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Para onde o abuso está nos levando?

Último episódio da série ‘Abuso’

Vimos durante estas quatro semanas os três abusos mais relevantes e preocupantes atualmente, mas é claro que existem muitos outros no dia a dia, como preconceito de racismo, gênero, corporal, religioso, social, etarismo e deficientes. Todos são caracterizados como crime.

Através das redes sociais é onde se encontra o maior número de pessoas usando o abuso indiscriminadamente, entrando em páginas para humilhar, debochar, até ridicularizar alguém por qualquer motivo, somente pelo prazer de fazer. Pessoas públicas, principalmente, são os maiores alvos, justamente pela condição da exposição, e isso afeta diretamente a autoestima e a saúde mental.

Quem é a pessoa que está por trás daquele comentário, e por que usa esse atributo para prejudicar alguém? Temos algumas alternativas para isso. Hoje temos uma sociedade com muito ódio de tudo, se vir algo que não concorda, necessita falar, ir contra o outro virou um fenômeno natural, é como se aquilo atingisse diretamente quem está vendo, uma forma de sentir-se superior em falar o que pensa daquilo. Ou a inveja, por não ser igual, ataca para diminuir o outro, ou ainda, somente para fazer parte de um grupo insignificante que somente segue a boiada que não pensa, só fala.

O caráter tornou-se obsoleto num mundo obcecado por poder, por violência, por ser melhor. Personalidade nasce com ela, mas caráter é formado conforme o ambiente em que vive, vendo, como é tratado, as indiferenças e o exemplo. Dificilmente verá o filho de alguém descontrolado e agressivo, sendo uma pessoa passiva e coerente, não foi isso o que aprendeu. Já a personalidade é inata, a pessoa é perversa, gentil, psicopata ou narcisista desde criança, e dá sinais, mas dificilmente os pais entendem ou admitem que aquela criança é diferente, tem atitudes inadequadas e cresce sem a atenção necessária. Não é uma doença, é uma condição da personalidade, difícil de aceitar, mas necessário compreender que existe.

E isso não se restringe somente atrás de um teclado, a vida social está perigosa, amigos, família, colegas de trabalho ou escola, relação amorosa. Na rua, na fila de um supermercado, médicos, enfermeiros maltratados por pessoas descontroladas querendo ter privilégios, ter razão. Matam no trânsito, no bar, na balada, na academia. Os abusos se estendem a todo lugar.

O racismo, o gênero, a condição social, religião, corpo e etarismo, e a deficiência ainda continuam sendo um crime bárbaro, uma pessoa não aceitar o outro somente por uma condição diferente da sua é um abuso sem explicação. O que incomoda tanto? As crianças precisam aprender que existe diferença entre as pessoas, que a vida não se resume no seu clã familiar, o mundo é feito de diferenças, as culturas são diferentes entre os países e os Estados que compõem um país, por isso devemos ter respeito à condição de cada um.

O que importa mesmo é o Ser que a pessoa é, não sua condição. Do que adianta o dinheiro se não há educação ou respeito? Do que adianta a cor ou o gênero se não houver gentileza, cultura e tudo o que faz uma civilização? Do que adianta ser religioso, ter um corpo nos padrões impostos, ou ser jovem se não tiver empatia com as pessoas? Do que adianta?

Há uma necessidade mundial em mudanças no ser humano, o excesso de informação e acesso fácil e rápido a tudo, está adoecendo mentalmente, e matando lentamente a população mais jovem. O número de idosos só cresce, enquanto o de jovens desaparece. Será que não tem explicação? Claro que tem. Vivem como se não houvesse tempo para viver, como se o que eles sabem com seus vinte e poucos anos é muito maior e melhor do que quem está vivo com seus 80+; mesmo que toda essa carga de experiência vivida não represente nada para quem está somente começando na vida adulta. Uma geração que aprendeu a ganhar, nunca perder. Ser o melhor, passar por cima de tudo para conquistar, se impor para provar quem é, ou simplesmente desfazer e debochar de quem sabe muito mais.

Enquanto continuarem ensinado a inversão de valores, não teremos uma sociedade madura e capaz de mudar essa soberania urbana que só adoece e não conquista nada. Corre atrás de tudo, ansiedade, depressão, estresse, andam em círculos e não encontram a saída. É tudo muito simples, aprender que nada vem fácil, é preciso de paciência, perseverança e muito trabalho para se conquistar o que quer. A vida não é feita de coisas, é de pessoas, por isso precisamos respeitar uns aos outros, ninguém faz nada sozinho. O amor é que move tudo, inclusive suas conquistas materiais. O ódio, bom esse veio para matar, para destruir e adoecer quem ainda insiste em achar que cada um tem o seu mundo ao seu modo. Não, o mundo é para todos, mas só alguns sabem viver, outros somente existem.

Por Maristela Prado