De repente 60. E agora?

De repente 60. Seis décadas já se passaram, seis fases da vida foram cumpridas com sucesso – sucesso aqui é vida, não importa o porém, você sobreviveu. Quantas coisas passaram pela sua vida, quantas pessoas conheceu, umas ficaram, outras foram de passagem, outras se foram para nunca mais.

Nossas lembranças não esquecem jamais, é bom lembrar das coisas boas, não viver do passado, mas olhar para trás e ver quanta coisa já fez e aprendeu, e ainda não sabe tudo, e nem saberá. Quantas alegrias e tristezas, desafios, acertos e, principalmente, se orgulhar de quem você é. Isso é o principal de tudo na vida, olhar o seu caminho e saber que, apesar dos erros, tudo faz parte para chegar ao acerto, foram vencidas todas as etapas, e você está aqui para contar.

Esta semana completei minhas seis décadas, está só começando, mas estou feliz em chegar nessa fase, e lembrar de tudo o que aconteceu nesses sessenta anos de muita história para contar, das quais me orgulho muito. No entanto, quis colocar minha reflexão no papel, e assim colocar para refletir quem também já chegou, está chegando e ainda vai chegar.

Talvez tenha quem se assuste com a idade, mas é apenas um número, não é uma sentença, e quem faz esse número ser um peso é você. Quem disse que é tarde para se realizar um sonho, que agora é contagem regressiva, que você está velho, não sabe o que é viver intensamente.

Sonhos, quando a gente deixa de ter, é porque você está no seu fim; contagem regressiva a gente faz desde que nasceu – ninguém sabe o dia de amanhã, lembra da crônica do dia 11 de julho? Velho, só se quiser, só se sua cabeça envelhecer, se o tempo te fizer achar que não serve mais. Enquanto há vida soprando, cabeça boa e alegria de viver, haverá vida.

 Nesta fase já não temos mais o tal colágeno e nem o corpo de antes, mas carregamos experiências que naqueles anos nem sabíamos o que viria pela frente. Hoje, embora o viço da juventude já tenha ido, continuamos jovens pelo viço da sabedoria, da sensatez de saber quando falar e quando se calar, dar valor ao que realmente merece ter valor, fazer apenas o que quer, e se quiser. Ter consciência de quem você é, e não se importar com o que os outros vão falar. Enquanto falam sua vida continua indo muito bem, e assim não perde tempo em se preocupar com coisas pequenas.

Um dia fomos criança, jovens, adultos e agora, da melhor idade. Quanta coisa passou, quanto aprendemos, saímos de situações difíceis, mas agora vamos descobrir o que a melhor idade tem a nos ensinar. Deve ser melhor, porque já passamos no vestibular da vida, e agora, com calma, vamos entendendo tudo o que passou sem pressa. Vivendo, trabalhando, curtindo a vida e a família e sendo chatos, não dizem que idoso é chato?  Só fica chato quem chega até aqui, então bora viver mais algumas décadas? Mais sessenta vai ser difícil, mas ainda tem um tempo.

De onde vem tanta fúria?

Quando estávamos passando pela pandemia, acreditávamos que as pessoas sairiam daquela situação muito melhores, mais humanas. Mas o que parece hoje é que está totalmente ao contrário, o humano ou enlouqueceu ou colocou seu lado animal para fora.

De onde estão surgindo tantas pessoas furiosas? Qual o verdadeiro motivo para tanta raiva e falta de controle? Está perigoso até pedir licença, alguém pode se invocar com você. ‘Por que quer passar exatamente agora que eu estou aqui’? Esse simples gesto pode se tornar uma agressão.

São tantas as bizarrices que vemos todos os dias que não sei quando foi que tudo isso começou. O mundo em que vivemos hoje está muito acelerado, e, com muita cobrança de todos os tipos, ninguém mais vive o presente; a vida passou a ser o futuro desesperador por estar dentro dele. Ninguém mais sabe resolver uma situação conversando, tendo a paciência tão necessária para nosso autocontrole. Isso não justifica. Desde quando se compensa a raiva matando, agredindo, humilhando alguém?

 Apesar de todos os problemas atuais (muitos dos quais nem são um problema de fato), devem invadir a vida do outro? Precisamos urgentemente de uma saúde pública mental realmente atuante e de qualidade, para que possamos ter uma sociedade mais equilibrada e que enxerguem os fatos como fatos, e não como provocação. O que será do futuro se isso não tiver um olhar para uma solução urgente? Vamos matar uns aos outros como os animais famintos brigando pela sua presa?

 Como podemos acreditar nas próximas gerações se estão sendo criadas por adultos descontrolados? Não adianta, os exemplos vêm de casa, não podemos esperar pessoas equilibradas que estão sendo criadas por desequilibrados.

Para isso é importante que haja, de uma vez por todas, leis mais severas para punir quem comete atos perigosos de fúria. Não podemos viver numa sociedade onde cada um faz o que quer sem que haja punição.

Precisamos retroceder para reencontrarmos as regras de educação que existiam antes de tudo isso, não é pedir demais educação das pessoas, uma conduta civilizada, não vivemos na selva, vivemos em cidades de concreto onde habitam seres humanos, pelo menos é o que existia antes.

Não adianta querer civilizar as crianças dentro de escolas com regime militar se os pais não são civilizados, a menos que os filhos passem a criar os pais, talvez seja isso que venha a acontecer.

Nosso mundo mudou, apesar de todas as inovações, mudou para pior. O que veio para ajudar e melhorar na comunicação, conseguiram tornar uma arma do mal, enganando, roubando e invadindo a privacidade de vidas. As facilidades fizeram tudo se tornar possível, inclusive o controle de uns sobre os outros, pior de tudo, na palma da mão. E hoje é o que vemos, pessoas achando que podem tudo, inclusive agredir.

As palavras ferem, podem inclusive adoecer uma pessoa, sair falando o que pensa não é uma boa ideia, tudo tem limite, inclusive a falta de educação, ninguém é melhor do que ninguém, ninguém é dono de nada, se soubermos respeitar os outros já estaremos ganhando, e sem precisar ofender ou gritar, ou, até mesmo, matar.

Esperamos um mundo melhor, esperamos que a próxima geração traga um pouco mais de conduta nas relações sociais, mais empatia e respeito. O mundo é para todos, mas não precisa dessas pessoas para continuar, precisamos de mais amor. Na próxima vez que achar que pode ofender o outro só porque você não gosta, se coloque no lugar, e sinta se gostaria que fizessem o mesmo com você. Acho que não, o covarde ofende porque não sabe se defender, minimizar o outro é o que o faz se sentir feliz.

O que será do amanhã?  

Quantas vezes você deixou para fazer alguma coisa amanhã? Muitas, sem dúvida. E quantas vezes parou para pensar que o amanhã pode não chegar? Bem provável que nenhuma.

Vivemos tão certos de que estaremos aqui para sempre que não nos damos conta de que estamos apenas numa viagem, que um dia chegará ao fim, e pode ser amanhã, que você deixou para ir a algum lugar, visitar alguém que você ama e dizer eu te amo.

Não defendo que devemos viver extremamente preocupados com isso, senão seria horrível viver esperando o dia chegar, mas devemos dar mais atenção às pequenas coisas, que não são tão pequenas assim. Dar atenção a alguém, ou fazer aquilo que está esperando por tanto tempo, pode ser mais importante do que adiar um dia. E quantas coisas fazemos em um dia! Embora não pareça, nenhum dia acaba sem termos feito nada.

A rotina e as inúmeras questões que acontecem todos os dias nos levam a uma vida pesada e maçante. No trabalho quase não se vê mais uma pessoa procurar outro emprego, porque quer apenas mudar para um salário melhor ou um lugar diferente. Não raro, saem doentes da mente por excessiva exaustão, pelos inúmeros assédios sofridos, que acabam com as relações, não só no trabalho, mas também na família. É tanta a exaustão que não encontramos tempo e nem vontade de estarmos com as pessoas que realmente valem a pena em nossa vida. E desta forma deixamos para amanhã.

Também existe a incessante busca pelo material, pela beleza, para agradar e estar inserido nesta loucura que se tornou a vida. Acaba em frustração, em desânimo, doença. E essas buscas também são responsáveis por nos afastar do que realmente importa. Sorrir, sentir-se feliz em estar com quem se gosta, se sentar no chão sem se preocupar com o que vão falar, brincar com seu filho, dançar, cantar, pé na areia, contemplar o sol.

O amanhã pode não chegar ou não te dar a chance de fazer o que deixou para trás, e amanhã poderá estar doente, cansado, desanimado ou sem tempo. Amanhã pode chover, o mundo pode acabar, você pode morrer, pode não acordar. Faça da sua vida o melhor que puder, mas jamais esqueça o que realmente te faz feliz. Cada dia que passa é um dia a menos, então aproveite sua vida da melhor maneira, não se preocupe com coisas, se preocupe com as pessoas que valem a pena. Não deixe para amanhã, o momento é agora.

Os fins que enfrentamos

Tudo um dia chega ao fim, independentemente da sua vontade. A vida, uma relação, o trabalho, uma amizade. São muitos os fins com os quais dificilmente sabemos lidar, mas que, com o famoso tempo, tudo passa e descobrimos que podemos continuar sem, por mais estranho e doloroso que possa ser no início, quando sofremos e negamos, mas passa.

Por que falar no fim se a vida é linda? Por que a vida já começa sabendo que tem um fim, então como podemos carregar a ilusão de que nada acaba? Caso a dor e as situações que precisamos resolver não acabassem, jamais conheceríamos a felicidade.

A criança, quando nasce, está com o seu livro totalmente em branco, tem tudo para aprender, mas assim que começa a entender também já começa a sua vivência, e assim se apresenta o sim e o não, causando sentimentos, reações que serão trabalhados ao longo da vida, e nunca acabam.

Tudo o que aprendemos na infância terá impacto determinante na vida adulta, e se não formos bem-preparados, não aceitaremos a dura realidade que a vida nos mostra diariamente, e nisso faz parte o fim, o qual muitos não aceitam e acabam cometendo insanidades em nome da recusa.

Certo dia, fiz um comentário numa conversa informal sobre mostrar aos filhos que a vida não é cor de rosa, para que mais tarde não tenham a dura realidade jogada na cara, e não encontrem o aconchego de pai e mãe, mesmo porque a vida lá fora é uma luta diária. Fui repelida com a resposta: ‘Sempre vou dar tudo o que as minhas filhas quiserem.’ Ok, hoje são adultas e ele já não é mais um menino, será que escolheu o melhor caminho? Não sei, mas o mundo que estamos vivendo hoje não é nada cor de rosa, imagina para quem recebeu tudo de mão beijada ter que enfrentar esse ringue sem um protetor?

Eu ainda prefiro à moda antiga, quando os pais nos mostravam a vida como ela é, feliz mesmo não tendo tudo o que quer, aconchego pelo calor do abraço dos pais, não pelo jogo do momento ou do que tudo mundo tem (é momentâneo), e saber que nada dura para sempre, nem nossos pais, nem os presentes, nem nós. Crescemos, sonhamos, realizamos alguns sonhos e outros não, conhecemos a tristeza e a felicidade, o amor e o ódio, a escassez e a bonança. Sobrevivemos e, apesar de tudo, ainda somos felizes.

E quem nunca conheceu o fim chegará um dia em que terá que conhecer, e vai descobrir que o mundo não é tudo, é mais nada do que tudo, porque o tudo foram seus pais que te deram, mas lá fora tem quem insiste em tirar o seu tudo. Não tem cafuné, tem mensagem fria te colocando ao par do fim. E serão muitos os fins.