A doce saudade de quando éramos noventa milhões de brasileiros, alegres, sem Burnout, ansiedade, e todos juntos de mãos dadas com o mesmo coração. É, eu nasci com a Ditadura, apesar das barbáries que aconteceram, mas o Brasil era mais unido, apesar de quase ninguém ter telefone em casa, da TV ser preto e branco e só ter onze canais que pegavam com antena em cima da casa. Eram poucas as pessoas que tinham carro, o transporte público prestava, as pessoas prestavam. E tanto fazia ser rico ou não, aliás rico era ter uma família unida, alegre e feliz, ter uma casa e pais que nos ensinavam o verdadeiro valor da vida, as pessoas e não as coisas.
Hoje, os jovens são pobres, querem tudo de marca, tudo caro. Não aceitam trabalhar e ganhar pouco, tampouco serem comandados. Aprenderam a ter tudo o que quiseram, não importa se pode ou não, pai e mãe são sinônimos de conquista, ouvir não frustra. Não sabem viver, estão perdidos na vida, querem mais a todo tempo, e não satisfazem.
Somos 200 milhões de brasileiros vagando por aí, tentando conquistas, tentando ser feliz. Que felicidade é essa se não tem fim? Ataques, brigas, intrigas, disputas, ofensas. O ego tomou conta das pessoas, alguns zeros a mais na conta já são motivo de soberania. Onde foi parar o encanto pela vida? Será que tudo mudou tanto ao ponto de não enxergarem mais o milagre da vida? Ficar feliz por alguém, admirar as pessoas, sorrir sem falsidade, sentir amor de verdade?
Os cantores que ainda restam levam milhões de fãs aos shows, e sabe por quê? Falam de amor, poesia, sentimentos, músicas que tocam o coração, não estimulam e não induzem. Fizeram sucesso na raça, no talento, na vontade de ser artista. As propagandas mais famosas saíram da cabeça de um homem que tinha talento e não tinha preguiça de trabalhar, Washington Olivetto, ficou rico, mas trabalhou. Os grandes autores de novelas e da literatura escreveram clássicos que fazem sucesso ainda hoje.
Sou da geração que viu tudo começar, da máquina de escrever manual à máquina elétrica ao computador. Do telefone de discar em casa à Internet discada para a banda larga. Messenger ao WhatsApp, carro a gasolina, álcool e elétrico. Enfim, toda a evolução, um pouco mais de meio século, mas tenho orgulho de ter esse conhecimento, ter vivido e continuo vivendo tudo isso, e poder escrever com toda certeza de que tudo o que lembro com saudade é porque hoje não existe nada que deixará essa saudade. Nada será como antes.
A vida virou uma eleição, tudo tem dois lados, e temos que escolher qual lado ficar. A política mundial virou uma palhaçada, estão disputando quem será o melhor do mundo, quem vai mandar em tudo. É até irônico, quem vai ser dono do que se ninguém veio para ficar? Se acha dono, morre e quem herda? O próximo trem pode passar a qualquer momento, lembra que estamos de passagem?
Por isso tenho saudades sim, mas não tenho vergonha de nada. Aprendo a cada dia, e assim vou vivendo e colocando em prática aquilo que devo passar para quem desejar aprender.
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz” (Gonzaguinha)