultização causará muitos danos no futuro da criança, como lhe foi roubado o direito de ser criança, pode se tornar um adulto infantilizado, frustrado e vazio, despreparado para a vida adulta de verdade, afinal viveu essa fase fora da sua realidade cronológica de forma florida e fácil, mas que na verdade isso poderá lhe causar sérios problemas.

Se a criança pular essa fase vai dar um salto tão alto que lá na frente não saberá nem como chegou, e aí o mundo real vai apresentar situações que a brincadeira de criança pode se tornar um pesadelo, e isso não tem volta.