Assédio moral. O perigo mora ao lado

Estamos atravessando um século de graves problemas de relacionamento. E digo mais, em todo tipo de relacionamento. Já falei muito em opinião, de ter razão, estar certo. Mas e as relações interpessoais com colegas de trabalho, amigos e família, como andam?

Certamente cheias de problemas, pois se não nos entendemos nas opiniões, imagine em posições. A posição que ocupa no trabalho, por exemplo, é uma batalha diária para quem vai alcançar o melhor lugar, ser o mais esperto.

Só que para isso é necessário que os que não fazem parte de um grupo fiquem de lado, sofrendo com a falta de comunicação que é tão importante nas relações. Assim, excluídos, passarão a ser praticamente invisíveis, certamente cartas erradas tiradas do baralho, descartadas para dar espaço a quem pouco faz para merecer, mas ‘merece’ mesmo assim.

Acontece que muitas pessoas acham que assédio moral é apenas um desrespeito que só acontece com os outros, mas pode estar ao seu lado e você nem percebeu, ou ainda, pode ser você mesmo que esteja praticando sem se dar conta, prejudicando um colega na sua vida, na saúde, sendo o responsável por uma depressão, pela perda de alguém que não foi aceito naquele grupo.

O assédio costuma vir de colegas ou até mesmo de chefes, que utilizam do cargo para ter autoridade; um grande equívoco, pois autoridade não é depreciar, xingar, humilhar, excluir, isolar, isso é autoritarismo abusivo por falta de capacidade de liderança, um líder traz a equipe pra perto, está junto, diz nós e não eu.

Quando vimos crianças e adolescentes passarem por bullying não pensamos que é a mesma coisa, que é um assédio do qual estão sendo vítimas desde cedo e que traz sérios problemas para quem sofre desse abuso, que pode destruir uma pessoa apenas humilhando, isolando, excluindo e ridicularizando só para se sentir superior. No entanto, o assediador é muito mais inferior do que possa imaginar, pois só o fato de precisar diminuir alguém já demonstra o quanto é incapaz.

Os comportamentos abusivos ultrapassam as relações amorosas, encontramos problemas graves em todos os lugares. Para ser aceito em grupos é preciso estar nos padrões deste século repleto de exigências. Estamos morrendo porque não temos o corpo perfeito; deixa de comer para ser magro e não está feliz, mas está no padrão. Não bebe? Começa a beber, senão é babaca; começa a beber e não consegue mais parar.

Cerque-se de pessoas inteligentes e não espertas, assim terá bagagem para ser grande na vida e seguir o seu caminho do lado certo. Pessoas inteligentes te ensinam os valores da vida, a agir com talento e capacidade. As espertas apenas fazem tudo errado para chegar aonde não são capazes de decidir nada, e sequer saberão um dia o que você sabe.

O assédio moral em qualquer forma é crime, e crimes têm que ser denunciados. Isolar ou excluir uma pessoa de um grupo é assédio moral interpessoal e pode render uma boa dor de cabeça para quem pratica. Portanto, fique de olho e se informe, se souber que alguém se encontra nessa situação, denuncie, pois só assim talvez acabemos com os abusos.

Solitude e solidão

O que solitude tem a ver com solidão? Nada. São estados distintos de se sentir, enquanto um traz o vazio de estar sozinho, isolado, o outro é gostar da sua companhia, uma escolha, seu momento sozinho.

Tem quem não suporte estar sozinho, não gosta do barulho da própria mente, é como se não quisesse se auto entender. Realmente é difícil para o ser humano se encontrar com os problemas que o atordoam, mas também é a melhor forma de compreender e refletir.

Quando estamos sozinhos encaramos quem somos de verdade, o que pensamos e o que queremos da vida. Não é raro pegar alguém sozinho pensando em voz alta e até dançando sem problema algum, é estar longe do julgamento das pessoas, é ser livre.

Estar sozinho é encontrar-se consigo mesmo, descobrir os vários ‘Eus’ que existem em você, a pessoa a qual é de verdade. O direito a estar no silêncio, a ouvir uma música, meditar, simplesmente silenciar.

Já a solidão é triste, uma pessoa solitária está isolada da sociedade ou até mesmo da família, apesar de às vezes estar acompanhada, mas se sente só. Isso é a pior forma de sentir solidão. A tristeza traz sofrimento, o não pertencimento, podendo desenvolver distúrbios psíquicos como a depressão. A condição de sentir solidão não traz bem-estar psicológico.

É importante cuidar da saúde física e mental para ter uma qualidade de vida melhor, fazer o que gosta, o que traz prazer. Pode ser ouvir música, ler, caminhar. Seja o que for, desde que de alguma forma não se sinta só. Não deixe que sua condição mental afete sua saúde física. Sentir-se bem e em paz é o melhor remédio para salvar a sua vida.

Embora nasçamos sozinhos e morramos sozinhos, o meio tem que ser vivido com pessoas, tem que ter amor, afeto, tato, carinho, alegria e tudo mais que a vida oferece. Como diz a música de Lulu Santos: “Vamos viver tudo o que há pra viver”

A solitude é necessária, mas a solidão, não.

As emoções não são uma bobagem

Recentemente foi lançado um livro da bióloga brasileira Natália Pasternak e seu marido, o jornalista Carlos Orsi, intitulado ‘Que bobagem’, colocando em xeque a psicanálise como não ciência, ou pseudociência. O livro vem provocando revolta no mundo psicanalítico, sendo desqualificado quanto à sua eficácia.

Para quem não conhece o estudo feito por Freud, o precursor do funcionamento da mente, que aliás era neurologista, mas acabou se dedicando à pesquisa das neuroses, não pode se basear apenas em aspectos palpáveis, os quais se resolve com medicamento. É muito mais do que isso.

 Como diz Vera Ianconelli, psicanalista e doutora em psicologia pela USP, no seu brilhante artigo no jornal Folha de São Paulo: “A ética freudiana faz enorme falta entre nós.” “A maior façanha de Freud foi sustentar com sua genialidade, o desconcerto diante do não saber.” “O tema da cientificidade da psicanálise é antigo e fascinante, mas nem tudo está à altura dessa discussão.”

Para falar com veemência sobre um assunto o qual seu conhecimento não tenha sido estudado, mas elaborado em cima de pesquisas – as quais podem ser favoráveis ou não – ficará apontado apenas na sua opinião. Não que o casal não tenha capacidade, mas é baseada na área de cada um. Reforçando que tenho cursos paralelos sobre psicanálise e estudo muito sobre a terapia, mas meu interesse é sobre o comportamento do ser humano e suas causas. Escrevendo passo informações sobre o que aprendo e acho importante que mais pessoas saibam.

Os sentimentos estão ligados diretamente com a saúde mental, visto que depressão, ansiedade, TDAH e pânico, entre outras doenças relacionadas aos sentimentos, são controladas com medicamentos, mas com a necessidade de um acompanhamento psicológico. Tudo começa nos pensamentos, na dor, tristeza, medo, amor, e torna-se doença. Se todos cuidassem mais da saúde mental não haveria tanta doença.

Não dá para tirar um tumor desses sentimentos, mas dá para descobrir de onde veio, como começou. Traumas nascem dentro de nós e o único remédio poderia ser as atitudes que tomamos, os caminhos que seguimos, as coisas erradas que falamos e fazemos. Um dia isso tudo se torna um monstro dentro de nós, e precisamos de alguém que entenda e nos ouça para que isso possa ser compreendido, aceito e transformado.

As tarjas pretas controlam, relaxam, são necessárias em alguns casos, mas não curam, o que a psicanálise faz é encontrar a causa, não a cura.  É o seu entendimento, é saber lidar com isso sem prejuízo, e isso só é possível com terapia.

 Os problemas emocionais sempre existiram, mas eram tratados em manicômios com choques e medicamentos pesados, por vezes desnecessários, causando graves problemas. O mundo atual gerou muito mais transtornos, mentes estão perturbadas pelos impulsos do ter, pelo fracasso, pelas opiniões e pelas imposições em prol do próprio ego.  

Existem estudos sobre a eficácia da psicanálise, que se designa como ciência natural, ou seja, mecanismos naturais do inconsciente dos processos cerebrais, sendo da mesma natureza de outros processos psicológicos. Portanto, se tantas pessoas já se beneficiaram com o tratamento, a quem interessa desmistificar isso? Freud explica.

O futuro da geração 2000

Outro dia assisti a uma entrevista com crianças dos anos 1960 sobre como elas achavam que seria o ano 2000, e imaginaram desde computadores que dominariam o mundo, robôs, superpopulação e até o aquecimento global. A profecia foi feita com sucesso.

Agora poderíamos fazer o mesmo com as crianças dos anos 2000, ou seja, como elas acham que será o mundo daqui a 50 anos? Talvez um pouco previsível, já que a tecnologia não para de avançar.

É preocupante ver que robôs estão dominando o ser humano, e até que ponto isso pode ser positivo? O que será do futuro, se já estamos vivenciando o quase sedentarismo mental? Sem qualquer esforço, o ser humano será imprestável, já que um robô o está substituindo aos poucos em tudo, tomando conta.

Se conhecimento e cultura se adquirem lendo, escrevendo, estudando, como tudo isso será sem que haja interesse e disposição em aprender? Só será necessário dar comandos. Será que seremos servos dos robôs? O ser humano está sendo tragado por máquinas e nem percebe o tamanho do buraco.

Dizem até que os robôs vão se rebelar contra nós. Não acho que chegará a tanto, mas é fato que o humano, e modo geral, está se deixando dominar, ficando tudo mais fácil, sem muito trabalho. E se isso se tornar tão confortável ao ponto de não sermos mais capazes de agir sozinhos? Quanto pode ser destrutivo? Afinal, corremos o risco, inclusive, sobre o que podem fazer com nossa imagem, voz e até com nossa vida.

Essa nova geração de crianças já nasceu num mundo tecnológico, pois o primeiro contato com as telas começa muito cedo. É comum ver bebês que já ficam distraídos vendo imagens e joguinhos no celular ou tablet. O estrago começa mesmo antes do desenvolvimento cognitivo, e os equipamentos fatalmente serão os passatempos prediletos.

As telas invadiram as escolas, a princípio com um bom propósito, nas quais as crianças faziam pesquisas em sala especial, montada com computadores, mas aos poucos foi permitido o uso de tablets nas salas de aula para facilitar o processo. Mas por que isso seria importante no aprendizado, visto que já utilizam em casa na maior parte do tempo? Não sou contra a informatização das escolas e do processo de ensino apenas acho que as crianças já passam tempo demais em frente às telas, e as escolas colaboraram para que não se desconectem. Os livros didáticos e a escrita com as próprias mãos não podem deixar de existir, são ações que servem como estímulo ao cérebro e também à memorização do que se escreve. É assim que se aprende.

Na Suécia já voltaram ao processo dos livros didáticos e aboliram o uso de telas nas escolas. Isso porque, de acordo com pesquisas, os alunos suecos tiveram uma queda no aprendizado, que estaria relacionada ao fato de a tela tirar a concentração, enquanto em livros de papel é mais fácil a memorização. Esse exemplo deveria ser seguido, visto que as crianças e jovens brasileiros passam um tempo muito grande do dia focados nas telas.

Agora mesmo, aqui no Brasil, em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas disse que iria digitalizar as escolas em 100% em 2024, mas como a notícia não teve boa repercussão, ele voltou atrás e disse que irá encadernar esse material para quem assim preferir. Esse assunto é um tanto polêmico e não vou discutir, apenas quero chamar a atenção do que essa tecnologia desenfreada pode repercutir negativamente com o futuro dessa geração.

Nossas crianças não conheceram a infância de verdade, como foi com as gerações anteriores. Não existe mais programa infantil, músicas e nem mesmo desenhos compatíveis com a ingenuidade de uma criança. Não tem mais fantasia, o mundo real faz parte dos pequenos muito rápido, o excesso de informação acelerou a puberdade, e a melhor fase da vida acaba muito cedo.

Espero que tudo seja diferente, que essas crianças sejam adultos inteligentes e mais humanos do que temos hoje. Que possam mudar o mundo com a tecnologia que nasceu com eles e fazer um lugar melhor para se viver.

O sentido da música na vida

Quem me acompanha sabe o quanto amo a música brasileira, já fiz várias críticas em biografias de nossos artistas da MPB. Cantam nossa língua, a nossa cultura.

Nas biografias vi a dificuldade que encontraram e ultrapassaram para se consagrarem e serem reconhecidos como artistas. Nunca foi fácil, a trajetória também não. Fizeram história, alguns passaram por exílio numa época em que tudo era proibido, uma simples menção já era considerada uma afronta. Tudo mudou, muitos já partiram, outros estão se aposentando, mas conquistaram uma legião de fãs espalhados pelo país.

Esta semana Caetano Veloso completou 81 anos, está deixando os palcos, meu ídolo. Me apaixonei pela literatura quando estava na faculdade de letras, pois na aula de interpretação de texto tinha um professor muito descolado e culto que nos dava letras de músicas do Caetano, dificílimas de decifrar, mas de extrema cultura, um linguista brasileiro.

Assim como ele, Gilberto Gil, Milton Nascimento e nossa mais recente perda, Rita Lee, foram artistas revolucionários em uma época em que se arriscaram a fazer música no país, sofreram com a repressão, mas se consagraram, eternizaram músicas que são ouvidas até hoje. Lotam shows, emocionam, inspiram novos artistas, estão deixando um legado na cultura.

Música, para quem gosta, tem sentimento e te leva a um passado cheio de saudade, um presente que te mostra a vida leve e solta. Dançar, cantar, emocionar faz bem pra vida, faz a sua endorfina dar prazer, felicidade – aqui entram os momentos de felicidade, a alegria, gostar da vida como ela é. Nesse momento não tem rico nem pobre, nem poder, nem nada, existe você e seu sentimento, o viver a vida e só.

Sou de uma família totalmente musical, cresci em meio a festas de família com muita música e alegria. Meus pais se conheceram na Rádio Clube, minha mãe cantava e meu pai fazia parte de um conjunto de músicas de samba canção, tocava violão e cavaquinho, tocava não, toca ainda. Aos 86 anos, todos os dias, acompanha pela internet conjuntos de chorinho com seu violão, é uma alegria de viver! Minha mãe ainda se arrisca a cantar, e canta bem!

Meus tios também se conheceram na mesma rádio, ele tocava bateria e ela cantava (in memoriam) , nenhum deles seguiu a carreira, mas influenciaram toda a família, filhos e sobrinhos, e assim cresci e aprendi a gostar de música, de todo tipo.

Não há como se sentir triste ouvindo música, é bom esquecer um pouco as coisas ruins que acontecem lá fora, relaxar, sorrir e até chorar de emoção. Faz bem.

Abaixo deixo um trecho da música “GilGal do álbum Meu Coco” de Caetano Veloso.

“Ele me ensinou
O sentido do som
E eu quis ensinar
O sem som do sentido”

Quem é um anjo?

Você é um anjo? Temos anjos na nossa vida vez ou outra, mas são ocasiões, fatos isolados. Dizer que alguém é um anjo acho que não combina com nossa atual situação social mundial, pois temos mais maldosos do que anjos.

Todos nós podemos ser parcialmente bons e maus, dependendo da situação. Por mais que tente ser um, tem momentos que não dá, perder a paciência é humano. Por isso não acredito em falsos anjos falando com voz baixa, em compasso lento, quase chorando. Prefiro alguém que fale com consistência – isso não significa grosseria; falar de verdade.

Certo dia passei por uma pedinte na rua, sentada no chão com uma criança de colo, quando me pediu e não dei – quem anda com dinheiro na bolsa hoje em dia? Ela simplesmente blasfemou contra mim em voz alta, mas quando pediu a voz era baixinha, como de quem não tem mais forças.

Está difícil acreditar nas pessoas. Presenciamos fatos que até chegam a nos deixar mexidos e com dó, mas como nada fica escondido por muito tempo, a verdade sempre aparece e assim descobrimos a verdadeira face.

Os comportamentos estão cada vez mais evidentes, ninguém mais consegue enganar. Já vi muitas pessoas levarem embora tudo o que acreditei um dia, pessoas que vestiram máscaras, personagens que se dissiparam. O modus operandi da farsa está em risco, estão seguindo um padrão de comportamento aos quais muitos aderiram, mas também muitos já deixaram transparecer.

Hoje nos deparamos com a maioria dos jovens vivendo essa farsa, estão seguindo um caminho na vida ‘adulta’ em busca do material, sem rumo. Procuram chegar em algum lugar, mas não querem alcançar com os próprios pés. Daí o vitimismo é uma estratégia genial. Ninguém ensinou que o mundo lá fora não adianta chorar? Somos descartáveis.

Por isso não existe um anjo humano, poucos querem fazer o bem, apenas receber. Mas como, se ninguém quer dar? É melhor seguirmos nosso caminho contando com a gente mesmo, às vezes somos os nossos próprios anjos e às vezes também somos o nosso próprio azar.

Selva de pedra

Hoje (27 de julho) eu publicaria uma crônica diferente, sobre outro assunto, mas aqui em São Paulo aconteceu um fato muito chocante, e mais uma vez venho falar sobre o machismo abusivo que, nós mulheres, estamos enfrentando, e. mais que isso, ainda assim sendo julgadas.

Uma garota de seus vinte e poucos anos foi brutalmente agredida por um ‘homem’ que passeava com seu cachorro. Para infelicidade da garota, o pneu do carro que dirigia pegou no meio-fio e bateu na guia da calçada, assustando o cachorrinho. E este assistiu, ao lado de seu tutor, mansamente, a violência mais descabida a uma mulher. Em provável ofensa verbal, como mostra nas câmeras, a moça se aproxima e leva uma cabeçada, a qual quebrou seu nariz, passando por cirurgia, e afundamento da face. Apenas porque teria assustado o cachorrinho, que estava tranquilo ao lado do agressor.

Claro que ele está sumido, afinal, ele está certo. Ser macho com uma mulher é fácil, mas na hora de encarar a Justiça o machismo some. Infelizmente é o que temos hoje, homens achando que ser macho é ser violento, agredir psicologicamente e fisicamente uma mulher, mas assumir os erros e encarar os desafios que a vida traz, ah! isso não querem não.

Esse tipo de comportamento está gerando o fim das relações interpessoais, não há mais o respeito, a preocupação. Estamos numa selva de pedra habitada por muitos animais racionais que estão voltando a se comportar como animais irracionais, ganhando a batalha no ataque físico porque deixaram de pensar, pois o impulso é animal, nunca foi humano. As mulheres não podem mais ser alvo desses homens agressivos, a sociedade enlouqueceu.

Ainda tem quem defenda uma atitude dessa e julga a mulher, dando adjetivos sem saber o fato real, apenas suposições. Seja qual for a suposição, nada justifica a violência, e se para você justifica, então não há mais o que fazer. Se um dia disseram que o fim do mundo chegaria, acho que estamos perto do fim.

A tragédia da vida

“A vida é uma tragédia, não um drama”

(José Celso Martinez)

A melhor frase que ouvi nos últimos tempos para definir a vida. Passamos a vida em busca de alguma coisa que nos traga satisfação, acalento para a alma, mas frequentemente não acontece como planejamos, quase sempre somos surpreendidos com aquilo que não queremos. Qual seria o motivo para não acontecer como se imaginou? Porque não temos o controle de nada, não entendemos que temos um propósito para esta vida, e que certamente insistimos naquilo que não é para ser. Está dando tudo errado? Não, está dando tudo certo, talvez aquele sonho seria a pior coisa que poderia acontecer na sua vida.

Sabe aquela frase “remando contra a maré”?, é isso, não chega a lugar nenhum, depois acha que nada dá certo, só acontece com você; é um drama, quando na verdade demoramos a entender que o caminho é outro, talvez até chegue aonde deseja, mas antes precisa aprender algumas coisinhas, conviver com pessoas que não vai gostar, passar por situações que não estavam no seu programa de satisfação, mas é o que tem que ser.

A tragédia da vida está justamente nas frustrações que nós mesmos causamos, nas expectativas que colocamos nas coisas e nas pessoas e que não nos agradam. A tragédia é que são mais espinhos do que flores, muitas pedras no caminho para ultrapassar, uma batalha após a outra.

Nada volta da mesma forma que foi um dia, seja bom ou ruim sempre será um novo tempo, um novo lugar, uma nova situação. Entre o passado e o futuro viva o presente, é aqui que está se construindo o futuro, é agora que se prepara, não para o que vai chegar, mas como será o resultado do que está sendo feito hoje. O passado não volta mais, só é capaz de voltar na sua memória, deixe ir, não há mais como mudar.

Mesmo que nada tenha acontecido como queria, tenha a certeza de que aconteceu como deveria, e não adianta fugir e nem culpar ninguém, na sua vida quem rema é você, são suas escolhas que te definem, se você não mudar ou não quiser entender você será o único culpado da maré te desviar do seu caminho. Está certo que às vezes entramos no barco com alguém que nos levará para as pedras, e, mesmo assim, entrou no barco porque quis.  

Essa tal felicidade

 Palavrinha muito falada e pouco vivida. Por que todo mundo quer ser feliz? Você sabe a definição do que é felicidade? Vamos conversar sobre o assunto?

Ser feliz, estar feliz, fui feliz. Várias conjugações de ser, estar e ter sido. Mas na vida real, sem regra gramatical, o que esse sentimento significa? Olhe para sua própria vida e defina. Você se sente feliz em tempo integral, todos os dias? Se a resposta é não, você está certo, o conceito dessa palavra é feito por momentos felizes e outras séries de fatores que muita gente pode não concordar. Um exemplo disso é a  ética com a vida e o prazer nas pequenas coisas.

A grande maioria associa felicidade a poder, riqueza, fama, prazeres. Não é. Somos seres que precisamos mais do menos, se é que me entende. Uma pessoa que busca a fama sonha com o reconhecimento, ser amado, reverenciado, assim como na riqueza, quando se conquista tudo o que é material, luxo. E o que se precisa realmente para ser feliz?

Se você se desgastar com a busca incessante desses prazeres sem deixar tempo para seu descanso, para sua paz, adoecerá seu corpo, e você precisa que ele esteja saudável para viver. Já os prazeres momentâneos são inerentes a você. Dormir, comer, são necessários e naturais, é vida.

Acontece que, enquanto se busca a felicidade naquilo que não é necessário para sua vida, na verdade está tentando não sentir dor, mas a dor também é necessária e acaba. Ela vem, você aprende, sobrevive e ela vai embora. O medo faz com que se encontre prazeres, muitas vezes destrutivos.

Se somos seres livres, por qual motivo nos apegamos às coisas e pessoas achando que assim seremos felizes? Porque temos medo de admitir nossos erros, nossas escolhas.

Mas e se focarmos nas pequenas coisas, que nem são pequenas, mas aos olhos do ser humano passam desapercebidas grande parte dos dias? A natureza, a brisa, o sol, o pé na areia, uma flor, o mar, a serenidade de um rio, a água que se bebe, a comida que te alimenta. Mas o homem parou de dar importância para isso, colocando em evidência só os seus interesses, e hoje estamos convivendo com a revolta da natureza, nosso corpo está adoecendo mais pelo ecossistema errado, pela insensatez, pelo descaso com o que realmente importa. E todos querem a tal da felicidade.

Como ser feliz num mundo em que a busca pelo prazer é mais importante do que a saúde? O dinheiro e as coisas tomaram um lugar primordial na vida. Volto a falar da tecnologia que nos levou à loucura e ao sofrimento, a frustração do Ter, porque o Ser já nem faz falta mais.

Pessoas que se inflamam por não aceitar a opinião do outro, o pensamento entra em atrito com o sentimento e vira essa baderna que assistimos todos os dias. Matam, agridem sem prudência nenhuma. É necessário medir o que importa. Está se dando mais atenção ao que não importa, por isso a felicidade não chega e nem vai chegar.

Ser feliz não é ostentar, sorrir ou mostrar o que se tem, ser feliz é estar em paz com sua vida, é entender que o essencial é o que basta. Virtude, ética, razão e emoção andam juntas, nem muito nem pouco, tem que haver equilíbrio. A felicidade é muito menos do que temos e do que somos, é uma tentativa de fugir da dor. Não mude pelo mundo externo, pense e sinta na mesma sintonia, se não houver sinergia não haverá equilíbrio.

Se preocupe mais com suas escolhas, o seu tempo aqui tem prazo de validade. Você é a sua história, os seus sentimentos, o que vai deixar na lembrança de quem te conhece. Você nasceu pelado e vai embora sem corpo.

 

 

Da geração de 50 para 2000

O que mudou da geração dos anos 50 até hoje? Na década de 50 foi quando tudo começou a acontecer, principalmente no Brasil. A indústria automobilística se instalou por aqui, a economia do país começou a crescer, o desenvolvimento chegou, o Brasil não era mais um lugar à parte do mundo.

Surgiu a Bossa Nova, o ‘rock’ in rol, o chiclete, a brilhantina, o rabo de cavalo, as saias rodadas, a juventude começou a descobrir um novo mundo. A rebeldia estava presente, e a perspectiva de futuro era grande, muitos foram os jovens que brilharam em suas carreiras. O que diferenciava do nosso mundo de hoje era a educação que prevalecia no meio da sociedade, a hierarquia.

A partir daí, as próximas décadas viriam com mais transformações, na vida, no comportamento, nas conquistas e lutas pelos direitos. A política era relevante, a população era engajada, mas a repressão tomava lugar preponderante, e muita coisa aconteceu. Jovens foram torturados, exilados, a imprensa não tinha liberdade, o medo predominava. Os jovens dos anos 60 e 70 que sofreram com sua coragem na mudança do comportamento, no sexo, na paz e amor dos ‘hippies’ que transformariam uma geração.

Nos anos 80 foi a revolução no modo de vida, no crescimento econômico, as diretas já, que mudaram totalmente nossa história. Em 1985, o Brasil se libertou e nossa sociedade passou da ditadura (regime militar) à democracia. Foi um período histórico, que tenho orgulho de ter vivido, hoje estudado e processo importante do nosso país.

A discoteca, as músicas inesquecíveis daquela época, a moda de lurex, calça boca de sino, os cabelos femininos, como Farrah Fawcett, o ‘glamour’, a vida de verdade sem ostentação, simplesmente com vontade de viver intensamente, estudando, trabalhando e tendo em vista um futuro num país que tinha tudo para chegar ao topo do primeiro mundo, com seu povo alegre e acolhedor. Mas a partir do fim dos anos 90 as mudanças, ainda mais radicais, nos inseriram em um novo século, que mudaria tudo o que não imaginávamos; então, o que aconteceu depois do ano 2000?

Parece que tudo virou de cabeça para baixo, ainda que nos sintamos transformados com a chegada da ‘internet’, do celular e da aposentadoria da velha e boa máquina de escrever, foi bom. Tudo começou a mudar rápido, as transformações não pararam de chegar, nem tínhamos nos acostumados com uma coisa e já vinha outra. Isso começou deixar as pessoas ansiosas, com sede de informação, e com pressa de tudo. De um ICQ e MSN só no computador passamos para um ‘smartphone’ que faz tudo. Filma, grava, manda mensagem, liga, recebe ligação, faz foto de todo tipo, fala e, ao que parece, fotografa seu cérebro também.

Imagina você lendo uma propaganda e de repente começa a aparecer em tudo o que você abre no celular! Daí você pensa. Como sabe que eu quero ver isso? Pois é, essa tal tecnologia sabe tudo mesmo, até o que você pensa. Dia desses assisti a um vídeo que falava sobre isso, fiquei assustada ao saber que esse pequeno aparelho que carregamos nossa vida dentro pode ser o maior traidor, mas no qual confiamos. Será que isso é bom? Eu acredito que não, quero ter liberdade e privacidade nos meus pensamentos, não quero que um computador tenha domínio sobre mim nem que destrua vidas por tanta facilidade.

Existem meios para tudo, te rastreiam e podem te colocar em situações bastante complicadas com toda essa modernidade, que, ao mesmo tempo que é bom, não é. Um assunto bastante difícil de falar, afinal muita gente gosta de tudo isso e não imagina como é viver sem. Mas, assim como eu, muita gente sabe como era receber um telegrama, uma carta de um amigo distante, ligar do orelhão e acabar a ficha no meio da ligação, levar convite de casamento na casa dos convidados e servir picles espetado no melão envolto com papel alumínio.

 É, era simples, diferente, mas a gente era mais feliz. As fotos que a gente tirava só ia ver depois que revelava, algumas queimavam, outras saíam sem cabeça, e estava tudo bem, porque o sorriso na foto era por pura felicidade e não para provar uma felicidade que não existe.  A discoteca era um lugar para dançar, se divertir e poder dançar aquela música lenta com seu crush, palavra que nem existia naquela época. Aliás, existia sim, mas era marca de refrigerante. Os amigos eram de verdade, a vida era mais simples, o amor era de verdade, a comida não era gourmet, ninguém tinha vergonha de gostar de pão com mortadela. A gente era feliz. E você, é ou ainda é feliz?

Crônicas, artigos e críticas literárias