Dando continuidade à série “Abuso”, hoje falo sobre abuso nas empresas. Sim, está em todos os lugares. Nas empresas, principalmente, ocorrem o abuso moral e psicológico, e, com menor frequência, o sexual, com as mulheres, por puro machismo. Pessoas que estão no poder sentem-se à vontade para expor ou coagir trabalhadores. Sem saída e sem ter para quem reclamar, acabam sofrendo por meses, ou anos, pela necessidade do emprego. Uma verdadeira falta de empatia com o ser humano.
Não é raro saber de chefes que usam e abusam da capacidade de um funcionário, mas não o colocam na posição merecida, ao contrário, humilha, desfaz, deixa de lado, às vezes assume o trabalho como se fosse seu, sem dar créditos ao verdadeiro autor. Valorizam o puxa-saco, inventam cargos, mas não dão o reconhecimento verdadeiro a quem trabalha. Isso é mais comum do que se imagina, é só olhar para o número de trabalhadores com depressão, pânico e Burnout que se tem hoje nas empresas. Pessoas exploradas e jogadas fora para dar lugar a quem não sabe nada. Isso quando não são excluídos de grupinhos que fazem ‘qualquer coisa’ para se darem bem.
Existe ainda aquele chefe que faz questão de humilhar na frente dos outros, como se isso fosse uma atitude digna e de respeito. Berros, xingamentos, exposição, isso não é autoridade, é falta de educação mesmo, muitas vezes nem o próprio chefe é bom o suficiente tanto quanto aquele que humilha; aliás, é normalmente a causa da humilhação. A frustração de não ser bom, mas tem o título, e pior, sem capacidades psíquicas para gerir uma equipe.
Muitos são os casos de pessoas que perdem o emprego com a família para sustentar somente por um ‘surto’, assim que se chama hoje a falta de educação, de um chefe que prioriza seu cargo, seu salário, acabando com a saúde mental das pessoas.
O ambiente de trabalho deve ser prazeroso. Problemas e erros acontecem o tempo todo, afinal somos humanos; quando a Inteligência artificial tomar conta, daí xinguem as máquinas, mas, por enquanto, precisamos ter a nossa saúde mental em condições para poder fazer um trabalho bem-feito. Trabalhar não é ser perfeito, é ter competência, responsabilidade e, principalmente, qualidade de vida dentro do seu ambiente. Qual a razão de adoecer as pessoas? Tirar delas a sua paz, o seu sustento, o que se ganha com isso?
Já existem algumas empresas dando importância à saúde mental de seus funcionários, disponibilizando um período de descanso depois do almoço, para relaxamento. É preferível um funcionário saudável a um doente e ausente, e isso alguns já estão enxergando, mas ainda falta muito para entenderem, afinal, que uns precisam dos outros, ou um empresário faria tudo sozinho? Trate bem quem trabalha para você ganhar cada vez mais.
O assédio sexual já é um jeito escroto antigo de ser com a mulher, mas alguns (ou muitos) ainda acham que o corpo de uma mulher é um parque de diversões. Assediar com gestos ou palavras é crime do mesmo jeito. Ou é bonita, ou tem corpo bonito, ou chamativa. São muitos os atributos para justificar o abuso, a culpa é sempre da mulher. Claro, você tem culpa do outro não te respeitar apenas porque é bonita, ou seja, lá o que for; ser mulher, acho que já é o suficiente. Infelizmente isso acontece, homens escrotos que compram as mulheres com elogios, presentes, cargos, sem dar o menor valor para a capacidade que temos, e ainda falo mais, superamos a capacidade quando se trata de trabalho e responsabilidade, mas não é assim que nos veem. Ainda lutamos para sermos respeitadas e valorizadas. Destacar-se diante de um homem e de um cargo é um perigo, mulher não pode ser melhor, não pode comandar, sempre darão um jeito de minimizar, até mesmo armar algo para não dar certo. É homem, e somos apenas uma mulher. Sinto muito, mas não foi somente a tecnologia que evoluiu, hoje uma mulher anda no mesmo patamar que um homem, pois sabe que tem inteligência e sabedoria para ser o que quiser. Somos mulheres.
Ser mulher no mundo de hoje não é uma tarefa fácil, não existe lugar seguro, muito menos respeito, somos exploradas e temos problemas que homem nenhum jamais vai saber o que é, justamente por não ser mulher. Além dos afazeres no trabalho, a grande maioria faz jornada dupla, tem filho, casa, TPM, cólicas, menopausa, um misto de hormônios e responsabilidades. Homens jamais saberiam lidar com tanta coisa ao mesmo tempo, e ainda chamam de mi, mi, mi, antes fosse. Aturar tudo isso é para o “sexo frágil”, o sexo forte gosta de dar soco, agredir, machucar, estuprar, matar, mas não sabe o que a mulher sente na gravidez, o que é dor no parto, amamentar, cólicas, confusões hormonais, trabalho e ainda ser minimizada.
A vida virou uma série de abusos de todas as formas e lugares, pisamos em ovos para falar, para reagir. Enquanto você lê esse artigo, quantas pessoas estão sendo abusadas neste momento? No trabalho, na escola, em casa, na rua. Até quando teremos que aguentar tantas injustiças, tanta falsidade e mentiras?
Ninguém precisa aturar um abuso no trabalho, se você se sente abusado, excluído, ou desvalorizado, não se esqueça que hoje uma mensagem é prova, um e-mail é documento, existem leis de proteção ao trabalhador. Antes que adoeça, aja. Chefes descontrolados devem ser afastados, se adoecem as pessoas, eles é que precisam de tratamento, e não você adoecer por isso. Procure seus direitos, você vale muito mais do que ser comandado por um abusador.
Vou deixar o link de um conto que escrevi para uma antologia que trata exatamente sobre esse assunto, “Um mundo melhor” (2023). O meu conto está na página 19, “O assédio de Arlindo”, leia e reflita.