Hoje não pretendia voltar ao tema ‘violência contra a mulher’, mas me vi obrigada porque algumas situações são inadmissíveis e exigem posicionamento. No fim de semana presenciei a atitude de dois indivíduos, um tanto duvidosos, em um local público. O lugar estava cheio, principalmente de casais, quando, para a infelicidade de todos, esses dois entraram e, apenas bebendo, falavam alto e com arrogância, para que todos pudessem ouvir, sobre crimes contra a mulher, qualquer mulher, incluindo a de um deles.
Não vou contar os detalhes sórdidos dessa triste cena que presenciei, mesmo porque parecia uma cena ensaiada, com a intenção de provocar. Ninguém se manifestou, ninguém ali estava com a mesma intenção deles, apenas um momento de descontração, mas não foi o que aconteceu. Hoje venho pedir uma reflexão não apenas pelo comportamento do ser humano, mas, principalmente, pela índole provocativa, pelo chamado à confusão, pelo propósito simplesmente de incomodar com propostas graves, mas que aos olhos de um ser nitidamente sem nada de melhor a oferecer, chama atenção pelas próprias insanidades e maledicências, como se fosse um troféu.
Nossa sociedade vive em constante tensão nos abusos contra a mulher, por mais que se fale no assunto, parece que querem aparecer mais e mais, como se isso fosse um direito do homem para ganhar o título de poderoso. Isso não existe, definitivamente estamos em outro patamar, onde o machismo não cabe mais, muito menos o feminicídio falado abertamente em alto tom para quem quiser ouvir, e sem represálias, como de fato aconteceu.
Certamente o fim está mais próximo do que imaginamos, estamos num momento de absurdos, pessoas atropelando outras pessoas sem dó, carros sendo jogados para cima de propósito – com a intenção de matar, tiros por puro ‘nervosismo’, a palavra é bem outra. E agora matar é motivo de orgulho, e todos têm que saber disso, gera medo.
Segundo o portal do G1, em reportagem publicada em 3/7/2024,” 0 Brasil registrou 1.463 casos de mulheres que foram vítimas de feminicídio no ano passado — ou seja, cerca de 1 caso a cada 6 horas. Esse é o maior número registrado desde que a lei contra feminicídio foi criada, em 2015.” É inadmissível que ainda haja homens tão inescrupulosos que falem em alto e bom tom sobre matar uma mulher. Não existe nada que justifique matar alguém, muito menos se orgulhar disso. Pior do que falar é afirmar que faz e que essa é a maneira de punir uma mulher.
Até quando teremos que conviver com isso? Estamos no segundo milênio, no século XXI, já se passaram vinte e quatro anos do início, tudo mudou. As mulheres hoje contam com leis a seu favor, não existe mais inocente, não existe mais o medo e a vergonha de falar sobre o que acontece dentro de casa. Se existe homem que ainda acha que tem que matar a mulher, então também existe lei que leva pra cadeia homem assassino.
Não podemos mais admitir isso, mulher é um ser humano, trabalha, estuda, vive. Espero ainda ver mais amor do que ódio, mais respeito, mais educação. Sim, isso também é educação; incomodar é falta de educação, mas se vangloriar de matar, isso é o fim.