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Família e escola. A conclusão para a mudança

Depois da série ‘abuso’, chego à conclusão de que as famílias precisam mudar urgentemente. Educação começa em casa, entre quatro paredes, pais e filhos. Não sabemos ao certo o que acontece nas casas, mas sabemos que é o que acontece que forma um indivíduo, e pelo visto estão acontecendo coisas muito sérias, senão não teríamos tantos problemas com abusos de todos os tipos.

Nas escolas, as crianças costumam contar coisas inocentemente, mas falam e revelam para professores causas que estão fazendo a escola mudar o olhar para essas crianças e adolescentes, incorporando na educação escolar a educação emocional. Precisam aprender o significado de empatia e resiliência, já que os exemplos estão sendo completamente opostos a isso, ou seja, preconceito e agressão.

Precisam aprender que vivemos num mundo de diferenças, as pessoas são diferentes e as situações, também. Cada país tem sua própria cultura, cada Estado que compõe um país também tem cultura diferente, e precisamos entender e respeitar, ou você chega em um país não aceitando a cultura deles?

As crianças estão crescendo em ambientes completamente violentos, com palavras e gestos, com preconceito, ódio, e soberania, ensinando que o outro nunca será melhor do que você, somente por algum motivo preconceituoso, principalmente de etnia, gênero e condição social, os principais pilares da discriminação. Ser um cidadão branco, hétero e rico já é o suficiente para estar protegido de quaisquer condições discriminatórias. Será?

Uma pessoa nessas condições nasceu com RG de honestidade e santidade? A falta de caráter não tem nada a ver com isso, como já disse, tudo começa em casa, portanto, tanto faz a condição, o que importa é o caráter, e ele não tem condição financeira, nem cor e nem gênero.

Ainda há muito a se fazer para que esta situação mude, muitas leis precisam ser revistas, professores mais preparados, mudanças na legislação escolar; nosso ensino ainda continua antigo e monótono, é preciso mais participação fora da sala de aula, interação e convivência. Mudanças e controle das redes sociais, que estão acabando com a saúde mental de toda a população mundial, não somente de crianças e adolescentes, mas adultos também. Maior rigidez e controle sobre influencers que usam e abusam da ingenuidade, ou até mesmo da ganância obsessiva das pessoas em ganhar dinheiro, poder, posição. Pais e responsáveis mais atentos aos filhos, conversar mais, estar a par com quem falam, o que fazem. Ser pai e mãe de verdade, sem preguiça de educar, dá trabalho, mas no final vale a pena.

Criar cidadãos é muito mais do que criar pessoas, colocar filho no mundo não é dar a responsabilidade para os outros ou para a escola, a responsabilidade é sua. Deu vida? Agora dê educação. Não espere que a rua faça o seu trabalho, ao contrário, o seu trabalho será o dobro e decepcionante. Não ponha no mundo uma criança para ser infeliz, já basta você.

Por Maristela Prado

Anticultura do Brasil

 No dia 2 de março de 2025, o Brasil ganha seu primeiro Oscar de melhor filme internacional. Um filme biográfico da época da ditadura no país, conta a história de uma família que sofreu com as barbáries que eram cometidas. Rubens Paiva, eleito deputado federal por São Paulo pelo PTB, em 1962, partido do então presidente João Goulart. Com o golpe militar de 1964, seu mandato foi cassado, e teve que se exiliar na França. Quando voltou ao Brasil seguiu com sua formação de engenheiro civil no Rio de janeiro. Em 20 de janeiro de 1971, foi levado da sua casa, sem mandado de busca, acusado de manter contato com exilados políticos, e foi brutalmente torturado e morto, sem nunca terem encontrado seu corpo. Sempre foi defensor da democracia, teve sua vida e de sua família destruída.

Esta não é a única história de desaparecimento e tortura registrada no país, muitas outras famílias que sofreram e carregam essa história até hoje. Foram destruídas por um sistema brutal de repressão e censura. Como o caso do jornalista Wladmir Herzog. Sua postura jornalística, relatando acontecimentos sobre a ditadura, fez com que também fosse levado para esclarecimentos, mas foi torturado e morto nos porões da repressão, em 1975.

Cinema, literatura, jornalismo, teatro, artes em geral são sinônimo de cultura. Hoje vivemos, ou tentamos viver, numa democracia, mas não é bem o que acontece, e, apesar de termos tantas informações, tem quem ignore a verdade, como se isso fosse o correto. Mas se nas guerras pelo mundo afora nos revoltamos com mortes de inocentes, ou até mesmo quando sabemos de esquartejamentos e torturas, há quem defenda uma época em que houve tudo isso e muito mais. Por que a anticultura num caso real que deixou marcas em muitas famílias?

Infelizmente me deparei com publicações de deboche pelo filme não ter ganhado todas as indicações, como se fosse um fato político atual. O que um Oscar tem a ver com a política de hoje? Qual a relação de não ter ganhado como melhor atriz; ou o que soa estranho é terem dado o prêmio para uma jovem num papel de dançarina de poli dance? Por que não Demi Moore ou Fernanda Torres?

Ganhamos um Oscar pela primeira vez na história do Brasil, deveria ser motivo de orgulho, mas infelizmente temos brasileiros que torcem contra seu próprio país. No entanto, é aqui que fazem a vida, carreira e ganhos. Foi sim muito merecido, seremos reconhecidos pelo nosso cinema. Ela, Fernanda Torres, nunca quis sair daqui para fazer carreira internacional, e é uma grande atriz. Aos quase sessenta anos ganhou um prêmio gigantesco, mas muitos dos que estão debochando sequer ganharam na escola uma medalha ou símbolo de melhor aluno.

O problema, parece, é que a história contada da realidade que queremos esquecer incomoda. Um país sem cultura não tem história, não tem um povo capaz de transformar nada. A cultura traz entendimento, posicionamento e lucidez. Quem não quer saber de cultura, não tem saúde mental, vive pelo ódio, pelo contra, pela desordem. Os americanos têm orgulho da sua cultura, o que ajuda a forjar artistas de sucesso. O artista sem reconhecimento do seu povo procura fora, e o pior é que encontra. Meu avô já dizia: “Não discuta com ignorantes, eles nunca vão entender”.

Acabou o carnaval

Ah! O Carnaval. Quantas lembranças boas de uma época que não volta mais, a época das marchinhas, das bandas e dos clubes. Do Carnaval de rua, que ainda existe, mas que não era sobre corpos, era sobre diversão, cultura de um país, o samba. Vinham gringos, europeus, até o Príncipe Charles se rendeu ao Carnaval do Brasil, no Rio de Janeiro, arriscando sambar com Pinah, ícone do Carnaval daquela época; e ainda se faz presente. O Carnaval da Bahia, com seus trios elétricos, Pernambuco com o frevo e o maracatu, Paraíba e suas tradições. Manaus com os ‘bois’ Caprichoso e Garantido, conhecidíssimos no País, os desfiles de fantasia que não existem mais. A diversão de forma literal passou.

E o que temos no Carnaval de 2025? Além dos desfiles de rua e de sambódromos tradicionais de Rio, São Paulo e outros Estados, cada um com sua regionalidade e tradição, nos chamados bloquinhos e salões que ainda promovem a festa temos funk, rock e alguma coisa de Carnaval, tudo misturado. Quem inventou que trio elétrico toca Anita, Pablo Vittar, MC, sei lá o quê? Axé, Olodum, ok, fazem parte dessa festa, mas, por favor, cada um no seu espaço. Façam seus shows para quem não quer curtir o Carnaval, passam o ano todo fazendo apresentações meteóricas, e na festa de Momo vão para um trio elétrico? O trio Armandinho, Dodô e Osmar fez sucesso em Salvador muitos anos, hoje só está vivo Armandinho, mas segue a tradição com o trio.  Outros grandes nomes também apareceram, como Chiclete com banana, Asa de águia, Banda Eva, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, artistas que consagraram o Carnaval baiano. Eu mesma fui atrás do trio elétrico, e foi uma experiência muto boa. Mas o que é o Carnaval, sempre foi assim rolando de tudo, ou era apenas uma festa que ficou famosa?

As atrações mudaram muito, e é importante que haja evolução na vida. Os amores de Carnaval sempre existiram e continuarão a existir, a alegria, as fantasias, a diversão. Alguma coisa não casa mais com a data, o contexto sexual parece ser o mais importante, não é a diversão. Talvez não se toque mais as marchinhas porque hoje seriam censuradas, como uma ditadura onde não se pode contextualizar nada que possa ser considerado como preconceito, mas antes era apenas uma brincadeira de Carnaval, e ninguém se ofendia a ponto de brigar ou até mesmo matar alguém. Não existia a intenção de ofensa; algumas faziam apologia ao racismo ou à bebida, mas a intenção não era ofender. Vivi minha adolescência nos anos 80, e os carnavais de salão eram animadíssimos, com bandas tocando as marchinhas, inclusive exaltando times de futebol, mas ninguém brigava por isso, era pura diversão. Como fazer músicas para o Carnaval sem brincar? Inventaram uma maneira que foge totalmente do original, mudaram até letras de algumas marchinhas que fizeram a alegria durante anos e anos, e Carnaval virou paradas de sucesso. É a vida seguindo acelerada e cheia de mudanças. E nós, que passamos todas essas transformações, temos de seguir, querendo ou não.

 “Quem viver, verá

Que não foi em vão

Eu quero é muito amor no Coração” (Trecho da música Amor no coração’, com Simone)

Por Maristela Prado