Em meio a tantos problemas que enfrentamos diariamente a serem resolvidos dignamente, ou melhor, humanamente, nossos parlamentares eleitos para darem voz ao que o povo necessita, novamente retornam a um assunto completamente descabido. A proibição do aborto.
Podem falar o que quiserem, mas eu, como mulher, não aceito uma lei que proíba a interrupção de uma gravidez por estupro, e, o que é pior, de uma criança estuprada ser obrigada a levar uma gravidez adiante, criança não pode ser mãe. Não somos obrigadas a seguir lei para ser mãe de um filho de um estuprador, muito menos uma criança.
Em vez de retornarem a um assunto tão fora de contexto neste momento, por que não priorizam a saúde no país? Além do Brasil, outros sete países têm convênio particular, mas o serviço público também é pago. Nenhum país tem sistema como o SUS, do qual tantos brasileiros reclamam, mas não funciona direito por quê? Não tem investimento e os convênios pagos estão cada vez piores e caros. Conclusão, estão migrando para o SUS, que não tem condições de atender toda essa população que está parando de pagar. Existem muitos convênios, um pior do que o outro e caros, e quando você precisa não cobrem, não autorizam, não fazem o reembolso devido, não se consegue consulta, não tem médico.
Parem de reclamar do sistema público, pois muitos convênios são um SUS pago. A solução seria ter hospitais de qualidade e bem equipados no SUS, com profissionais comprometidos, e acabar com todos os convênios, porque morrer se morre num hospital de celebridades ou no SUS. Não tem privilegiados, isso o dinheiro não compra. A vida não é comprada, não dá para você vir com aquela frase ridícula pronta. “Estou pagando”. A sua hora não é corrompida.
Esta semana constatei o quanto não vale a pena ter convênio. Uma senhora de 92 anos, com pneumonia e insuficiência cardíaca, chega ao pronto-socorro de um hospital particular da minha cidade e fica quarenta horas na sala de observação esperando um leito de UTI. Um descaso com a vida e uma vergonha para a nossa saúde, e não estou falando de hospital público, é particular.
Não bastasse isso, quando finalmente foi para a UTI, um dia depois já queriam liberá-la, pois a pneumonia estava sob controle, mas e a insuficiência cardíaca, espera morrer? É claro que sim. Bons profissionais existem, mas nem sempre a orientação dos convênios é garantir o atendimento necessário.
Os hospitais públicos estão ficando cada vez mais lotados porque não se tem controle no aumento de preço desses convênios, fazem o que querem e como querem, pode pagar, ok, não pode, fica sem. Simples assim, na visão comercial deles.
Agora, votar contra o aborto é privilégio, a saúde da mulher sempre sendo menosprezada, sendo colocada como incapaz de resolver sobre seu próprio corpo. Como se um estupro tivesse condição social para acontecer. Imagina a filha ou neta de algum deles grávida de um estuprador, seria normal, não é? Mas para quem tem poder a situação muda, mas o privilégio não. Somos todos mortais, não interessa aonde e quando vai morrer, mas vai, com dinheiro ou sem dinheiro.
Às vezes me pego pensando em tudo o que anda acontecendo e sinto que estamos vivendo como conseguimos, cada um a sua maneira. Estão nos contaminando com tantos absurdos, tomando decisões que não queremos, não é a voz do povo que está lá, é de cada um deles, e como querem fazer valer. Sinto que estamos largados na selva de pedra, tentando encontrar a saída, mas não tem saída. Seguimos vivendo.