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Violência em forma de guerra

Tenho falado muito sobre violência na saúde mental, mas existe outra que também abala a saúde mental para sempre, a violência armada. Abala o medo, a guerra, a opressão, a liberdade de viver e ser feliz. O poder de uma arma em mãos e tudo se torna perigoso.

Chego à conclusão de que a agressão entre as pessoas, tanto em palavras quanto em atitudes físicas, vem da agressão que estamos sofrendo há anos, crescentemente, sem uma política pública da qual possamos contar para nos proteger. O humano está se tornando um animal irracional, sua defesa é instintiva de tanto nos virarmos sozinhos, nos proteger do jeito que dá. Claro que é injusto sair matando ou agredindo, mas é o que estão ensinando descaradamente.

As pessoas estão ficando doentes, nunca teve tantos casos de depressão e ansiedade como temos agora, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, imagina o quanto isso traz de prejuízo para o povo? É tudo difícil, urgente, querendo ganhar dinheiro, ter, sobressair, estar certo, ser o melhor. E ainda a violência que sofremos diariamente, nas ruas e pelos noticiários. Para onde vai nossa saúde mental se não tratarmos? Ou melhor, se nada for feito?

O que aconteceu no Rio de Janeiro foi um alerta para a população se unir e, em união, solicitar segurança, cobrar por uma solução. Basta de violência, golpes, até mesmo com nossas crianças, que não têm o direito de serem crianças, brincar e aprender o que precisam, e não o que não precisam saber.

Fica meu recado, minha indignação com tudo o que estamos vivendo. Aliás, estamos sobrevivendo. Ou mudamos e nos unimos, ou todos seremos prisioneiros do Planeta Terra.

Anticultura do Brasil

 No dia 2 de março de 2025, o Brasil ganha seu primeiro Oscar de melhor filme internacional. Um filme biográfico da época da ditadura no país, conta a história de uma família que sofreu com as barbáries que eram cometidas. Rubens Paiva, eleito deputado federal por São Paulo pelo PTB, em 1962, partido do então presidente João Goulart. Com o golpe militar de 1964, seu mandato foi cassado, e teve que se exiliar na França. Quando voltou ao Brasil seguiu com sua formação de engenheiro civil no Rio de janeiro. Em 20 de janeiro de 1971, foi levado da sua casa, sem mandado de busca, acusado de manter contato com exilados políticos, e foi brutalmente torturado e morto, sem nunca terem encontrado seu corpo. Sempre foi defensor da democracia, teve sua vida e de sua família destruída.

Esta não é a única história de desaparecimento e tortura registrada no país, muitas outras famílias que sofreram e carregam essa história até hoje. Foram destruídas por um sistema brutal de repressão e censura. Como o caso do jornalista Wladmir Herzog. Sua postura jornalística, relatando acontecimentos sobre a ditadura, fez com que também fosse levado para esclarecimentos, mas foi torturado e morto nos porões da repressão, em 1975.

Cinema, literatura, jornalismo, teatro, artes em geral são sinônimo de cultura. Hoje vivemos, ou tentamos viver, numa democracia, mas não é bem o que acontece, e, apesar de termos tantas informações, tem quem ignore a verdade, como se isso fosse o correto. Mas se nas guerras pelo mundo afora nos revoltamos com mortes de inocentes, ou até mesmo quando sabemos de esquartejamentos e torturas, há quem defenda uma época em que houve tudo isso e muito mais. Por que a anticultura num caso real que deixou marcas em muitas famílias?

Infelizmente me deparei com publicações de deboche pelo filme não ter ganhado todas as indicações, como se fosse um fato político atual. O que um Oscar tem a ver com a política de hoje? Qual a relação de não ter ganhado como melhor atriz; ou o que soa estranho é terem dado o prêmio para uma jovem num papel de dançarina de poli dance? Por que não Demi Moore ou Fernanda Torres?

Ganhamos um Oscar pela primeira vez na história do Brasil, deveria ser motivo de orgulho, mas infelizmente temos brasileiros que torcem contra seu próprio país. No entanto, é aqui que fazem a vida, carreira e ganhos. Foi sim muito merecido, seremos reconhecidos pelo nosso cinema. Ela, Fernanda Torres, nunca quis sair daqui para fazer carreira internacional, e é uma grande atriz. Aos quase sessenta anos ganhou um prêmio gigantesco, mas muitos dos que estão debochando sequer ganharam na escola uma medalha ou símbolo de melhor aluno.

O problema, parece, é que a história contada da realidade que queremos esquecer incomoda. Um país sem cultura não tem história, não tem um povo capaz de transformar nada. A cultura traz entendimento, posicionamento e lucidez. Quem não quer saber de cultura, não tem saúde mental, vive pelo ódio, pelo contra, pela desordem. Os americanos têm orgulho da sua cultura, o que ajuda a forjar artistas de sucesso. O artista sem reconhecimento do seu povo procura fora, e o pior é que encontra. Meu avô já dizia: “Não discuta com ignorantes, eles nunca vão entender”.

Quando a liberdade dependia do silêncio

Nasci em julho de 1964, apenas quatro meses depois do golpe militar que implantou a ditadura no Brasil. Época marcada por conflitos, torturas, perseguições e medo. Ninguém tinha voz, e quem dava a voz era perseguido, e mesmo aqueles que nada tinham a ver com a situação, poderiam ter a infelicidade de estar passando no local errado, na hora errada, e muitas vezes eram pegos, torturados e desapareciam. Hoje vivemos um medo parecido, só que de balas perdidas e de uma criminalidade desenfreada, que tem tomado conta das cidades, mas também de pessoas desequilibradas e fanáticas que, às claras, defendem a volta do período em que a nossa liberdade dependia do nosso silêncio.

Nenhuma nação sobrevive à violência física ou moral, nem mesmo uma criança aprende apanhando; aprende que bater é normal, e quando se sentir ofendido deve bater. Então, o que a repressão e a tortura podem ensinar? Nada. Ter medo não é ter respeito, surge a raiva, o ódio. O ser humano não nasceu para se calar diante do que não aceita, somos livres para gostar ou não, aceitar ou não os desejos de quem acredita que manda, que o poder lhe torna superior, sublime. É apenas outro ser humano como outro qualquer, ser rico ou pobre, branco ou preto, homem ou mulher, ser desta ou daquela religião, ter ou não ter, não diferencia um ser humano do outro.

O que está faltando no Brasil e no mundo é amor, dignidade e respeito. Existem pessoas em situação de miséria total, e outras querendo cada vez mais, e sequer pensam no outro. E, mais do que isso, ainda discriminam o pobre que, muitas vezes, é sua própria origem. Todas as maldades que vemos hoje são por poder, por domínio. Precisamos do equilíbrio, nem muito, nem pouco. Mas isso não vai acontecer, sabemos.

Podemos, e devemos, salvar as crianças que estão nascendo, e as que já estão em fase escolar, ensinando valores da vida, não das coisas. Criando filhos que aprendam que viver não é uma questão financeira e nem de poder, é uma postura de dignidade e de respeito. Na nossa bandeira, de todos os brasileiros, está escrito “Ordem e Progresso”, não existe nem um, nem outro. Ordem não é silenciar o povo, é dar exemplos de cidadania, e progresso é trabalho, educação, condições dignas de viver em um país desenvolvido, que há tanto tempo ouço sobre isso, mas como desenvolver um país onde o poder só serve para eles próprios e não para o povo?

Lembra da palavra ‘harmonia’? Faz tempo que não se fala dela, escutar o outro, não só falar e se colocar no topo da conversa, ou ainda fazer prevalecer a sua opinião. Você tem sua razão, eu tenho a minha. Ter argumentos quando for julgado, não precisa humilhar, mexer na ferida, isso é covardia e frustração, é feio. Ajudar a quem precisa não é só financeiramente, mas também emocionalmente, entender os sentimentos, seus e dos outros, a tal da empatia, lembra?

Pedir licença, dizer obrigada(o), desculpa, não é moda, é educação, e isso vem de casa, escola nenhuma tem obrigação de dar educação, as escolas ensinam conhecimentos, cultura; embora haja quem não aceite, ética e convivência, mas já é urgente que se introduza a educação emocional que está perdida nas telas onde é terra sem lei, nas imagens de violência dos jogos que as crianças começam a ter acesso desde de muito pequenas, tudo isso é exemplo de vida, tudo pode. Os adolescentes precisam de mais atenção, estão se preparando para a vida adulta, e não podem seguir com esses princípios. É agora, não é para pensar, não dá mais tempo, os problemas emocionais estão crescendo a cada dia, nunca se teve tanta depressão, ansiedade e tantos outros problemas mentais. Uma Nação para prosseguir não precisa de bomba, de alguém reprimindo e calando o povo, precisa de paz e de humanidade.

 Corremos o risco de uma evasão de professores por excesso de problemas mentais, exaustão mental por crianças e adolescentes malcriados que desaprenderam a hierarquia. Sim, ainda existe, o professor está ali para ensinar, se você já soubesse não precisaria estudar, mas não é isso que aprendem.

Por que falei tudo isso se comecei falando do golpe militar de 64, ano em que nasci? Porque nada se aprendeu com a repressão, pois apenas o medo era o principal ‘motor’ daquela baderna. Aconteceram tragédias com pessoas que apenas queriam a liberdade de volta, acabou com famílias. Então vamos lutar pela educação de verdade, por meio da qual se aprende sobre emoções, dores e sofrimentos causados pelo sarcasmo, pelo prazer de destruir o outro, como se aquele que faz isso não tivesse uma ferida que não quer ser mexida.

Sou filha dessa ditadura, mas vivi e sobrevivi com minha família, numa vida simples, naquela época não precisávamos provar nada a ninguém, marca era apenas uma marca. Nunca faltou nada na minha casa, nem amor. Tenho o prazer de ter educação e respeito, aprendi em casa. Aprendi também a ter cultura em meio a muitos livros, jornais e revistas e muita música. Pais dignos, trabalhadores e cultos, que nos ensinaram a ter respeito e comportamento, e nunca foram chamados na escola para resolver uma agressão, uma palavra mal falada. Na escola aprendi a ter conhecimento, e respeitar a quem me ensinava.

As crianças nada têm a ver com tudo isso, são vítimas de maus exemplos, de ambientes conturbados, da tecnologia que lhes levam a qualquer lugar, a ter informações que não deveriam saber agora, a ter acesso a tudo sem limite. Se cada um começar uma pequena mudança, daqui a alguns anos teremos um mundo melhor para as próximas gerações. Plante agora, você não vai se arrepender.

Por Maristela Prado