Entre o bem e o mal

A triste realidade de constatar que a polarização deixou uma parte da humanidade extremamente ruim, destilando o ódio, e a outra do bem, que não consegue viver em paz. Como podemos ver, o mau tenta a qualquer custo destruir o bem. Por quê? Valores que antes eram importantes, como o caráter – que já não tem mais tanta importância –, deixaram de existir, ou de ser valorizado. A “modernidade” distorcida criou um desvio que não tem remédio, não tem tratamento, apenas vai, sem rumo e sem preocupação com as consequências que podem trazer, mesmo porque arruma-se outras saídas para se defender.

Enquanto uns lutam pela paz, outros querem mais a desordem, a briga, o poder físico de espaço, lugar, dinheiro. Destruir as virtudes ou a honra, reputação moral, são tantos os maus feitos que nem dá para enumerar, só sentir. Perdemos o controle de tudo, não há mais nada que possa ser feito, esses atributos são mundiais.

Os inúmeros preconceitos que estão aí só nos mostram o tamanho da insensatez das pessoas, por mais que se fale sobre o assunto mais aparecem pessoas destilando seus ódios, como se alguém nesse mundo fosse perfeito ao ponto de apontar o dedo para o outro sem se preocupar com seus defeitos e imperfeições. Afinal, quem aqui está apenas desfilando ou passeando pela Terra? Quem não tem um único probleminha na vida ao ponto de zombar de outros? Ou ainda, achar que está por cima?

Estamos vivendo o cada um por si, e tentando dar continuidade à vida à sua própria sorte. Em casos como preconceitos e diferenças sociais, vimos os acontecimentos sendo levados como se a vítima fosse culpada e o culpado fosse a vítima; ora, fatos são fatos e ponto final. Até quando teremos que assistir a essas desigualdades? Até quando?

Essa crônica é o ponto de vista de uma pessoa que vive nesta sociedade, nesse País, e acompanha os fatos com muita leitura. Não estou replicando falas de ninguém, apenas expresso minha visão, principalmente de tudo o que anda acontecendo. Sei que não existe somente a maldade, ainda temos seres humanos do bem, e são muitos, só não estão em evidência tanto quanto os maus, mas isso não importa, o que interessa é que por causa dessas pessoas (do bem) “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” (trecho da música “Nossos pais”, de Belchior).

Precisamos falar sobre isso

O assunto ‘mulher’ sempre estará em evidência, seja positivo ou negativo. A mais recente é sobre o aborto, como todos já cansaram de escutar. Mas precisamos falar sobre isso, precisamos discutir os caminhos tortuosos a que estão levando um assunto tão sério, e de maneira incabível, um amontoado de hipócritas, que só têm um interesse, a baderna.

Mais uma vez a mulher está sendo usada para provocar um embate desnecessário, por um acontecimento que só diz respeito às mulheres, e quando o assunto for com crianças, ou adolescentes, a decisão cabe única, e exclusivamente, à família ou responsável legal, e mais ninguém. A Câmara dos deputados foi eleita para cuidar dos interesses do povo brasileiro, e não dos próprios interesses. Embora seja um assunto relevante e que necessite de regulamentação nas leis, e isso já existe, mas não colocar a mulher na posição de criminosa. Primeiro porque ela foi acometida por um crime contra seu corpo e sem seu consentimento, e levar uma gravidez indesejada ou que possa trazer danos à saúde, não tem justificativa para isso.  

Enquanto isso, discutem o absurdo de penalizar a violentada pelo ato do aborto, após vinte e duas semanas de gestação; lembrando que esse tempo só pode chegar por inúmeros motivos, dentre eles o fato de ter que entrar na Justiça para provar o estupro e, claro, esperar pela decisão. Desta forma a vítima passa a ser culpada, enquanto o estuprador recebe um afago na cabeça pelo ato cometido.

Ora, só falta dizer que aquela menina, mulher ou criança provocou o ato, afinal mulher é o foco das insanidades de machistas que ignoram sua atitude, e que deixam a vítima em situação de completa incapacidade de se proteger, de ter a lei a seu favor. A vítima se torna culpada, enquanto o culpado se torna vítima.

A mulher não pode gerar um filho do estupro, essa criança não terá amor, será rejeitada, odiada. Não se pode criar um filho indesejado de uma pessoa indesejada, às vezes não se sabe nem quem é, como obrigar uma gravidez dessa? Alguém se preocupou com o estado emocional dessa mulher? Passar por todos os estágios de uma gravidez sem que seja da sua vontade? Ter esse filho em nome de um ato violento? Nem que entregue para adoção, estamos falando de um abuso e não de amor. Quem pensa assim só colabora para o abandono. E aí são dois crimes, o estupro e o abandono. Quem vai pagar por isso?

A verdade é que essas pessoas que concordaram com essa lei absurda também têm ou terão filhas, netas, mulher, mãe, irmã, que podem sofrer um abuso e devem entrar nessa mesma lei, ou não vai?  Jamais saberemos, vítimas sempre estarão nos noticiários policiais, jamais nas capas de revistas.

Planeta Terra

“Terra, verso mais bonito dos planetas, estão te maltratando por dinheiro…” (Beto Guedes) Essa música é de 1981, numa época em que o mundo ainda não era tão cruel, e a letra já falava sobre a exploração da natureza pelo homem. Depois de quarenta e três anos continua atual, só que com consequências às quais não foi dado o devido cuidado, deram de ombros, e hoje sofremos com as tragédias, essas que foram anunciadas e ignoradas, como se existisse donos dos mares, dos rios, das matas, das terras. Não, ninguém é dono de nada disso, mas quem acredita?

Por tanta negativa e obsessão pelo poder, acabou que o homem explorou o que não lhe pertence, afastando ou aterrando mares e rios para o crescimento dos arranha-céus espalhados por aí. Devastando vegetação para uso da máquina financeira, destruindo, desta forma, o ar que hoje não respiramos mais.

Alguém vai dizer. ‘Mas as cidades precisavam desenvolver e crescer’, sim, precisavam, mas não da maneira despreocupada como foi, não temos mais muito verde nas grandes cidades, é solo, concreto que não permitem o escoamento das águas. Enchentes todas as vezes que chove, esgotos que não dão conta, o volume de água é cada vez maior, enquanto os asfaltos crescem.

Agora, nesta tragédia que acometeu o Rio Grande do Sul, podemos enxergar o que não podemos mais deixar que aconteça, muitas perguntas se têm a fazer sobre isso, poucas são as respostas, mas sabemos que não é o único lugar que pode ter sido devastado por conta desse descaso. Muitas outras capitais espalhadas pelo Brasil e pelo mundo estão condenadas a sofrer o mesmo, afinal as terras da natureza estão cada vez mais escassas, e onde o solo de cimento e asfalto prevalece, para onde a água terá vazão?  Ou será que os rios e mares estão retomando seu lugar de origem, que lhe foi tirado para crescer o solo cimentado? Qual será a providência a ser tomada para um longo prazo de retorno de normalidade? Se é que tem retorno.

Quem sofre com isso? Todos nós, na revolta da natureza não tem privilegiados, bairros, casa, lugar, é tudo igual, são todos habitantes da Terra. Três das principais fontes da vida são a água, a terra e o ar, estão sendo consumidos pela ganância do homem. A natureza retoma, mas a vida não.