Arquivo da categoria: Artigo

De onde vem tanta fúria?

Quando estávamos passando pela pandemia, acreditávamos que as pessoas sairiam daquela situação muito melhores, mais humanas. Mas o que parece hoje é que está totalmente ao contrário, o humano ou enlouqueceu ou colocou seu lado animal para fora.

De onde estão surgindo tantas pessoas furiosas? Qual o verdadeiro motivo para tanta raiva e falta de controle? Está perigoso até pedir licença, alguém pode se invocar com você. ‘Por que quer passar exatamente agora que eu estou aqui’? Esse simples gesto pode se tornar uma agressão.

São tantas as bizarrices que vemos todos os dias que não sei quando foi que tudo isso começou. O mundo em que vivemos hoje está muito acelerado, e, com muita cobrança de todos os tipos, ninguém mais vive o presente; a vida passou a ser o futuro desesperador por estar dentro dele. Ninguém mais sabe resolver uma situação conversando, tendo a paciência tão necessária para nosso autocontrole. Isso não justifica. Desde quando se compensa a raiva matando, agredindo, humilhando alguém?

 Apesar de todos os problemas atuais (muitos dos quais nem são um problema de fato), devem invadir a vida do outro? Precisamos urgentemente de uma saúde pública mental realmente atuante e de qualidade, para que possamos ter uma sociedade mais equilibrada e que enxerguem os fatos como fatos, e não como provocação. O que será do futuro se isso não tiver um olhar para uma solução urgente? Vamos matar uns aos outros como os animais famintos brigando pela sua presa?

 Como podemos acreditar nas próximas gerações se estão sendo criadas por adultos descontrolados? Não adianta, os exemplos vêm de casa, não podemos esperar pessoas equilibradas que estão sendo criadas por desequilibrados.

Para isso é importante que haja, de uma vez por todas, leis mais severas para punir quem comete atos perigosos de fúria. Não podemos viver numa sociedade onde cada um faz o que quer sem que haja punição.

Precisamos retroceder para reencontrarmos as regras de educação que existiam antes de tudo isso, não é pedir demais educação das pessoas, uma conduta civilizada, não vivemos na selva, vivemos em cidades de concreto onde habitam seres humanos, pelo menos é o que existia antes.

Não adianta querer civilizar as crianças dentro de escolas com regime militar se os pais não são civilizados, a menos que os filhos passem a criar os pais, talvez seja isso que venha a acontecer.

Nosso mundo mudou, apesar de todas as inovações, mudou para pior. O que veio para ajudar e melhorar na comunicação, conseguiram tornar uma arma do mal, enganando, roubando e invadindo a privacidade de vidas. As facilidades fizeram tudo se tornar possível, inclusive o controle de uns sobre os outros, pior de tudo, na palma da mão. E hoje é o que vemos, pessoas achando que podem tudo, inclusive agredir.

As palavras ferem, podem inclusive adoecer uma pessoa, sair falando o que pensa não é uma boa ideia, tudo tem limite, inclusive a falta de educação, ninguém é melhor do que ninguém, ninguém é dono de nada, se soubermos respeitar os outros já estaremos ganhando, e sem precisar ofender ou gritar, ou, até mesmo, matar.

Esperamos um mundo melhor, esperamos que a próxima geração traga um pouco mais de conduta nas relações sociais, mais empatia e respeito. O mundo é para todos, mas não precisa dessas pessoas para continuar, precisamos de mais amor. Na próxima vez que achar que pode ofender o outro só porque você não gosta, se coloque no lugar, e sinta se gostaria que fizessem o mesmo com você. Acho que não, o covarde ofende porque não sabe se defender, minimizar o outro é o que o faz se sentir feliz.

Estamos próximos do fim?

Faz sol, faz frio, chove, faz um calor de 40° insuportável para o que estamos habituados e, de repente cai para 12°. O que está acontecendo com o mundo? O que está acontecendo com a natureza? Há quanto tempo está se mexendo com a natureza? As queimadas para desmatar a terra, dando lugar para o agronegócio, e para práticas ilegais, como a extração de madeira e garimpos. O homem estragou tudo, por dinheiro.

Sempre o dinheiro, a maior devastação que poderia ter acontecido. Teria sido tudo muito mais fácil se não houvesse esse culto pelo poder e pelo ter. Já sabemos que não vamos virar semente aqui, a passagem é curta, mas tem que ser muito bem aproveitada, daqui não se leva nada, apenas a sabedoria ou a ignorância.

A prepotência, arrogância e os mimimis que cansamos de ouvir e ver simplesmente não servem para nada. No momento dos desastres naturais não tem privilegiados, pode inundar a casa do pobre, mas também pode devastar a mansão na costa mais alta; para a natureza não tem limites. Então, porque achar que o dinheiro ou posição fazem toda a diferença, se na hora H somos todos iguais?

As geleiras estão derretendo mais rápido do que deveria, os terremotos estão aparecendo em outros países, assim como furacões e ciclones, que agora o brasileiro também está conhecendo, o Sul e Sudeste do país viram de perto o que é isso. Não temos mais as quatro estações, estamos num barco sem segurança e não sabemos para onde estamos indo.

 A guerra não está apenas na Rússia e Ucrânia, e agora em Israel, está em todo o mundo, cada um com sua guerra particular, suas incapacidades de resolver os problemas que as sociedades arrumaram, mas agora não conseguem mudar. Por quê? O básico da educação mudou, hoje temos crianças e jovens que decidem o que querem e como querem, sabem tudo, muito mais do que pai, mãe, professor. Os adultos também mudaram, falam o que pensam sem sequer preocuparem-se com o outro, simplesmente falam. Competem, invejam e desfazem. É, o dinheiro vale mais do que amor.

O mundo está chegando ao fim? Estava tudo previsto, mas não fazíamos ideia que seria assim, com tantas catástrofes, uns matando os outros, filhos matando pais, e pais matando os filhos. Depressão, ansiedade, maldade, ódio. Será que esse fim terá pedidos de redenção? O que será de tudo isso se o Homem não mudar? Se o preconceito não acabar? Se a violência continuar? Seremos engolidos pelas águas, pelo vento, pelo sol escaldante? Tudo terminará em fogo? Será que teremos tempo para a redenção, ou não?

A natureza não perdoa, está tomando tudo de volta e varrendo o que precisa ir. Em cada canto do nosso país está acontecendo uma catástrofe diferente. No Norte, na região do Amazonas, é o ar, estão respirando terra; no Sudeste, Rio de Janeiro é o mar mandando todo mundo embora da praia e chegando até a rua; em São Paulo, ventos de 150 km. No Sul, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina foram as chuvas; no Centro-oeste, o calor perigoso, e, no Nordeste, chuvas intensas.

O que mais precisa acontecer? Será que está tudo dentro do normal? Não, é preciso parar, é preciso respeitar a natureza, é preciso viver, é preciso saber viver (Titãs).

Brincadeira de criança

 Mãe da rua ou pique bandeira? Corre cotia ou passa anel? As crianças com mais de 50 anos vão lembrar dessas brincadeiras; ainda não havia telas para brincar sentado, brincávamos correndo, gastando muita energia. Pulava corda, amarelinha; e as brincadeiras dos meninos. Carrinho de rolimã, fubeca, pião, pipa ou papagaio – dependendo da região –, e tantas outras.

Alguns vão dizer que é saudosismo, e é mesmo. As brincadeiras eram simples e ingênuas, mas não vivíamos num mundo tão sobrecarregado de informação, não tínhamos sede sobre fatos, tínhamos uma vontade imensa de brincar e assistir TV, que era recheada de programação infantil que trazia curiosidades e a fantasia de que as crianças precisavam para se desenvolver, nas décadas de 60 e 70, quando éramos apenas crianças.

Quem não lembra da simplicidade que era ser criança? Brincávamos na rua de pega-pega, esconde-esconde, de pular corda. Bullyng sempre existiu, mas era na brincadeira e não na maldade. As crianças não tinham raiva ou preconceito, todos eram amigos, ninguém pensava em matar os colegas. A educação começava em casa, íamos à escola para aprender as questões escolares, e não ousávamos desrespeitar o ambiente escolar. Não éramos perfeitos, mas as imperfeições eram corrigíveis, não precisava de cadeia.

Não tínhamos celular e nem computador, conversávamos com as pessoas, sabíamos ficar sem fazer nada e passar o tempo. Nasci junto com a ditadura, a qual vivi até adulta, mas não me preocupava com o que acontecia. Quando criança, era apenas uma criança, na adolescência vivi em paz, embora às voltas com as regras pesadas, mas isso não me afetou. Não sou revoltada nem traumatizada, minha educação me fez entender o meu lugar. Hoje tenho dois filhos e um neto, muita coisa mudou, respeito a época de cada um, mas a educação não é de época nem da moda, é a base de uma boa educação, e isso eu ainda cobro.

Outro dia vi um comentário bem insignificante de um internauta numa publicação sobre a juventude dos anos 80. Tratava-se das músicas e vestimentas da época, e claro que quem viveu essa época mágica e inesquecível tem muitas lembranças. Pois bem, a pessoa vem e escreve que falam num saudosismo como se não tivesse ocorrido nada de ruim, e detalhou fatos políticos da época, querendo desmerecer as memórias ali expostas, e ainda ressaltou que era criança, mas viveu tudo aquilo. Como uma criança lembraria de tantos detalhes e teria tido um trauma tão grande sendo apenas criança? Sim, hoje sabe dos fatos, mas não sofreu. E nós, jovens, éramos muito felizes, sim. Apesar da ditadura e de toda a repressão, vivíamos as maravilhas daqueles anos, sem brigas, sem ofensas e sem querer ser o sábio da vez.

Nosso país e o mundo mudaram nesses últimos 40, 50, 60 anos, e nós mudamos também, senão seríamos engolidos pelas transformações. Mas jamais podemos deixar de ter nossas lembranças sem nos importar se teve problemas, pois a vida é curta demais para sempre trazer pra perto o ruim. Vamos deixar um pouco de lado esse vício de querer trazer intriga para onde está tudo bem. Vamos viver um pouco a época em que nossa preocupação era pegar o lencinho e sair correndo atrás de quem jogou, assim a gente muda o foco do politicamente correto para o ‘se o lencinho for meu, eu te pego’.

Assédio moral. O perigo mora ao lado

Estamos atravessando um século de graves problemas de relacionamento. E digo mais, em todo tipo de relacionamento. Já falei muito em opinião, de ter razão, estar certo. Mas e as relações interpessoais com colegas de trabalho, amigos e família, como andam?

Certamente cheias de problemas, pois se não nos entendemos nas opiniões, imagine em posições. A posição que ocupa no trabalho, por exemplo, é uma batalha diária para quem vai alcançar o melhor lugar, ser o mais esperto.

Só que para isso é necessário que os que não fazem parte de um grupo fiquem de lado, sofrendo com a falta de comunicação que é tão importante nas relações. Assim, excluídos, passarão a ser praticamente invisíveis, certamente cartas erradas tiradas do baralho, descartadas para dar espaço a quem pouco faz para merecer, mas ‘merece’ mesmo assim.

Acontece que muitas pessoas acham que assédio moral é apenas um desrespeito que só acontece com os outros, mas pode estar ao seu lado e você nem percebeu, ou ainda, pode ser você mesmo que esteja praticando sem se dar conta, prejudicando um colega na sua vida, na saúde, sendo o responsável por uma depressão, pela perda de alguém que não foi aceito naquele grupo.

O assédio costuma vir de colegas ou até mesmo de chefes, que utilizam do cargo para ter autoridade; um grande equívoco, pois autoridade não é depreciar, xingar, humilhar, excluir, isolar, isso é autoritarismo abusivo por falta de capacidade de liderança, um líder traz a equipe pra perto, está junto, diz nós e não eu.

Quando vimos crianças e adolescentes passarem por bullying não pensamos que é a mesma coisa, que é um assédio do qual estão sendo vítimas desde cedo e que traz sérios problemas para quem sofre desse abuso, que pode destruir uma pessoa apenas humilhando, isolando, excluindo e ridicularizando só para se sentir superior. No entanto, o assediador é muito mais inferior do que possa imaginar, pois só o fato de precisar diminuir alguém já demonstra o quanto é incapaz.

Os comportamentos abusivos ultrapassam as relações amorosas, encontramos problemas graves em todos os lugares. Para ser aceito em grupos é preciso estar nos padrões deste século repleto de exigências. Estamos morrendo porque não temos o corpo perfeito; deixa de comer para ser magro e não está feliz, mas está no padrão. Não bebe? Começa a beber, senão é babaca; começa a beber e não consegue mais parar.

Cerque-se de pessoas inteligentes e não espertas, assim terá bagagem para ser grande na vida e seguir o seu caminho do lado certo. Pessoas inteligentes te ensinam os valores da vida, a agir com talento e capacidade. As espertas apenas fazem tudo errado para chegar aonde não são capazes de decidir nada, e sequer saberão um dia o que você sabe.

O assédio moral em qualquer forma é crime, e crimes têm que ser denunciados. Isolar ou excluir uma pessoa de um grupo é assédio moral interpessoal e pode render uma boa dor de cabeça para quem pratica. Portanto, fique de olho e se informe, se souber que alguém se encontra nessa situação, denuncie, pois só assim talvez acabemos com os abusos.

As emoções não são uma bobagem

Recentemente foi lançado um livro da bióloga brasileira Natália Pasternak e seu marido, o jornalista Carlos Orsi, intitulado ‘Que bobagem’, colocando em xeque a psicanálise como não ciência, ou pseudociência. O livro vem provocando revolta no mundo psicanalítico, sendo desqualificado quanto à sua eficácia.

Para quem não conhece o estudo feito por Freud, o precursor do funcionamento da mente, que aliás era neurologista, mas acabou se dedicando à pesquisa das neuroses, não pode se basear apenas em aspectos palpáveis, os quais se resolve com medicamento. É muito mais do que isso.

 Como diz Vera Ianconelli, psicanalista e doutora em psicologia pela USP, no seu brilhante artigo no jornal Folha de São Paulo: “A ética freudiana faz enorme falta entre nós.” “A maior façanha de Freud foi sustentar com sua genialidade, o desconcerto diante do não saber.” “O tema da cientificidade da psicanálise é antigo e fascinante, mas nem tudo está à altura dessa discussão.”

Para falar com veemência sobre um assunto o qual seu conhecimento não tenha sido estudado, mas elaborado em cima de pesquisas – as quais podem ser favoráveis ou não – ficará apontado apenas na sua opinião. Não que o casal não tenha capacidade, mas é baseada na área de cada um. Reforçando que tenho cursos paralelos sobre psicanálise e estudo muito sobre a terapia, mas meu interesse é sobre o comportamento do ser humano e suas causas. Escrevendo passo informações sobre o que aprendo e acho importante que mais pessoas saibam.

Os sentimentos estão ligados diretamente com a saúde mental, visto que depressão, ansiedade, TDAH e pânico, entre outras doenças relacionadas aos sentimentos, são controladas com medicamentos, mas com a necessidade de um acompanhamento psicológico. Tudo começa nos pensamentos, na dor, tristeza, medo, amor, e torna-se doença. Se todos cuidassem mais da saúde mental não haveria tanta doença.

Não dá para tirar um tumor desses sentimentos, mas dá para descobrir de onde veio, como começou. Traumas nascem dentro de nós e o único remédio poderia ser as atitudes que tomamos, os caminhos que seguimos, as coisas erradas que falamos e fazemos. Um dia isso tudo se torna um monstro dentro de nós, e precisamos de alguém que entenda e nos ouça para que isso possa ser compreendido, aceito e transformado.

As tarjas pretas controlam, relaxam, são necessárias em alguns casos, mas não curam, o que a psicanálise faz é encontrar a causa, não a cura.  É o seu entendimento, é saber lidar com isso sem prejuízo, e isso só é possível com terapia.

 Os problemas emocionais sempre existiram, mas eram tratados em manicômios com choques e medicamentos pesados, por vezes desnecessários, causando graves problemas. O mundo atual gerou muito mais transtornos, mentes estão perturbadas pelos impulsos do ter, pelo fracasso, pelas opiniões e pelas imposições em prol do próprio ego.  

Existem estudos sobre a eficácia da psicanálise, que se designa como ciência natural, ou seja, mecanismos naturais do inconsciente dos processos cerebrais, sendo da mesma natureza de outros processos psicológicos. Portanto, se tantas pessoas já se beneficiaram com o tratamento, a quem interessa desmistificar isso? Freud explica.

O futuro da geração 2000

Outro dia assisti a uma entrevista com crianças dos anos 1960 sobre como elas achavam que seria o ano 2000, e imaginaram desde computadores que dominariam o mundo, robôs, superpopulação e até o aquecimento global. A profecia foi feita com sucesso.

Agora poderíamos fazer o mesmo com as crianças dos anos 2000, ou seja, como elas acham que será o mundo daqui a 50 anos? Talvez um pouco previsível, já que a tecnologia não para de avançar.

É preocupante ver que robôs estão dominando o ser humano, e até que ponto isso pode ser positivo? O que será do futuro, se já estamos vivenciando o quase sedentarismo mental? Sem qualquer esforço, o ser humano será imprestável, já que um robô o está substituindo aos poucos em tudo, tomando conta.

Se conhecimento e cultura se adquirem lendo, escrevendo, estudando, como tudo isso será sem que haja interesse e disposição em aprender? Só será necessário dar comandos. Será que seremos servos dos robôs? O ser humano está sendo tragado por máquinas e nem percebe o tamanho do buraco.

Dizem até que os robôs vão se rebelar contra nós. Não acho que chegará a tanto, mas é fato que o humano, e modo geral, está se deixando dominar, ficando tudo mais fácil, sem muito trabalho. E se isso se tornar tão confortável ao ponto de não sermos mais capazes de agir sozinhos? Quanto pode ser destrutivo? Afinal, corremos o risco, inclusive, sobre o que podem fazer com nossa imagem, voz e até com nossa vida.

Essa nova geração de crianças já nasceu num mundo tecnológico, pois o primeiro contato com as telas começa muito cedo. É comum ver bebês que já ficam distraídos vendo imagens e joguinhos no celular ou tablet. O estrago começa mesmo antes do desenvolvimento cognitivo, e os equipamentos fatalmente serão os passatempos prediletos.

As telas invadiram as escolas, a princípio com um bom propósito, nas quais as crianças faziam pesquisas em sala especial, montada com computadores, mas aos poucos foi permitido o uso de tablets nas salas de aula para facilitar o processo. Mas por que isso seria importante no aprendizado, visto que já utilizam em casa na maior parte do tempo? Não sou contra a informatização das escolas e do processo de ensino apenas acho que as crianças já passam tempo demais em frente às telas, e as escolas colaboraram para que não se desconectem. Os livros didáticos e a escrita com as próprias mãos não podem deixar de existir, são ações que servem como estímulo ao cérebro e também à memorização do que se escreve. É assim que se aprende.

Na Suécia já voltaram ao processo dos livros didáticos e aboliram o uso de telas nas escolas. Isso porque, de acordo com pesquisas, os alunos suecos tiveram uma queda no aprendizado, que estaria relacionada ao fato de a tela tirar a concentração, enquanto em livros de papel é mais fácil a memorização. Esse exemplo deveria ser seguido, visto que as crianças e jovens brasileiros passam um tempo muito grande do dia focados nas telas.

Agora mesmo, aqui no Brasil, em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas disse que iria digitalizar as escolas em 100% em 2024, mas como a notícia não teve boa repercussão, ele voltou atrás e disse que irá encadernar esse material para quem assim preferir. Esse assunto é um tanto polêmico e não vou discutir, apenas quero chamar a atenção do que essa tecnologia desenfreada pode repercutir negativamente com o futuro dessa geração.

Nossas crianças não conheceram a infância de verdade, como foi com as gerações anteriores. Não existe mais programa infantil, músicas e nem mesmo desenhos compatíveis com a ingenuidade de uma criança. Não tem mais fantasia, o mundo real faz parte dos pequenos muito rápido, o excesso de informação acelerou a puberdade, e a melhor fase da vida acaba muito cedo.

Espero que tudo seja diferente, que essas crianças sejam adultos inteligentes e mais humanos do que temos hoje. Que possam mudar o mundo com a tecnologia que nasceu com eles e fazer um lugar melhor para se viver.

 Os anos 2000 chegaram, mas não percebemos.

Dando continuidade ao assunto da última crônica – Inteligência Artificial –, quero abordar aqui a evolução que estamos vivendo e o que não percebemos. A forma de comunicação dos humanos evoluiu de símbolos desenhados para a escrita e isso mudou tudo, imagina agora.

A escrita nasceu no antigo Egito e, quando começou, não foi fácil com que chegasse às pessoas aquele novo modo de se comunicar, levou tempo e entendimento, aquilo poderia fazer o homem parar de pensar passando a confiar num papel. A internet foi um meio rápido de chegar ao maior número de pessoas no mundo, no começo também teve a recusa de alguns e o deslumbramento de outros. Com o tempo foi tomando espaço e, hoje, é o meio de comunicação que conhecemos e aprendemos a conviver.

Agora surge a Inteligência Artificial para nos assustar e contestar seu uso. Certamente que em breve será usada pela maioria da população mundial, e mudará nosso jeito de pensar e enxergar essa nova ferramenta. Mais uma vez seremos desafiados a mergulhar num novo modo tecnológico, que pode nos ajudar, mas também pode atrapalhar. Como tudo não é cem por cento, o que podemos esperar?

As crianças desse novo mundo não se adaptam aos velhos tempos, estão à frente do que nós fomos e tudo isso que não entendemos é porque eles vão dominar, não nós. Assim talvez fique mais fácil de compreendermos tanta coisa nova chegando, mas temos que entender que os novos tempos precisam chegar e, para isso, o velho precisa ir.

Se parar para pensar tem muita coisa que não faz mais sentido e ainda perdura aos nossos olhos, sem que percebamos o quanto está obsoleto. O conflito com o novo sempre existiu, um dia fomos os jovens incompreendidos, hoje estamos na oposição ao mundo dos jovens, talvez ainda não compreendamos que nada mudou, somente nós é que estamos vivenciando tudo novo junto com eles, os jovens, e por isso não entendemos.

É complexo e confuso, mas um dia isso não será mais assim porque os jovens de hoje serão muito mais preparados para as mudanças, já nasceram nesse mundo de mudanças constantes, de entenderem com mais facilidade as diferenças entre as pessoas, gostos, modos de vida. Quando envelhecerem, suas mentes estarão sempre atuais, porque vieram para mudar, para aprimorar e para entender.

Estou certa de que agora sim enxergo o novo mundo. Negamos durante muito tempo os anos 2000, mas não tem mais como negar, ele chegou e estamos vivendo intensamente, só não tínhamos percebido ainda. Bem-vindo ao século XXI.

Inteligência artificial, não precisa mais pensar?

Dia desses me surpreendi quando entrei num site de língua portuguesa e lá estava: ‘Digite aqui seu texto que nossa inteligência artificial corrige pra você’. Eu nem tinha a intenção de escrever nada, apenas uma pesquisa que estava fazendo. Mas aí pensei: como será o aprendizado dos jovens a partir de agora?

Desde que o antigo celular passou a ser smartphone deixamos muita coisa de lado. Quase não se liga mais para as pessoas, pois é só passar uma mensagem escrita ou de voz que conversa do mesmo jeito, ou ainda as fotos postadas que indicam onde você está, mapas de localização – até o Google manda todos os lugares que você esteve no mês!

Meu Deus! Somos todos encontrados, quer você queira ou não. Então, adeus privacidade. Mas agora os tempos mudaram, e as inovações não param, com a IA não precisa mais pensar nem tentar aprender, o robô faz por você. Já estava fazendo até a limpeza da sua casa, mas agora pode também pensar por você, caso queira.

Como será que estaremos daqui a dez anos? Sentados no sofá com o smartphone na mão pedindo comida, esperando o robô escrever pra você, trocando canal de TV e colocando as músicas que quiser no streaming de sua preferência, jogando, conversando, trabalhando, o que mais?

Será que vamos dirigir? Acho que não, o carro vai te levar por meio de computador programado. Escola não existirá, afinal algumas profissões não existirão mais, e eu estou correndo perigo, logo mais o robô vai escrever livros, artigos. Vamos continuar a existir?

As máquinas estão invadindo nosso universo já faz um tempo. O ruim disso é que estamos ficando cada vez mais sem movimento, usando quase tudo pelo comando de voz, sem que seja necessário levantar para acender a luz, ligar o som, colocar o relógio para despertar e outras coisas mais. Agora a evolução chegou ao cérebro também, é só um clique e esperar o cérebro artificial fazer por você. O quão importante isso será?

Ou seja, não tem mais volta, a tecnologia tomou conta e só nos resta seguir junto, nos adaptando nesse mundo louco. Nos disseram que seria assim, com robôs e tudo muito futurista. Não é exatamente como fantasiamos ou como certos desenhos mostravam, mas tá bem parecido, e hoje é real.

Daqui a dez anos a gente volta a falar nesse assunto, se ainda existir o ser humano. E, se existir, não faço ideia de como vamos conversar, talvez por chips telepáticos. Aguardemos. Até lá.

As relações humanas e a falta de humanidade.

De acordo com a história da humanidade, fomos divididos em clãs, vivíamos em grupo. Desta forma a população de cada nação se formou e cresceu. Até que naquele período uns ajudavam os outros, mas, e agora, o que é que aconteceu que não existe mais essa ligação entre as pessoas? Talvez a individualidade, o querer ter razão, ser melhor em tudo, ou o faço por mim, mas não faço pelos outros.

Podemos dizer que o que mais existe hoje de tóxico é a intolerância com as diferenças, ninguém quer saber de lidar com aquilo que não gosta. Mas não podemos e nem devemos ser todos iguais, mesmo porque viemos de famílias diferentes, não só pelas pessoas que nela habitam, mas principalmente por valores, crenças e costumes que cada família carrega.

Somos todos iguais por estarmos inseridos na mesma sociedade, da qual nos são apresentados desde muito pequenos os mecanismos existentes. Se parar para pensar tem um ritual, regras que estão estabelecidas que são incorporadas por todos sem questionamento nenhum.

As religiões são parte dessas diferenças, mas isso não invalida aquela ou outra pessoa apenas por ter aquela crença, continua sendo da mesma sociedade em que você está também. Mas não é assim que acontece. Existe uma competição insana pelas crenças, o que gera verdadeiros conflitos, sendo que basta entender e aceitar o que cada um é ou prefere ser.

Os conflitos nada mais são do que a insuficiência do ser humano para lidar com aquilo que não aceita no outro, precisa atacar para se sentir melhor. Mas será que isso é o suficiente? Afinal, o que se ‘ganha’ com isso? Angústia, o vazio que forma dentro daquele que atacou e tudo continua da mesma forma. Não temos o controle de tudo, apenas de algumas coisas da nossa própria vida, algumas coisas. Da morte, por exemplo, não temos.

Essa angústia gera conflitos consigo mesmo, vai sempre de encontro com aquilo que não se consegue mudar, é um monstro criado por você mesmo que briga constantemente com a sua insuficiência de querer mudar o que não lhe compete.

As relações humanas estão à beira da loucura, ou já se tornaram loucura? Todos os dias sabemos de notícias de absurdos que acontecem por intolerância, por desprezo e egoísmo. O egocentrismo prevalece de uma forma assustadora, sem ressentimento. Vale a pena viver para ser o melhor, o certo, o mais bonito, o mais inteligente, ou não deveríamos voltar a querer de fato viver o aqui e agora sem essa exposição toda e sermos de verdade quem somos?

Não esqueça que sua vida começa e termina um dia. Se não estiver disposto a enfrentar os altos e baixos, correr riscos e não aprender a lidar com os finais, então não vale a pena viver. Concentre-se mais em você, esquece os outros, temos prazo nessa passagem. Se perde tempo em querer brigar para vencer, vai acabar sem tempo para viver.

As crianças do mundo pedem socorro

Criança no meu tempo brincava na rua, gostava de brinquedo, de pular corda, brincar de roda. Criança respeitava adulto, se vestia como criança, passava de fases (da vida), se sentava à mesa nas refeições, assistia TV com a família, e nada disso resultou em problemas. Traumas, quem não tem? Não me lembro de meus pais fazerem coisas para me ver quieta, quando saíam com os amigos eu ia junto. Ninguém se distraia com telas, jogos eletrônicos, amigos virtuais, a vida era em família, de verdade.

Daí chega alguém e vai falar, ‘que papo mais careta, o mundo mudou, evoluímos, estamos nos anos 2000’, e eu digo: Que pena, não imaginava que evoluir era chegar nesse caos que vivemos hoje, nos mesmos anos 2000 que você exalta tanto. Crianças viciadas em jogos e precisando de tratamento psicológico, com doenças que antes acometiam basicamente adultos, e agora elas carregam o fardo dos anos 2000. Comida fácil, embrulhada e quentinha, que chega em casa, mas não foi a mamãe quem fez, foi a lanchonete famosa que produz em massa lanches e mais lanches, sem o cuidado do que contém ali. Mas e daí? Temos remédios para tudo, equipamentos hospitalares de última geração, dietas.

E os joguinhos da internet que tiram os pequenos do mundo real por horas? Não têm hora para entrar em casa, tomar banho, colocar pijama e jantar. Depois a cama arrumada e ouvir historinhas ou rezar pro anjo da guarda. Não, vão se deitar lembrando do jogo que perderam pro amigo, ou pior ainda, pro desconhecido que joga junto; se é criança, adulto, quem sabe? Mas está em casa, no quarto, pois então está seguro. Será mesmo?

Os esperados anos 2000 chegaram, e tudo mudou. O mundo virou de ponta cabeça, surgiram as pessoas que não têm medo de nada, xingam, humilham, enganam, trapaceiam, iludem crianças com armadilhas, um verdadeiro show de horrores. O que era para ser um espaço importante para a evolução do mundo, transformou-se em desespero. Nossas crianças estão sendo mortas por pessoas que usam a internet para o mal. Desafios que matam, coação.

O que de pior ainda tem para acontecer? Chegar a esse ponto de matar crianças que jamais, no mundo do século passado, se tornavam alvo; a não ser pelo pior da história em que crianças foram alvo, mas isso não poderia se repetir. Criança tem que ter o direito de viver sua infância. É preciso que se defenda, que seja garantido que crianças vivam como crianças.

Nunca acreditei que o mundo fosse acabar, mas hoje entendo que o ser humano é que está acabando com o mundo, acabando com a graça da vida, a liberdade, a alegria. Vivemos cada um por si, não sabemos se ao sair voltamos, sem garantia de nada, nem mesmo com nossas crianças, que estão cada vez mais expostas e jogadas ao fogo do mundo. Bem-vindos ao globo da morte, o mundo.