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Qual é a sua história?

Acabei de escrever uma biografia sobre a história da minha família, afinal todos temos uma história a ser contada e lembrada. Quem nunca disse ‘minha vida daria um livro’. E dá mesmo, seja qual for a trajetória, pois escrevemos uma página por dia até o fim de nossas vidas. Todos os dias, ao acordar, é um novo dia que começa, um novo capítulo que não sabemos o que vai acontecer, depende de nós, podemos fazer coisas boas ou não.

Quando comecei a escrever essa biografia não tinha ideia da dimensão que isso tomaria, são minhas lembranças, minha visão do que vivi e escutei sobre o que aconteceu antes da minha existência nessa vida. Daí fica a dúvida: quem vai querer saber do que vivi? Muita gente vai querer, e sabe por quê? Ela é única, tem intensidade, curiosidade, e uma trajetória que nunca conheci outra igual. Até porque, cada um faz e tem a sua.

Entendi que desde o meu nascimento, até os dias de hoje, faço parte de uma geração que viveu e acompanhou todas as transformações do mundo. Por exemplo, lá atrás eram poucas as pessoas que tinham televisão e telefone, comíamos doces à vontade, feitos com açúcar puro, brincávamos na rua de pular corda, amarelinha, bambolê, queimada, passa anel. Nossa, nem dá para enumerar tantas brincadeiras. Não tinha TV a cabo, muito menos controle remoto, tinha mesmo era que se levantar do sofá para trocar de canal no seletor manual, e devagar, senão levava bronca. Criança era criança, adulto dava as ordens, havia hierarquia e respeito, beleza era sinônimo da natureza, ou era bonita ou não era. Os carros eram simples, e éramos felizes assim.

O que mudou? Tudo. Passamos do telefone para o celular tijolão, depois os pequenos, agora os smartphones que fazem de tudo, até aplicação de golpes facilitam. Agora, você muda com os canais da TV sem sair do lugar, e paga alguns canais se quiser assistir coisas diferentes. As fotos não têm mais filme para revelar, o resultado se vê na hora e, se não gostou, apaga e faz outra. Carro quase todo mundo tem, um melhor do que o outro, centenas de marcas, potência, modelos. Criança? Brinca no celular ou tablete, chupeta é tela, nem propaganda de brinquedo tem mais. Ninguém mais tem telefone em casa, mas se é achado em qualquer lugar, não se tem sossego nem privacidade, tem é golpe. Respeito e hierarquia não existem mais, crianças e adolescentes sabem mais do que um adulto bem vivido. E assim vivemos hoje, com tanta tecnologia e evolução, mas não somos mais felizes do que antes.

Meus filhos já vivem essa lembrança, das fitas VHS das locadoras de vídeo, do MP3, Discman, bichinho virtual, a sandália da Sandy, a chuteira do Ronaldinho, o Nike Shocks, os estojos de canetinhas e lápis, que adoravam, a internet discada, o computador de mesa, os CDs, os programas infantis, como ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, revistas educativas para as crianças, os grandes clássicos da Disney, a vida de verdade, enquanto doces e comidas foram modificados e agora fazem mal e causam doenças e obesidade. E hoje vivemos a vida de mentira.

A beleza é falsa, a felicidade é falsa, tudo é concorrência, tudo é como um quadro do programa do Silvio Santos, o “Quem dá/tem mais”. Será que ainda tem jeito? como diz a música do Ivan Lins? Se foi o próprio ser humano que mudou tudo isso e fez essa bagunça, por que não sabe voltar atrás e melhorar de novo? A evolução deveria ser mais humana do que tecnológica, mas infelizmente não é o que acontece, apesar de muitos torcerem para a melhora, há outro tanto que prefere que  permaneça assim, e essa pouca porcentagem estraga tudo. Se tudo depende de nós, só será possível vivermos em paz novamente se todos entrarem na mesma sintonia.

“Depende de nós
Se esse mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá”

(Ivan Lins)