A arte de viver

Depois de um ano tão cheio de surpresas, desde o início. Foram momentos de extrema alegria, conquistas, perdas, idas, fechamento de ciclos, novidades que alegraram o coração de uma nova vida chegando, e a partida de uma vida que durou noventa e dois anos, uma vida de dedicação total à família, desafios e pedras no caminho, mas formou uma família que frutificou com filhos, netos e bisnetos. Minha sogra Lucia. Ofereço esta crônica a ela, uma mulher que me recebeu na sua família como uma filha, e eu pude falar em vida o carinho que eu tinha e continuarei a ter por ela.

O ano ainda não terminou, depois de quase um ano de ter comprado o ingresso para o show da minha vida, ‘Maria Bethânia e Caetano Veloso’, pude ver de perto meus dois ídolos, na verdade, não acho que gosto tanto deles só pelos artistas que são, mas pela conexão que sinto quando estou ouvindo suas músicas, ou estando no mesmo lugar que eles estão. É um sentimento, uma emoção, assim como senti quando fui pela primeira vez a Salvador, pois sinto que tenho alguma conexão com essa cidade. Estou realizada, me sinto abençoada por ser quem sou, e pelo que me atrai, as pessoas que fazem parte da minha vida, minha família, meu trabalho e meus poucos amigos, mas de verdade.

Ainda teremos o Natal tradicional da minha família, esse diferente de tudo o que já passamos, na casa da minha filha, que formou sua família e está muito feliz, e minha sobrinha perto de nos trazer uma nova vida. Todos juntos e reunidos como sempre. Meu marido perdeu sua mãe muito perto desta data, mas compreende que a nossa família, filhos e netos estamos com ele, e todos os outros também. E onde estiver, dona Lucia ficará feliz em estarmos unidos nesta data que ela tanto gostava.

Ano que vem vocês conhecerão uma história de família que eu tenho muito orgulho de pertencer, poder mostrar um pouco de onde vem tudo o que sou e de quem começou. A família que me fez aprender os valores que tenho, os talentos, o gosto musical, a união, e minhas reflexões do mundo em que vivemos. A música da minha ‘ídola’ Maria Bethânia diz bem o que representa a vida que eu enxergo e coloco em minhas reflexões.

‘Quem me chamou?
Quem vai querer voltar pro ninho?
E redescobrir seu lugar
Pra retornar e enfrentar o dia a dia
Reaprender a sonhar

Você verá que é mesmo assim
Que a história não tem fim
Continua sempre que você responde: Sim
À sua imaginação
À arte de sorrir cada vez que o mundo diz: Não’

(Maria Bethânia)

Por Maristela Prado

A Solidão na Era Digital

Os dias correm, as pessoas correm, ninguém tem tempo, conversam sozinhas com um celular, as pernas não alcançam mais o mundo lá fora, o olho no olho, o abraço, a risada, os encontros. Antes podíamos chegar na casa de alguém sem avisar, mesmo porque nem todo mundo tinha telefone fixo, o meio de comunicação era apertar a campainha, se estivesse era recebido com alegria, se não estivesse ia embora sem reclamar, ficava para a próxima tentativa.

Hoje é só à base de mensagem, a pessoa responde ou não, e você fica sem resposta. Os celulares ficam sem som de tanta fraude e tentativas de golpe, é melhor nem ouvir. Chegar na casa de alguém sem avisar, é falta de educação. Passam os dias, os anos, as horas e ninguém mais se procura. Mesmo nessa modernidade toda que vivemos deixamos de ter contato.

O que aconteceu com a vida que mudou tanto e a gente nem percebeu? Agora estamos colhendo os frutos podres dessa plantação de desprezo, de tanto faz. Estamos acompanhados de um celular o dia todo, mas sozinhos.

Queria eu voltar uns quarenta anos para sentir as emoções que deixaram de existir. O telefone tocar sem saber quem era, mandar carta para quem estava longe; ou até mesmo cartão postal de viagem, quantos eu recebi. Um telegrama de parabéns, a gente ficava tão feliz! Sair de carro com o vidro aberto sem medo de assalto, fazer uma reunião de amigos no seu aniversário sem luxo nenhum, só um bolo feito pela mamãe e salgadinhos comprados a granel.

Vejo as festas luxuosas para uma criança que nem vai lembrar daquele dia, e vai querer brincar, ficar suja sem se preocupar se o papai pagou caro naquilo tudo, criança é criança, até a princesa Charlote faz birra. Todos com tudo do bom e do melhor material, mas sem o principal, atenção. Tem cartinha nos correios de criança pedindo material escolar, ou uma cadeira de rodas para alguém, enquanto outras ganhando o que nem precisa, mas todo mundo tem, não pode contrariar, não pode dar bronca, não pode educar.

Acho que as gerações passadas aprenderam muito mais sobre amor do que sobre ter, sobre ter aprendemos a batalhar, mas sobre amor é dedicação, carinho, presença e respeito. Não que os pais de hoje não o façam, mas as distrações de hoje separam até mesmo dentro de casa.

O tempo está passando e não estamos vivendo, estamos indo sem saber para onde, sem rumo. E o que será de nós se isso não parar? Fica a reflexão.

Por Maristela Prado

O SUS e a saúde privada

Em meio a tantos problemas que enfrentamos diariamente a serem resolvidos dignamente, ou melhor, humanamente, nossos parlamentares eleitos para darem voz ao que o povo necessita, novamente retornam a um assunto completamente descabido. A proibição do aborto.

Podem falar o que quiserem, mas eu, como mulher, não aceito uma lei que proíba a interrupção de uma gravidez por estupro, e, o que é pior, de uma criança estuprada ser obrigada a levar uma gravidez adiante, criança não pode ser mãe. Não somos obrigadas a seguir lei para ser mãe de um filho de um estuprador, muito menos uma criança.

Em vez de retornarem a um assunto tão fora de contexto neste momento, por que não priorizam a saúde no país? Além do Brasil, outros sete países têm convênio particular, mas o serviço público também é pago. Nenhum país tem sistema como o SUS, do qual tantos brasileiros reclamam, mas não funciona direito por quê? Não tem investimento e os convênios pagos estão cada vez piores e caros. Conclusão, estão migrando para o SUS, que não tem condições de atender toda essa população que está parando de pagar. Existem muitos convênios, um pior do que o outro e caros, e quando você precisa não cobrem, não autorizam, não fazem o reembolso devido, não se consegue consulta, não tem médico.

Parem de reclamar do sistema público, pois muitos convênios são um SUS pago. A solução seria ter hospitais de qualidade e bem equipados no SUS, com profissionais comprometidos, e acabar com todos os convênios, porque morrer se morre num hospital de celebridades ou no SUS. Não tem privilegiados, isso o dinheiro não compra. A vida não é comprada, não dá para você vir com aquela frase ridícula pronta. “Estou pagando”. A sua hora não é corrompida.

Esta semana constatei o quanto não vale a pena ter convênio. Uma senhora de 92 anos, com pneumonia e insuficiência cardíaca, chega ao pronto-socorro de um hospital particular da minha cidade e fica quarenta horas na sala de observação esperando um leito de UTI. Um descaso com a vida e uma vergonha para a nossa saúde, e não estou falando de hospital público, é particular.

Não bastasse isso, quando finalmente foi para a UTI, um dia depois já queriam liberá-la, pois a pneumonia estava sob controle, mas e a insuficiência cardíaca, espera morrer? É claro que sim. Bons profissionais existem, mas nem sempre a orientação dos convênios é garantir o atendimento necessário.

Os hospitais públicos estão ficando cada vez mais lotados porque não se tem controle no aumento de preço desses convênios, fazem o que querem e como querem, pode pagar, ok, não pode, fica sem. Simples assim, na visão comercial deles.

Agora, votar contra o aborto é privilégio, a saúde da mulher sempre sendo menosprezada, sendo colocada como incapaz de resolver sobre seu próprio corpo. Como se um estupro tivesse condição social para acontecer. Imagina a filha ou neta de algum deles grávida de um estuprador, seria normal, não é? Mas para quem tem poder a situação muda, mas o privilégio não. Somos todos mortais, não interessa aonde e quando vai morrer, mas vai, com dinheiro ou sem dinheiro.

Às vezes me pego pensando em tudo o que anda acontecendo e sinto que estamos vivendo como conseguimos, cada um a sua maneira. Estão nos contaminando com tantos absurdos, tomando decisões que não queremos, não é a voz do povo que está lá, é de cada um deles, e como querem fazer valer. Sinto que estamos largados na selva de pedra, tentando encontrar a saída, mas não tem saída. Seguimos vivendo.

Por Maristela Prado

Os ciclos que se fecham

Quando um ciclo se fecha é difícil deixar ir, mas precisamos entender que nada é para sempre, e um dia acaba. Sabemos que não devemos nos apegar a nada e a ninguém, nascemos para ser livres, mas somos incapazes de agir assim, por mais que achemos ser. Estamos sempre presos a coisas, na maioria das vezes sem sentido nenhum, mas fazem toda a diferença, porque aquilo nos remete a um passado que não volta mais, então para reviver aquele momento, um objeto é capaz até de nos fazer sentir como aquilo reverberou nas nossas vidas. Às vezes até um cheiro nos faz lembrar.

E o quanto já sabemos que não devemos nos apegar ao passado, ele já passou e nunca mais vai voltar, não daquela maneira que a gente lembra, pois a saudade é daquela fase, daquele momento, você nem era o que é hoje, nem na aparência e muito menos em como enxergava a vida. Não estamos preparados para nada, apenas para viver a felicidade, ou alegria que queríamos que durasse para sempre, mas não dura. Nem a gente dura, que dirá as coisas.

Eu sou muito intensa em tudo o que vivo, faço tudo com muita vontade e autenticidade, me apego a lembranças e, ao mesmo tempo, tento me desprender, porque sei que um dia não será mais como hoje, mas isso não quer dizer que me preparo, só me conscientizo de que tudo tem começo e fim, mas o fim é mito difícil. Por isso as pessoas vivem com pressa, precisam fazer tudo rápido, senão amanhã não dá mais. Ninguém espera nada, o trânsito tem que andar rápido, mesmo que saibamos dos milhões de carros nas ruas, e as cidades não se adequam ao volume. A pessoa que para na sua frente para olhar algo atrapalha seu tempo, o chefe que pede um trabalho faltando uma hora para você sair e ir para casa correndo para fazer o quê? Nada.

Juntar o dinheiro para ter cada vez mais, e mais, nunca é o suficiente. Mas tudo isso um dia vai acabar, e passa o tempo, passam as oportunidades de dar um abraço em alguém, de conversar sem pressa, de prestar atenção no seu filho que aprendeu a dar o nó no sapato, mas você está com pressa e não viu.

Por isso precisamos parar um pouco e pensar que a vida está passando, pois o relógio não para. Não aproveitar um momento bom com pessoas que a gente ama, não dar valor ao que tem ou a quem tem do seu lado. O tempo passa, a vida acaba, os ciclos se fecham, e precisamos estar abertos ao novo. Sempre terá o novo para começar, demora a se acostumar, mas depois vai se apegar quando fechar. Esse é o ciclo da vida.

Por que essa crônica de hoje? Esta semana fechou um ciclo na minha vida, e por mais que eu soubesse que isso iria acontecer um dia, não consegui passar por isso sem sofrer. Foi um lugar das maiores e melhores lembranças da minha vida em família. Foram os nossos melhores momentos juntos, que jamais esqueceremos. Mas tudo um dia acaba, lembra? E as saudades ficarão guardadas nas lembranças e nos corações de todos nós. O apego vai com o tempo, e agora vamos nos reinventar para outro motivo, outros momentos. A vida é tão linda e feita de surpresas que está chegando gente nova na família, e isso já significa mudanças.

Eu continuo contando histórias e falando sobre a vida, o comportamento humano, as fases, as diferenças e loucuras do que é ser humano. Eu também sou e sinto e me inspiro em minhas próprias experiências. A minha missão é poder ajudar as pessoas com minhas reflexões que aprendi com várias fases e fechamentos de ciclos que já tive que passar. E com estudos, sem essas duas coisas não adiantaria nada ficar falando sem saber o porquê do comportamento humano, julgando pessoas e não ter a responsabilidade de entender o que se passa por trás de cada atitude. Os anos 2000 trouxeram um milhão de novidades e transformações, mas também muitos problemas psicológicos para quem não consegue segurar tanta informação e a contaminação que tudo isso trouxe. Ainda temos boas pessoas no mundo, mas muitas se perderam no caminho, e às vezes não tem mais volta.

Se quiser ser um humano de verdade lute pelos seus ideais, não precisa estragar a vida do outro para ser alguém, isso não é competência, é roubar a vida do outro.  Deixa o tempo passar, se abra para o novo, deixe o ciclo fechar. Viver a plenitude não é sobre dinheiro, é sobre ser feliz e aceitar quem você é, ter uma família que te ame, ter amor no coração, ter empatia.  Só o amor une e fortalece, os bons momentos e um coração em paz, não tem preço. Nada vai te fazer mais feliz do que uma consciência tranquila e saber que suas lembranças já dizem muito sobre quem você é. Eu tenho certeza de que a saudade que me dói hoje foram meus melhores momentos.

A indústria da beleza e os perigos por trás do milagre

Há muito tempo falo sobre os padrões impostos às mulheres. A beleza está em primeiro lugar. Não pode estar fora do peso e tudo tem que ser milimetricamente perfeito. Todas têm a mesma aparência, cabelos, cílios, boca, botox para levantar aqui e ali, e não pode estar nada em desalinho com a “beleza padrão”.

Só que todo excesso é perigoso, e passou dos limites. Mês passado (outubro), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu o uso dos implantes hormonais. Conhecidos como ‘chips da beleza’, estavam sendo usados indevidamente pela indústria estética, mas, na verdade, foram elaborados para tratar problemas graves como TDPM (Transtorno Disfórico Pré-Menstrual) ou endometriose – doenças que milhares de mulheres enfrentam.

Nesta sexta-feira (22 de novembro), a Anvisa anunciou a revogação da proibição da venda, uso e propaganda de implantes hormonais, uma decisão que promete impactar positivamente a saúde de pacientes que dependem desse tratamento. A nova resolução foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), reforçando que seguirão proibidos somente os implantes à base de esteroides anabolizantes e hormônios androgênicos, os que estavam de fato sendo usados para fins estéticos, com promessas – não comprovadas – de chapar a barriga, melhorar a performance, a pele, etc… os tais “chips da beleza”.

Mas para isso acontecer foi preciso um movimento entre pacientes, médicos, farmacêuticos, empresários e fabricantes legais dos implantes. A Anvisa recebeu mais de 500 relatos de mulheres, que de uma hora para outra ficaram sem tratamento, o qual daria severos danos à saúde, já que esta foi a única forma que lhes trouxe conforto com os sintomas terríveis que as doenças causam, e que estavam em completo desespero ao se depararem com a medida. A decisão foi tomada após a CEO do MC Legacy Lab, Manuela Coutinho, coordenar o grupo que se reuniu com a diretoria da Anvisa em Brasília.

É necessário cuidar da saúde e bem-estar da mulher, com avaliação médica criteriosa. Vimos muitos casos, até de óbito, causados por negligência e falta de responsabilidade com os cuidados necessários. Não se pode sair aplicando ou receitando medicamentos que não são de uso apropriado, prejudicando e até podendo matar pessoas apenas pelo prazer da aparência, e principalmente estar inserido na beleza perfeita que só existe nos filtros das fotos e – quiçá – em imagens da TV.

Sempre devemos nos informar sobre tantos novos milagres, temos o dever e o direito de ter informações e a capacidade dos profissionais envolvidos em nossa saúde. As pessoas que realmente precisam do tratamento são as mais prejudicadas nessa incompetência de quem não trabalha com seriedade e responsabilidade.

Por Maristela Prado

Tudo o que você sente é doença

Os seus olhos podem indicar câncer, suas unhas também. Ah! O sono pode ser alguma doença, dor nas costas é um alerta, fique atento ao sinal de fadiga, pode ser uma grave doença. Viver faz mal!!! Alguém já notou as notícias diárias no Google? Querem deixar as pessoas loucas ou será a indústria do medo?

Quantos ‘médicos’ falando todos os dias o que pode e o que não pode comer, beber ou fazer. Deve comer só produto integral, daí vem outro. Não pode só comer produto integral, e por aí vai. Quem será que é médico de verdade? Colocar um estetoscópio no pescoço e falar sobre saúde é fácil e duvidoso também. Agora, ser realmente um especialista está cada vez mais difícil de acreditar, eu prefiro ir ao meu médico de confiança, ele vai saber dizer o que devo ou não fazer.

Cansei de todos os dias ter que me deparar com essas notícias, fora os famosos doentes postando na cama hospitalar e narrando, como um diário, o dia a dia, um reality show de doenças. Sabemos que todos os dias pessoas são diagnosticadas com algum problema, tudo bem noticiar, afinal são pessoas públicas, mas até aí ficar mostrando essa situação todos os dias, não precisa. Chega a ser um constrangimento na própria intimidade.

No explorar do Instagram é na maioria gente doente, pessoas fazendo bizarrices, acidentes que alguém ficou filmando em vez de socorrer, e está lá por quê? Dá likes a desgraça dos outros.

Um smartphone nas mãos e ninguém pensa duas vezes para filmar tragédias sem pensar na família e na própria pessoa. A exposição está tão exacerbada que tudo é válido, não bastassem as crianças cada vez mais sendo expostas e aprendendo desde cedo a ser pop.

Já não bastasse tanto horror, ainda me deparei com um comentário machista, claro que prefiro não mencionar quem, falando que as pessoas estão de saco cheio de ouvir falar de abuso contra a mulher, que na maioria das vezes não é nada. Claro, para um abusador que gosta de menosprezar, ridicularizar a mulher, gritar, agredir deve mesmo estar farto de tanto se falar na atitude de homem primata que ele carrega e acha que tem razão. Se não morreu é mimimi.

Continuemos com medo, notícias ruins, escândalos, e com pessoas que estão cheias de ouvir falar na maldade alheia, nas matanças, nos abusos, na morte e no prejuízo da saúde mental que assola hoje as crianças também, justamente por terem pais abusadores e que agridem em suas casas, suas mulheres, seus filhos e, assim, criam futuros abusadores, matadores e afins da covardia humana.

Por Maristela Prado

Seja chique

Ser chique é ser gentil, educado e saber se colocar no seu lugar. É ter caráter, é não ser arrogante. Tem quem ache que ser chique é vestir roupas caras, e estampar a marca para que você saiba que ela pode comprar. Não, isso não é ser chique, é querer provar o improvável. Você já viu uma pessoa chique mesmo ostentando grife? Ouro pendurado no pescoço, ou simplesmente esbanjando mau gosto?

Ora, o dinheiro que muitos vêm ganhando fácil não é sinônimo de poder, de educação ou posição. É fruto de dominar o outro com facilidade, na fala e no convencimento, que muitos têm hoje, e outros acreditam.

Está repleto de arrogante e preconceituoso na internet fazendo vídeo posando de chique, mas não é. Chique é Fernanda Torres falando do seu trabalho sem ser arrogante, mas humilde para receber o melhor prêmio que um artista gostaria. Fernanda Montenegro, mãe dela e que lhe ensinou que ser a artista mais respeitada do país não lhe fez ser aquela mulher antipática e nariz empinado por fazer bem seu trabalho, já quem acha que trabalha falando besteira na internet nem te olha nos olhos se te encontrar no aeroporto.

Como as pessoas não sabem dar valor ao que realmente tem valor. Sou famoso, já sou melhor do que você. Reles mortal, se tem um propósito nesta vida, faça-o com dedicação para fazer o seu melhor, e não querer ser o melhor. As pessoas vêm e vão e sempre terão outras para brilhar também.

Se quiser ser chique, tire a armadura e seja você mesmo, mostre que estar aí não é nada mais do que estar cumprindo o seu papel. Ninguém sabe tudo, mas todo mundo precisa respeitar o que o outro sabe. Não é sorte, não é esperteza, é talento.

Hoje somos um número na internet, ou melhor, somos likes, dependendo de quantos likes você é ou não bom, que bobagem. Tem muitos likes em pessoas sem dizer nada, e poucos em quem diz tudo, mas esse tudo é nada para quem não quer pensar, só seguir a boiada.

E assim segue o mundo chique, com pessoas cafonas na cultura e chiques no que mostram, sem saber que chique não é dinheiro, é educação.

Maternidade de verdade

A maternidade faz parte da vida da mulher desde criança, quando brinca de boneca, carrega o bebê no colo, cuida como se fosse realmente a mãe da boneca. É instinto materno? É, mas também são apresentadas às meninas as brincadeiras de ser mãe, brincar de casinha, ter panelinhas. Bom, isso quando eu era criança e não existia nada eletrônico, criança ganhava brinquedo, brincava na rua de amarelinha, passa anel, bat bag; quantas vezes aquelas bolinhas machucavam de verdade, mas a gente continuava. Criança era criança.

Mas o que isso tem a ver com a maternidade? Nem todas as meninas querem ser mãe, nem toda mulher quer cuidar de casa, mas nunca se fala nisso porque a mulher já nasce com a bula pronta, é assim e só seguir as instruções.

Ser mãe não é simplesmente engravidar, montar o quartinho e esperar o grande dia chegar. Ser mãe é estar certa de que não será por alguns meses, ou como uma brincadeira de boneca, cansou guarda. É para a vida.

As mamães de primeira viagem precisam esperar por uma mudança drástica em suas vidas, pois serão presenteadas com um ser que precisará delas para tudo, e não terá cerimônias em acordar as mamães de madrugada, com fome, dor de barriga, ou porque acordou simplesmente.

Existe uma coisa muito importante em se ter consciência, é um pedacinho de você, e esse amor será o maior da sua vida toda, já começa quando sabe que está grávida. Não existe nada igual.

Não será mais só você, agora terá alguém a mais para pensar, deixará de comprar para você para dar ao seu filho. É mágico, é lindo, mas também é difícil. Estamos cansadas de saber o quanto a mulher é sobrecarregada, ainda mais hoje, com todas as conquistas de emancipação financeira, seus direitos e deveres enquanto seres humanos e mulheres, tudo recai sobre nós.

Se você trabalha fora te falarão que ter um filho atrapalha sua vida profissional. Claro que não, mas acontece que o pai não deixa seus compromissos para cuidar do filho, mas a mãe precisa, e ai dela se não deixar, é péssima mãe, folgada, não quer cuidar e por aí vai. Chegar em casa e descansar? Imagina, quem administra a casa e os filhos? A mãe, mas o pai trabalha, a mãe não faz nada, todas as obrigações são dela.

É desgastante ser mulher e mãe. Nascer mulher, carregar um bebê no ventre, parto, amamentar, cuidar e ainda querem que você esteja bem logo depois, magra, bonita e bem. Essas exigências, para mim, já deram, até quando as mulheres viverão para serem bonitas? Se você decidiu ser mãe saiba que seu corpo vai mudar e não precisa voltar imediatamente ao que era antes, a natureza é tão sábia que a amamentação ajuda nessa recuperação, e não só isso, os cuidados vinte e quatro horas por dia sem parar, não te deixarão gorda, mas exausta.

A maternidade não é só um bebê no colo lindo, dormindo, vai muito além, não romantize isso, seja madura o suficiente para cuidar do seu filho para sempre. Ele será seu agora, vai crescer, vai se tornar um adulto e criar asas para voar assim como você fez. Jamais sairá da sua cabeça, é um pedaço seu que vai dar continuidade a você. Um dia você será o ancestral das próximas gerações, será a avó, bisavó, tataravó que deixou seu pedaço para sua continuação. Apesar dos pesares, se a sua intenção não for ser mãe está tudo bem, mas a sua origem para por aí.

Eu não quis ser mãe para ter alguém para cuidar de mim um dia, eu cuidei e tive por que queria ser mãe, mas meus filhos foram criados para seguir o caminho deles, e assim fizeram. Se um dia eu precisar de cuidados não quero que se sintam responsáveis por mim, apenas quero que pensem em mim, mas livres para viver a vida deles sem culpa. Amar também é isso, fazer sem querer nada em troca, minha missão como mãe eu cumpri, hoje são adultos, mas nem por isso deixaram de ser meus filhos, se precisarem estou aqui. Eu escolhi ser mãe, e garanto nunca amei ninguém como os amo. Apesar de todos os percalços que a vida traz, eu faria tudo de novo.

Somos todos neuróticos

A neurose são conflitos internos com os quais todos temos que lidar, claro que nem todos temos crises histéricas, mas quem nunca sentiu angústia? Como podemos resolver isso? As terapias estão aí para ajudar.

Desde que nascemos começamos a armazenar uma série de informações, que vão ficando guardadas na memória, mesmo que não se dê conta disso. Basta uma palavra dita por alguém ou lida, que se houver algum gatilho guardado, bom ou ruim, ele aparece na hora.

Imagina quantas memórias temos armazenadas de uma vida inteira, sendo que às vezes temos que lidar com situações que insistem em ser recorrentes e a gente não consegue entender. Alguma coisa no seu passado, normalmente na infância, aconteceu e não vai se lembrar, por mais que se esforce. Afinal, quando algo ruim acontece tendemos a apagar, mesmo que esteja lá. Um medo, fobia, angústia, ansiedade, fobia.

Atualmente, vivemos uma coletividade de neuroses, justamente pelo mundo que estamos enfrentando. Está cada vez mais tenso, o medo tem tido espaço maior devido à nossa incapacidade de mudar as questões sociais. Nem mesmo para nos expressarmos naturalmente temos liberdade.

Isso tudo ajuda a disparar gatilhos guardados que, a qualquer momento, podem voltar à tona sem prévio preparo para enfrentá-los, e naturalmente um desses fatores relatados acima pode desencadear, embora o neurótico saiba exatamente o que está fazendo, sabe da realidade.

O preconceito ainda tem uma força grande sobre quem sofre com esses distúrbios, até mesmo a depressão. As angústias emocionais são pertinentes a qualquer um, não tem cor, posição social, credo ou qualquer coisa que possa distinguir uns dos outros.

Nossa sociedade atual vive estressada, tóxica, mexendo diretamente com nossa saúde mental/emocional. Cada vez mais vimos pessoas desanimadas, cansadas, sem saber para onde remar. Pessoas abusivas em todos os segmentos e, pior, desinformadas e querendo ter razão. É um desgaste emocional perigoso.

Nem sempre uma pessoa sorrindo está necessariamente bem e feliz, guarda atrás um descontentamento, um cansaço emocional, uma perda de pertencimento. As redes sociais mostram isso todos os dias, a família feliz, a pessoa mais sortuda, as mais lindas e poderosas. Essa é a pior mentira do século, é a pior maneira de se expressar para dizer o que gostaria que fosse, mas não é.

Gera a inveja, a falta que existe no outro que está vendo, o não pertencimento àquela felicidade falsa, e faz com que o desejo de ter também cause mais danos quando se vai em busca da perfeição que não existe. Causa o gatilho ruim que adoece.

As pessoas públicas são as que mais sofrem com ataques, não há nada que façam que não seja bombardeado. E quem ataca é o frustrado, invejoso e o que mais angústia emocional sofre, sabe por quê? Para suprir sua falta, aquilo que gostaria de ser e não é, sente um falso alívio em diminuir alguém.

Quando volta para a sua realidade, nada mudou, a vida só muda quando você se permite ser melhor, senão outros sempre parecerão melhor, enquanto não cuidar das suas emoções perdidas no armazenamento do seu cérebro com milhões de livretos guardando seus traumas e gatilhos. Trate-os, deixe as pessoas em paz e seja feliz de verdade, sem colocar nas redes sociais. Só você precisa saber quem você é.

Pequenos superdotados e o futuro

Já falei sobre a adultização de crianças, que não para de crescer nas redes sociais, isso num mundo cruel e repleto de violações. Sempre se vê recomendações sobre a exposição das crianças na internet, como não postar com uniforme, carros de luxo, em frente à casa ou condomínio, e mais que tudo, exibir rosto e colocar os pequenos em situação de extrema vulnerabilidade. Mas não é o que tenho visto.

Agora virou moda expor habilidades de inteligência de crianças. Tudo bem que você se orgulhe disso, qual pai e mãe não se orgulham, mas está havendo uma concorrência anormal quanto à capacidade cognitiva e intelectual, e com isso pais aproveitando o sucesso de crianças inocentes ganhando notoriedade à custa da exposição.

Realmente são muito inteligentes e avançados, mas será que ninguém parou para pensar que essas crianças serão o futuro no mundo? Elas não são superdotadas apenas, elas estão chegando prontas para mudar tudo. Por isso sabem falar bem, raciocínio lógico, a cognição avançada e aprendizado rápido. Será que ninguém notou?

E não para por aí, tem jovens muito inteligentes e capazes que não são expostos desta forma, já sabem falar sobre a realidade que não querem que saibamos. Não tem graça. Como Greta Thunberg, uma ativista sueca que ouviu falar sobre o aquecimento global pela primeira vez aos oito anos em 2011 que discursou até na ONU. Foi diagnosticada com síndrome de asperger (espectro autista), porque depois que soube sobre o assunto ficou muito preocupada, não saia da sua cabeça o pavor sobre o futuro e a falta de ação dos adultos. Entrou em depressão e foi dado o diagnóstico. Agora eu pergunto. Uma pessoa carrega consigo um diagnóstico de uma doença pelo que sentiu ao saber, mas em momento algum levantaram a capacidade intelectual de ela ter tido essa compreensão de um assunto tão importante, e com pouca idade.

Assim como ela, existem outros, mas a inteligência para o bem não é notada ou valorizada, apenas quem comete o mal é que tem holofotes. Um influenciador que leva a informação falsa é ovacionado, o professor que traz conhecimento e cultura é desrespeitado. E as crianças inteligentes, quando serão notadas como possíveis seres transformadores e não por ego dos pais e instrumento de trabalho infantil?

Tanta coisa acontecendo no mundo e parece que nada disso terá qualquer repercussão, mas não vai acabar em pizza. As crianças superdotadas estão nascendo para enxergar o que os adultos superdotados de ganância não querem enxergar. O mundo está sendo destruído não só pela guerra armada, mas pela guerra do poder, o domínio, do melhor, do mais esperto.

Essas crianças precisam se tornar adultos emocionalmente saudáveis, sem o foco da famosidade, mas com foco na inteligência que lhes cabe e no quanto podem ser transformadoras para as futuras gerações. O poder de mudar o mundo para um lugar mais consciente, de não lutar por domínios que só existem na mente desses que são os verdadeiros doentes da Terra.

 A infância passa rápido demais, e estão tirando essa fase cada vez mais cedo. Deixem as crianças viverem, brincarem e serem felizes. Não precisa mostrar tudo o que acontece na vida delas, a maldade chega pelos olhos, pelos pensamentos. Nem tudo é visto com bons olhos. Deixem seus filhos no anonimato, eles precisam da atenção e orgulho dos pais e não do mundo.

Crônicas, artigos e críticas literárias