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A biografia da minha família

Hoje vou falar de algo que mexeu muito comigo nos últimos cinco anos, a biografia que escrevi sobre minha família. Sim, levou cinco anos para ser escrita, nenhum trabalho feito com amor fica pronto em pouco tempo. Não basta contar uma vida apenas com fatos, tem que ter história, e isso leva tempo, pesquisa, entrevista com pessoas do passado, poucas ainda vivas. Os vivos ainda guardam lembranças preciosas, e ficarão registradas para sempre.

A ideia começou a partir do orgulho que tenho dos meus pais (ainda vivos), têm uma linda história para contar, mas só saberá quem ler o livro. Como podem perceber, comecei a escrever quando ainda estava finalizando o primeiro livro, “Sob a sombra do amor”, coisa que só um escritor entende. Assim como ler dois livros ao mesmo tempo, ou comprar livros que você sabe que não vai ler agora, mas não aguenta e compra. Ler e escrever é minha vida, e vou continuar a contar histórias, isso me faz feliz.

Toda família tem uma história para contar, não importa se é grande ou pequena, mas todos vieram e se juntaram num mesmo sangue que lhes pertence para a eternidade. Pode ter aqueles que você nem sabe por onde andam, porque tem um tempo que a família se dispersa, cada um segue sua vida, mas os laços jamais terminam. Temos saudades de um tempo que passou tão rápido, mas na época não pensávamos sobre isso, como não pensamos agora, mas vai passar e sentiremos saudade.

Durante a escrita, fui lembrando de coisas que estavam adormecidas na minha mente, era uma janelinha que não abria há muitos anos, e de repente comecei a reviver momentos de muita felicidade. Quanta história, quanta alegria, e como os tempos mudaram. A gente não percebe, mas muda não só aparência, muda a forma de pensar, a vida te traz desafios que te transformam sem que se perceba. As pessoas morrem! E isso não tem aviso prévio. Por isso devemos viver intensamente todos os dias, para não ter arrependimentos, brigas sem razão, não deixar a vida passar como se não pudesse, de uma hora para outra, perder alguém.

Na minha família muita gente já partiu, pessoas queridas, pessoas que a gente achava que seriam imortais, mas se foram; e tenho certeza de que muitas delas me ajudaram nessas lembranças, e de onde estiverem estão felizes em saber que estou eternizando toda nossa alegria, toda nossa história, nossa trajetória. E as próximas gerações saberão quem fomos, quais são as raízes e amores, dons que passam de geração a geração. Como foi bom contar tudo isso.

Agora parece que ficou um vazio, não tenho mais que falar nada, tudo foi aos poucos se tornando um livro. Chegou o fim desse livro, mas não dessa família. Agora é esperar chegar da maternidade, e se tornar páginas de uma biografia de família, contada em verso e prosa, na qual deixo exaltado todo o sentimento que vivemos durante todos esses anos, definido por uma única palavra, amor.

Em breve terá o lançamento, e assim como a história que conto, esse dia será muito especial e com muitas surpresas. Quem viver verá.

Por Maristela Prado

Os ciclos que se fecham

Quando um ciclo se fecha é difícil deixar ir, mas precisamos entender que nada é para sempre, e um dia acaba. Sabemos que não devemos nos apegar a nada e a ninguém, nascemos para ser livres, mas somos incapazes de agir assim, por mais que achemos ser. Estamos sempre presos a coisas, na maioria das vezes sem sentido nenhum, mas fazem toda a diferença, porque aquilo nos remete a um passado que não volta mais, então para reviver aquele momento, um objeto é capaz até de nos fazer sentir como aquilo reverberou nas nossas vidas. Às vezes até um cheiro nos faz lembrar.

E o quanto já sabemos que não devemos nos apegar ao passado, ele já passou e nunca mais vai voltar, não daquela maneira que a gente lembra, pois a saudade é daquela fase, daquele momento, você nem era o que é hoje, nem na aparência e muito menos em como enxergava a vida. Não estamos preparados para nada, apenas para viver a felicidade, ou alegria que queríamos que durasse para sempre, mas não dura. Nem a gente dura, que dirá as coisas.

Eu sou muito intensa em tudo o que vivo, faço tudo com muita vontade e autenticidade, me apego a lembranças e, ao mesmo tempo, tento me desprender, porque sei que um dia não será mais como hoje, mas isso não quer dizer que me preparo, só me conscientizo de que tudo tem começo e fim, mas o fim é mito difícil. Por isso as pessoas vivem com pressa, precisam fazer tudo rápido, senão amanhã não dá mais. Ninguém espera nada, o trânsito tem que andar rápido, mesmo que saibamos dos milhões de carros nas ruas, e as cidades não se adequam ao volume. A pessoa que para na sua frente para olhar algo atrapalha seu tempo, o chefe que pede um trabalho faltando uma hora para você sair e ir para casa correndo para fazer o quê? Nada.

Juntar o dinheiro para ter cada vez mais, e mais, nunca é o suficiente. Mas tudo isso um dia vai acabar, e passa o tempo, passam as oportunidades de dar um abraço em alguém, de conversar sem pressa, de prestar atenção no seu filho que aprendeu a dar o nó no sapato, mas você está com pressa e não viu.

Por isso precisamos parar um pouco e pensar que a vida está passando, pois o relógio não para. Não aproveitar um momento bom com pessoas que a gente ama, não dar valor ao que tem ou a quem tem do seu lado. O tempo passa, a vida acaba, os ciclos se fecham, e precisamos estar abertos ao novo. Sempre terá o novo para começar, demora a se acostumar, mas depois vai se apegar quando fechar. Esse é o ciclo da vida.

Por que essa crônica de hoje? Esta semana fechou um ciclo na minha vida, e por mais que eu soubesse que isso iria acontecer um dia, não consegui passar por isso sem sofrer. Foi um lugar das maiores e melhores lembranças da minha vida em família. Foram os nossos melhores momentos juntos, que jamais esqueceremos. Mas tudo um dia acaba, lembra? E as saudades ficarão guardadas nas lembranças e nos corações de todos nós. O apego vai com o tempo, e agora vamos nos reinventar para outro motivo, outros momentos. A vida é tão linda e feita de surpresas que está chegando gente nova na família, e isso já significa mudanças.

Eu continuo contando histórias e falando sobre a vida, o comportamento humano, as fases, as diferenças e loucuras do que é ser humano. Eu também sou e sinto e me inspiro em minhas próprias experiências. A minha missão é poder ajudar as pessoas com minhas reflexões que aprendi com várias fases e fechamentos de ciclos que já tive que passar. E com estudos, sem essas duas coisas não adiantaria nada ficar falando sem saber o porquê do comportamento humano, julgando pessoas e não ter a responsabilidade de entender o que se passa por trás de cada atitude. Os anos 2000 trouxeram um milhão de novidades e transformações, mas também muitos problemas psicológicos para quem não consegue segurar tanta informação e a contaminação que tudo isso trouxe. Ainda temos boas pessoas no mundo, mas muitas se perderam no caminho, e às vezes não tem mais volta.

Se quiser ser um humano de verdade lute pelos seus ideais, não precisa estragar a vida do outro para ser alguém, isso não é competência, é roubar a vida do outro.  Deixa o tempo passar, se abra para o novo, deixe o ciclo fechar. Viver a plenitude não é sobre dinheiro, é sobre ser feliz e aceitar quem você é, ter uma família que te ame, ter amor no coração, ter empatia.  Só o amor une e fortalece, os bons momentos e um coração em paz, não tem preço. Nada vai te fazer mais feliz do que uma consciência tranquila e saber que suas lembranças já dizem muito sobre quem você é. Eu tenho certeza de que a saudade que me dói hoje foram meus melhores momentos.

O passado é o presente

Dizem que não podemos viver do passado, nem pensar no futuro, porque o presente é onde alicerçamos o que desejamos, mas como esquecer o passado se hoje somos fruto dele?

Quando você olha para a história da sua vida, a sua infância, a sua família, o que você sente? Saudade de uma fase feliz, boas recordações, ou mágoa, tristeza, raiva? Todos nós temos boas lembranças, em algum momento ficou marcado no seu coração. Não importa se houve problema, sempre há na vida de qualquer pessoa, não existe a felicidade plena.

Se parar para pensar vai lembrar de algum momento, e verá que muita coisa mudou, mas a sua essência não muda. Ainda existe aquela pessoa dentro de você, senão não seria o que é hoje.

Somos feitos de momentos, tudo passa em um segundo e, se desperdiçar esse único segundo, já terá perdido o que há de mais importante, o tempo. Se fechar os olhos por um minuto que seja e sentir sua respiração, se acalmará e sentirá a paz que vive desejando e não encontra, pois ela está dentro de você, mas não temos tempo de perceber.

Uma criança, quando está brincando, está vivendo aquele momento inteiramente, mas por que quando crescemos perdemos esse foco? Estamos mais preocupados com o futuro do que com o presente, e o futuro ainda não chegou, e se não fizermos nada agora ele nem vai chegar. Por isso tanta frustração.

A nossa criança está sufocada em algum canto da nossa alma, com ansiedade, pânico, depressão, por viver de futuro, sofrer por uma situação que nem existe ainda. Isso mata. E o passado, onde está? Na sua memória, na sua saudade, no seu arrependimento, no esquecimento das coisas boas.

Se o meu passado me fez assim, por que devo esquecer? Se meu passado me sufoca por que não mudo agora? Se meu passado me traz boas lembranças, por que não vivo mais como antes? O que mudou?

Minhas experiências, as pessoas que conheci, os trabalhos que fiz sem querer, as dificuldades que enfrentei, as situações que não esperei, as expectativas que criei e acreditei, mas não existiam.

Cada pessoa carrega consigo sentimentos que não sabemos, atrás de um sorriso há muitos mistérios, desejos e sofrimentos que não sabemos. Por isso não julgue ou condene sem saber daquela história, conhecemos as pessoas por fora, por dentro “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” (Dom de iludir/Caetano Veloso).

Antes de condenar pare e pense. E se fosse comigo, eu aceitaria? Empatia.

A conclusão é que só nos sentimos felizes quando lembramos do passado que não demos a importância que tinha, só porque era o presente. Se soubéssemos disso antes teríamos lapidado o futuro, e quem sabe viveríamos a felicidade plena.

Metamorfose

Aquele momento em que percebe que não faz mais sentido aquilo que você gostava tanto, passa a ser estranho. O que é melhor, passar uma vida repetindo sempre as mesmas coisas, ou mudar suas opiniões, suas escolhas?

A vida é uma constante mudança, tudo evolui e se transforma, então por que não mudar? Voltando ao passado com lembranças de gaveta, percebi o quanto mudei ao longo da minha vida. Coisas que num passado não muito distante eram muito normais para mim, como certas escolhas ou atitudes, e hoje, sem perceber, não faço mais; nem faria mesmo, minha maturidade não enxerga mais com os olhos do passado.

Mas no passado era o certo, era o que tinha que ser, como eu teria evoluído se tivesse continuado pensando igual? É muito bom lembrar dos anos passados, mas não podemos deixar de entender que o tempo nos ensina, nos aprimora, nos faz enxergar muita coisa que só aprendemos depois de ter vivido.

Mudei sim, mas o mundo também mudou. Minha geração carrega lembranças maravilhosas, mas não poderíamos aplicar o que vivemos hoje, nem mesmo a forma de comunicação não é mais igual. Nossos filhos são adultos, agora já temos netos; estamos vendo crescer nossa terceira geração, e isso é evoluir e aceitar as diferenças.

Não somos mais os mesmos, nem na aparência. Nossos cabelos branquearam, a pele já não é mais a mesma, o ar jovial ficou lá atrás, mas isso não nos faz velhos; apenas se quisermos. Podemos sair, fazer exercícios, ouvir música, chorar de rir, lembrar e contar histórias. Isso é vida pulsando, constante, que vibra.

A metamorfose sempre vai existir, assim teremos sempre o que lembrar, do que éramos, do que passou. Até o tempo muda, de sol pra chuva, de frio pra calor, de hora em hora. Mas sempre vai amanhecer de novo.

Deixe suas escolhas mudarem, sua aparência, suas atitudes. Só não deixe mudar a alegria de viver, essa anda de mão dada com a vida, e quando se solta a mão, ela vai morrer.