A TV que não entretém

Liguem os seus aparelhos de TV, é hora de entretenimento.  O que você acessa que pode ser chamado de entretenimento? Programas de humor, geralmente acabam por humilhar alguém. Novelas, sempre tem um ou mais personagens que passam os seis, sete meses no ar armando contra alguém, parece que vivem para isso. Reality show, o nome, norte-americano, até que é bonito, mas entreter o quê? Gente brigando, falando mal do outro, choro, bebedeira. Definitivamente, não é entretenimento.

O que vale a pena mesmo é programa de entrevista; e tem ótimos programas, e canais de streaming com filmes, séries, documentários, musicais que realmente te desligam do cotidiano violento que vivemos.

Essa semana, pós morte de Sílvio Santos, muitas matérias foram feitas a respeito do homem do entretenimento aos domingos. Realmente, ele foi o único animador de plateia, comunicador, apresentador de TV, que fez da televisão, não só aos domingos, mas todos os dias, com sua programação única, a alegria de milhões de brasileiros.

As novelas Carrossel e Chiquititas, as quais fizeram uma geração cantar, dançar, vestir as roupas das meninas, uma febre dos anos 90, mas inesquecível. A série do “Chaves”, passou durante muitos anos, ficaram famosos no Brasil por causa do SBT e programas como do Gugu e Eliana seguiram na mesma linha.

Sílvio Santos foi um idealizador da TV da família, aquela de reunir todos aos domingos, um dia em que não se tem nada pra fazer, e ele entendeu como poderia promover essa união. O conjunto “Titãs” falou sobre a importância dele no começo da carreira do grupo, o espaço que o programa deu a eles com participações em vários quadros. Até compuseram uma música chamada “Domingo” inspirada no programa Sílvio Santos, e na letra mencionam o seu nome e falam sobre o que é o domingo.

Para você que está lendo não sei, mas eu gostaria de ligar a TV e poder relaxar de verdade com programas mais leves. Não quero ver assassinos tendo ibope em quase todos os canais, não quero ver novelas que só propagam a maldade, as armações, o poder e o dinheiro, não quero assistir jornal e saber só de coisas ruins, não quero saber só de doenças, quero saber de saúde e curas; não tem nada de bom acontecendo?

Então por que quando saímos não vemos esse mundo sujo que os noticiários insistem em mostrar? Acontecem as coisas? Sim, acontecem, mas também tem coisa boa por aí e gente boa também, a maldade dá audiência e aumenta o medo.

Precisamos sorrir mais, rir até doer a barriga, passar a hora colocando a cabeça para pensar assistindo um bom filme, aprender com uma boa entrevista, ver gente bonita, assistir gente conversando de coisas boas, assistir um musical, e lembrar que amanhã tem mais vida, tem mais um dia para viver e ser feliz.

As emoções nas crianças

Já ouviu falar em educação socioemocional? É um programa para implementar nas escolas para crianças e adolescentes. Mas o que é isso? É um processo de ensino e aprendizagem no âmbito social, comportamental, pensamentos e emoções, aprender a ter resiliência, empatia com os outros, no caso da escola com amigos, professores, funcionários, para a vida.

Estamos num mundo onde as crianças estão expostas a todo tipo de informação, como a violência, a falta de controle de adultos sendo exemplo para crianças, palavreado inadequado, valores, educação e respeito deixados de lado.

Nunca tivemos tantas crianças com ansiedade, depressivas e consumistas, é comum vermos as exigências mais absurdas pelo consumo, pelo simples fato de ter. O consumo e o descarte de coisas por outras que dizem ser mais avançadas, mas que na verdade é um ponto aqui ou nada apenas para vender, para ganhar, para enlouquecer.

Daí os problemas emocionais em crianças! Vivem como adultos sedentos pelo novo, desfazem de colegas que não têm o objeto de desejo do momento, praticam o bullying, seus valores é o quanto custa, não o que vale a pena. Precisam de ajuda.

Este artigo estava pronto ontem (21 de agosto), quando li uma matéria sobre um garoto negro, gay, da periferia de São Paulo e bolsista do colégio Bandeirantes, um dos mais caros da cidade. O garoto de 14 anos sofria bullying há um ano e meio, desde que conseguiu a bolsa através de um processo seletivo rigoroso para alunos de baixa renda acessarem colégios de classe alta. Avisou a mãe o que estava acontecendo, sofria com a situação, e ela tentava acalmá-lo, mas o garoto deixou de falar no assunto. O gesto desesperado do garoto aconteceu no dia 12 de agosto, quando ele saiu de casa para ir à escola, mas não chegou, tirou a própria vida no caminho.

A escola aderiu ao programa ‘convivência positiva’ depois de muitos fatos ocorridos na unidade em relação a comportamento. A escola não pode ajudar sozinha, tem que haver a colaboração da família para que a disciplina seja alcançada, senão nada disso surtirá efeito. A educação começa em casa, e a família não pode deixar nas mãos da escola a educação dos bons modos e respeito. O adulto de amanhã será exatamente o que aprendeu em casa, e não na escola.

Resgatar a educação não é careta, é necessidade social, é saber que não se pode tudo e nem falar tudo o que pensa, a resiliência é que ajuda a criança a se transformar ou superar traumas. A empatia, saber se colocar no lugar do outro, ‘o que você não quer pra você não faça para o outro’. Ou seja, aprender a lidar com suas próprias emoções e a dos outros também, não achando que o problema do outro não lhe diz respeito, e desta forma sentindo-se mais importante e valorizada.

A escola não educa, a educação vem de casa, mas a escola pode nutrir esses valores, além de instruir didaticamente. São pequenas atitudes no dia a dia que transformam, mas os pais também precisam participar, isso é parceria, e principalmente para seu filho.

Silvio Santos vem aí. Para a eternidade

A morte do comunicador Silvio Santos, sem dúvida, foi a maior cobertura jornalística vista nos últimos anos, até por conta da falta do sensacionalismo existente em mortes de celebridades, mas ele mesmo pediu para que não fosse visto morto. E eu concordo plenamente. Qual a intenção de as pessoas virem uma figura tão querida e consagrada, durante setenta anos de pura alegria, morto no caixão? O choro, a curiosidade, o adeus?

A imagem que sempre achei que devemos ter de qualquer pessoa que se vá é de quem ela foi, do que de bom deixou. A morte é um fato natural da vida, mas é dura e jogada como um balde de água fria. Acabou.

Quem foi Silvio Santos, o homem alegre, sorridente, que comandava uma emissora de televisão e estava à frente de um dos programas mais assistidos e adorados pelo povo brasileiro? Quem era o Senor Abravanel?

Foi um homem com sonhos e um talento para a comunicação que, muito novo, foi descoberto e teve a oportunidade de mostrar a que veio. Não nasceu em berço de ouro, não tinha vergonha de dizer que foi camelô. Sabia que para chegar aonde sonhava precisava batalhar e correr riscos, e foi o que fez. Mas nunca deixou que suas conquistas o deixassem olhar só para cima, olhava dos lados, e também para baixo.

Agia com seus funcionários com justiça e respeito, o que sempre falo nas minhas crônicas; a base de tudo é o respeito. Sabia reconhecer os méritos, mas os erros também, era justo com quem merecia, ajudava, sabia das aspirações de cada um de seus artistas, e respeitava suas escolhas. Ele não teve sorte, foram suas boas ações que o tornaram reconhecido, aclamado e querido pelo povo. ‘Quem faz o bem recebe o bem, e vice-versa também’.

Naturalmente que não sabemos dos bastidores de sua vida íntima, e não precisamos saber disso, conhecemos o comunicador, aquele que sempre com um sorriso e bom humor falava com milhões de pessoas todos os domingos, sua presença era só alegria, e o que mais colocamos dentro de nossas casas todos os dias através da televisão são apenas péssimas notícias, morte, maldade, inveja. Por isso ele falava: “Vamos sorrir e cantar”.

Mas agora o povo brasileiro terá que se acostumar sem o Silvio Santos, embora estivesse fora das câmeras havia algum tempo, mas certamente comandava de casa; agora não, sua linda missão na Terra foi cumprida. Suas filhas herdam o legado, só o futuro dirá como será.

Do Senor Abravanel pouco sabemos das controvérsias, só sabemos do que de melhor ele fez, e muitos deveriam seguir, mas os bons exemplos não querem, porque os maus exemplos são mais fáceis e rápidos de conquistar o topo, não importa a que preço, só interessa aonde vai chegar, e esse topo nunca tem fim. Um dia cairão, é rápido também, não terão homenagens, não serão lembrados e tampouco consagrados pela eternidade. A vida é de escolhas, as consequências também. “Da vida não se leva nada, vamos sorrir e cantar” (Silvio Santos). Tudo o que ele conquistou ficou aqui, e ele sempre soube que assim seria.

A língua portuguesa do Brasil mais americanizada

Quando nos deparamos ou somos chamados para uma vaga de emprego, uma das principais exigências é inglês fluente. Alguém já te perguntou se você domina sua língua? Claro que não, o importante é saber falar inglês, escrever na língua inglesa e usar termos em inglês o tempo todo, até mesmo para decifrar o que significa aquela vaga. Está cada vez mais difícil compreender as expressões usadas nas ofertas de vagas de emprego.

Você pode ter todos os atributos para aquela vaga, inclusive experiência, escrita em português impecável, saber interpretar um texto; difícil para os dias de hoje, gramática, pontuação, responsabilidade, mas se não tiver inglês fluente, bye bye. O importante é arrumar um job no qual você possa mostrar seu know-how em leads. Ter um mailing e ser multitasking e ter um bom network

Durante as olimpíadas, a ginasta Rebeca Andrade foi indagada se falava em inglês, e ela, muito educada e sensata que é, respondeu que sim, mas não fluentemente. Se sente mais à vontade em falar em português, porque é brasileira. Achei sensacional sua resposta, de fato temos o dever de prestigiar e falar muito bem a nossa língua. Do que vale ser fluente em inglês e escrever ou falar errado a própria língua? Com quantos sites de notícias nos deparamos todos os dias com erros grotescos que passam batido, talvez um ou outro seja fluente no inglês, mas precisa escrever em português.

O brasileiro é o povo mais americano que existe, valoriza não só a língua, mas tudo que vem de lá, e desfaz do seu próprio país. Precisamos saber outras línguas? Sim, é importante, mas não precisamos americanizar tudo, podemos usar o nosso vocabulário, que é tão rico, com palavras formais ou informais que têm o mesmo significado.

Como digo no segundo parágrafo: ‘O importante é arrumar um emprego onde você possa mostrar seu conhecimento em descobrir clientes em potencial. Ter capacidade de executar sua função com uma boa rede.’ Ok?

Simplesmente falar em português, você entende, todo mundo entende.

O feminicídio tratado com arrogância

Hoje não pretendia voltar ao tema ‘violência contra a mulher’, mas me vi obrigada porque algumas situações são inadmissíveis e exigem posicionamento. No fim de semana presenciei a atitude de dois indivíduos, um tanto duvidosos, em um local público. O lugar estava cheio, principalmente de casais, quando, para a infelicidade de todos, esses dois entraram e, apenas bebendo, falavam alto e com arrogância, para que todos pudessem ouvir, sobre crimes contra a mulher, qualquer mulher, incluindo a de um deles.

Não vou contar os detalhes sórdidos dessa triste cena que presenciei, mesmo porque parecia uma cena ensaiada, com a intenção de provocar. Ninguém se manifestou, ninguém ali estava com a mesma intenção deles, apenas um momento de descontração, mas não foi o que aconteceu. Hoje venho pedir uma reflexão não apenas pelo comportamento do ser humano, mas, principalmente, pela índole provocativa, pelo chamado à confusão, pelo propósito simplesmente de incomodar com propostas graves, mas que aos olhos de um ser nitidamente sem nada de melhor a oferecer, chama atenção pelas próprias insanidades e maledicências, como se fosse um troféu.

Nossa sociedade vive em constante tensão nos abusos contra a mulher, por mais que se fale no assunto, parece que querem aparecer mais e mais, como se isso fosse um direito do homem para ganhar o título de poderoso. Isso não existe, definitivamente estamos em outro patamar, onde o machismo não cabe mais, muito menos o feminicídio falado abertamente em alto tom para quem quiser ouvir, e sem represálias, como de fato aconteceu.

Certamente o fim está mais próximo do que imaginamos, estamos num momento de absurdos, pessoas atropelando outras pessoas sem dó, carros sendo jogados para cima de propósito – com a intenção de matar, tiros por puro ‘nervosismo’, a palavra é bem outra. E agora matar é motivo de orgulho, e todos têm que saber disso, gera medo.

Segundo o portal do G1, em reportagem publicada em 3/7/2024,” 0 Brasil registrou 1.463 casos de mulheres que foram vítimas de feminicídio no ano passado — ou seja, cerca de 1 caso a cada 6 horas. Esse é o maior número registrado desde que a lei contra feminicídio foi criada, em 2015.” É inadmissível que ainda haja homens tão inescrupulosos que falem em alto e bom tom sobre matar uma mulher. Não existe nada que justifique matar alguém, muito menos se orgulhar disso. Pior do que falar é afirmar que faz e que essa é a maneira de punir uma mulher.

Até quando teremos que conviver com isso? Estamos no segundo milênio, no século XXI, já se passaram vinte e quatro anos do início, tudo mudou. As mulheres hoje contam com leis a seu favor, não existe mais inocente, não existe mais o medo e a vergonha de falar sobre o que acontece dentro de casa. Se existe homem que ainda acha que tem que matar a mulher, então também existe lei que leva pra cadeia homem assassino.

Não podemos mais admitir isso, mulher é um ser humano, trabalha, estuda, vive. Espero ainda ver mais amor do que ódio, mais respeito, mais educação. Sim, isso também é educação; incomodar é falta de educação, mas se vangloriar de matar, isso é o fim.

Adultização infantil

Já faz algum tempo que não estão tratam mais a criança como criança. Essa é a fase mais importante da vida, é onde começa a se formar o caráter de uma pessoa, é onde começam os primeiros ensinamentos da vida que moldarão a todos para a idade adulta. O que fazer para não inserir a criança no mundo adulto?

Primeiro é necessário que os pais ou o responsável pela criança tenha a noção de que a criança ainda está em processo de conhecimento e, para falar com ela, deve existir a preocupação de usar palavras e formas que a criança compreenda, de acordo com a idade. Não se fala com criança como se fala com um adulto, não é legal deixar a criança participar de assuntos que não é do mundo dela – nem tudo precisa saber, esse cuidado é muito importante.

O que tem acontecido no mundo atual é a exposição desacerbada diante da internet, principalmente em vídeos como Tik-Tok e Reels, com crianças fazendo dancinhas sensuais, falando como adultos. Algumas até viram influencers, ganhando curtidas e, não raro, com contratos com emissoras de televisão e patrocinadores, os quais os pais é quem gerem o negócio. Ou seja, não deixa de ser um trabalho infantil, pois tem obrigações com conteúdo para garantir o patrocínio. O excesso de telas certamente é o maior problema e causador do acesso, e, pior ainda, a influência que vídeos que circulam pela internet têm sobre as crianças, tornando-as ansiosas por quererem ser aquela pessoa da tela.

Naturalmente que sabemos que as crianças têm vida escolar regular e outras atividades, afinal os pais sabem (ou deveriam saber) bem das obrigações legais que se tem com um filho menor de idade. Tudo bem que a gente se derrete quando vê o filho fazer alguma coisa muito legal e quer divulgar, não acho de todo errado, mas tem que existir limite entre o mundo real e a fantasia. A criança não tem essa dimensão, essa é uma obrigação dos pais, que normalmente incentivam a exposição ou fazem vistas grossas às brincadeiras que os pequenos expõem nas redes sociais. A brincadeira é o meio de aprendizado da criança, se não tiver essa fase ficará cansada e desmotivada.

Os meninos também têm sua figura exposta, principalmente como influencer de jogos e também dancinhas na internet, se comportando como um mini adolescente. Entre os dois gêneros existe a vestimenta e aparência exacerbada pelo corpo, cabelo e roupas. As meninas ainda mais, maquiagem, acessórios e, inclusive, comportamento de mocinha, no andar e gestos. A criança torna-se vulnerável a informações e situações com as quais não sabe lidar.

 Certamente o mundo mudou muito nos últimos anos, mas a infância é curta, mas não por isso sem importância. É justamente por esse motivo que se deve dar mais atenção, aproveitar essa fase, que passa tão rápido, e fazer da vida das crianças um mundo muito feliz e repleto de brincadeiras, porque a vida adulta é longa e não tem brincadeira, quem brinca se dá mal.

Essa adultização causará muitos danos no futuro da criança, como lhe foi roubado o direito de ser criança, pode se tornar um adulto infantilizado, frustrado e vazio, despreparado para a vida adulta de verdade, afinal viveu essa fase fora da sua realidade cronológica de forma florida e fácil, mas que na verdade isso poderá lhe causar sérios problemas.

Se a criança pular essa fase vai dar um salto tão alto que lá na frente não saberá nem como chegou, e aí o mundo real vai apresentar situações que a brincadeira de criança pode se tornar um pesadelo, e isso não tem volta.