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Para onde o abuso está nos levando?

Último episódio da série ‘Abuso’

Vimos durante estas quatro semanas os três abusos mais relevantes e preocupantes atualmente, mas é claro que existem muitos outros no dia a dia, como preconceito de racismo, gênero, corporal, religioso, social, etarismo e deficientes. Todos são caracterizados como crime.

Através das redes sociais é onde se encontra o maior número de pessoas usando o abuso indiscriminadamente, entrando em páginas para humilhar, debochar, até ridicularizar alguém por qualquer motivo, somente pelo prazer de fazer. Pessoas públicas, principalmente, são os maiores alvos, justamente pela condição da exposição, e isso afeta diretamente a autoestima e a saúde mental.

Quem é a pessoa que está por trás daquele comentário, e por que usa esse atributo para prejudicar alguém? Temos algumas alternativas para isso. Hoje temos uma sociedade com muito ódio de tudo, se vir algo que não concorda, necessita falar, ir contra o outro virou um fenômeno natural, é como se aquilo atingisse diretamente quem está vendo, uma forma de sentir-se superior em falar o que pensa daquilo. Ou a inveja, por não ser igual, ataca para diminuir o outro, ou ainda, somente para fazer parte de um grupo insignificante que somente segue a boiada que não pensa, só fala.

O caráter tornou-se obsoleto num mundo obcecado por poder, por violência, por ser melhor. Personalidade nasce com ela, mas caráter é formado conforme o ambiente em que vive, vendo, como é tratado, as indiferenças e o exemplo. Dificilmente verá o filho de alguém descontrolado e agressivo, sendo uma pessoa passiva e coerente, não foi isso o que aprendeu. Já a personalidade é inata, a pessoa é perversa, gentil, psicopata ou narcisista desde criança, e dá sinais, mas dificilmente os pais entendem ou admitem que aquela criança é diferente, tem atitudes inadequadas e cresce sem a atenção necessária. Não é uma doença, é uma condição da personalidade, difícil de aceitar, mas necessário compreender que existe.

E isso não se restringe somente atrás de um teclado, a vida social está perigosa, amigos, família, colegas de trabalho ou escola, relação amorosa. Na rua, na fila de um supermercado, médicos, enfermeiros maltratados por pessoas descontroladas querendo ter privilégios, ter razão. Matam no trânsito, no bar, na balada, na academia. Os abusos se estendem a todo lugar.

O racismo, o gênero, a condição social, religião, corpo e etarismo, e a deficiência ainda continuam sendo um crime bárbaro, uma pessoa não aceitar o outro somente por uma condição diferente da sua é um abuso sem explicação. O que incomoda tanto? As crianças precisam aprender que existe diferença entre as pessoas, que a vida não se resume no seu clã familiar, o mundo é feito de diferenças, as culturas são diferentes entre os países e os Estados que compõem um país, por isso devemos ter respeito à condição de cada um.

O que importa mesmo é o Ser que a pessoa é, não sua condição. Do que adianta o dinheiro se não há educação ou respeito? Do que adianta a cor ou o gênero se não houver gentileza, cultura e tudo o que faz uma civilização? Do que adianta ser religioso, ter um corpo nos padrões impostos, ou ser jovem se não tiver empatia com as pessoas? Do que adianta?

Há uma necessidade mundial em mudanças no ser humano, o excesso de informação e acesso fácil e rápido a tudo, está adoecendo mentalmente, e matando lentamente a população mais jovem. O número de idosos só cresce, enquanto o de jovens desaparece. Será que não tem explicação? Claro que tem. Vivem como se não houvesse tempo para viver, como se o que eles sabem com seus vinte e poucos anos é muito maior e melhor do que quem está vivo com seus 80+; mesmo que toda essa carga de experiência vivida não represente nada para quem está somente começando na vida adulta. Uma geração que aprendeu a ganhar, nunca perder. Ser o melhor, passar por cima de tudo para conquistar, se impor para provar quem é, ou simplesmente desfazer e debochar de quem sabe muito mais.

Enquanto continuarem ensinado a inversão de valores, não teremos uma sociedade madura e capaz de mudar essa soberania urbana que só adoece e não conquista nada. Corre atrás de tudo, ansiedade, depressão, estresse, andam em círculos e não encontram a saída. É tudo muito simples, aprender que nada vem fácil, é preciso de paciência, perseverança e muito trabalho para se conquistar o que quer. A vida não é feita de coisas, é de pessoas, por isso precisamos respeitar uns aos outros, ninguém faz nada sozinho. O amor é que move tudo, inclusive suas conquistas materiais. O ódio, bom esse veio para matar, para destruir e adoecer quem ainda insiste em achar que cada um tem o seu mundo ao seu modo. Não, o mundo é para todos, mas só alguns sabem viver, outros somente existem.

Por Maristela Prado

O abuso no ambiente de trabalho

Dando continuidade à série “Abuso”, hoje falo sobre abuso nas empresas. Sim, está em todos os lugares. Nas empresas, principalmente, ocorrem o abuso moral e psicológico, e, com menor frequência, o sexual, com as mulheres, por puro machismo. Pessoas que estão no poder sentem-se à vontade para expor ou coagir trabalhadores. Sem saída e sem ter para quem reclamar, acabam sofrendo por meses, ou anos, pela necessidade do emprego. Uma verdadeira falta de empatia com o ser humano.

Não é raro saber de chefes que usam e abusam da capacidade de um funcionário, mas não o colocam na posição merecida, ao contrário, humilha, desfaz, deixa de lado, às vezes assume o trabalho como se fosse seu, sem dar créditos ao verdadeiro autor. Valorizam o puxa-saco, inventam cargos, mas não dão o reconhecimento verdadeiro a quem trabalha. Isso é mais comum do que se imagina, é só olhar para o número de trabalhadores com depressão, pânico e Burnout que se tem hoje nas empresas. Pessoas exploradas e jogadas fora para dar lugar a quem não sabe nada. Isso quando não são excluídos de grupinhos que fazem ‘qualquer coisa’ para se darem bem.

Existe ainda aquele chefe que faz questão de humilhar na frente dos outros, como se isso fosse uma atitude digna e de respeito. Berros, xingamentos, exposição, isso não é autoridade, é falta de educação mesmo, muitas vezes nem o próprio chefe é bom o suficiente tanto quanto aquele que humilha; aliás, é normalmente a causa da humilhação. A frustração de não ser bom, mas tem o título, e pior, sem capacidades psíquicas para gerir uma equipe.

Muitos são os casos de pessoas que perdem o emprego com a família para sustentar somente por um ‘surto’, assim que se chama hoje a falta de educação, de um chefe que prioriza seu cargo, seu salário, acabando com a saúde mental das pessoas.

O ambiente de trabalho deve ser prazeroso. Problemas e erros acontecem o tempo todo, afinal somos humanos; quando a Inteligência artificial tomar conta, daí xinguem as máquinas, mas, por enquanto, precisamos ter a nossa saúde mental em condições para poder fazer um trabalho bem-feito. Trabalhar não é ser perfeito, é ter competência, responsabilidade e, principalmente, qualidade de vida dentro do seu ambiente. Qual a razão de adoecer as pessoas? Tirar delas a sua paz, o seu sustento, o que se ganha com isso?

Já existem algumas empresas dando importância à saúde mental de seus funcionários, disponibilizando um período de descanso depois do almoço, para relaxamento. É preferível um funcionário saudável a um doente e ausente, e isso alguns já estão enxergando, mas ainda falta muito para entenderem, afinal, que uns precisam dos outros, ou um empresário faria tudo sozinho? Trate bem quem trabalha para você ganhar cada vez mais.

O assédio sexual já é um jeito escroto antigo de ser com a mulher, mas alguns (ou muitos) ainda acham que o corpo de uma mulher é um parque de diversões. Assediar com gestos ou palavras é crime do mesmo jeito. Ou é bonita, ou tem corpo bonito, ou chamativa. São muitos os atributos para justificar o abuso, a culpa é sempre da mulher. Claro, você tem culpa do outro não te respeitar apenas porque é bonita, ou seja, lá o que for; ser mulher, acho que já é o suficiente. Infelizmente isso acontece, homens escrotos que compram as mulheres com elogios, presentes, cargos, sem dar o menor valor para a capacidade que temos, e ainda falo mais, superamos a capacidade quando se trata de trabalho e responsabilidade, mas não é assim que nos veem. Ainda lutamos para sermos respeitadas e valorizadas. Destacar-se diante de um homem e de um cargo é um perigo, mulher não pode ser melhor, não pode comandar, sempre darão um jeito de minimizar, até mesmo armar algo para não dar certo. É homem, e somos apenas uma mulher. Sinto muito, mas não foi somente a tecnologia que evoluiu, hoje uma mulher anda no mesmo patamar que um homem, pois sabe que tem inteligência e sabedoria para ser o que quiser. Somos mulheres.

Ser mulher no mundo de hoje não é uma tarefa fácil, não existe lugar seguro, muito menos respeito, somos exploradas e temos problemas que homem nenhum jamais vai saber o que é, justamente por não ser mulher. Além dos afazeres no trabalho, a grande maioria faz jornada dupla, tem filho, casa, TPM, cólicas, menopausa, um misto de hormônios e responsabilidades. Homens jamais saberiam lidar com tanta coisa ao mesmo tempo, e ainda chamam de mi, mi, mi, antes fosse. Aturar tudo isso é para o “sexo frágil”, o sexo forte gosta de dar soco, agredir, machucar, estuprar, matar, mas não sabe o que a mulher sente na gravidez, o que é dor no parto, amamentar, cólicas, confusões hormonais, trabalho e ainda ser minimizada.

A vida virou uma série de abusos de todas as formas e lugares, pisamos em ovos para falar, para reagir. Enquanto você lê esse artigo, quantas pessoas estão sendo abusadas neste momento? No trabalho, na escola, em casa, na rua. Até quando teremos que aguentar tantas injustiças, tanta falsidade e mentiras?

Ninguém precisa aturar um abuso no trabalho, se você se sente abusado, excluído, ou desvalorizado, não se esqueça que hoje uma mensagem é prova, um e-mail é documento, existem leis de proteção ao trabalhador. Antes que adoeça, aja. Chefes descontrolados devem ser afastados, se adoecem as pessoas, eles é que precisam de tratamento, e não você adoecer por isso. Procure seus direitos, você vale muito mais do que ser comandado por um abusador.

Vou deixar o link de um conto que escrevi para uma antologia que trata exatamente sobre esse assunto, “Um mundo melhor” (2023). O meu conto está na página 19, “O assédio de Arlindo”, leia e reflita.

https://acrobat.adobe.com/id/urn:aaid:sc:VA6C2:0095a0b4-108b-44a7-b5a6-474b1d4d43de?viewer%21megaVerb=group-discover

Por Maristela Prado

A adultização precoce e o perigo desta irresponsabilidade.

Há muito tempo vem se falando sobre adultização de crianças, eu mesma escrevi uma crônica falando sobre o assunto. Crianças sendo expostas na internet desde muito pequenas, pela inteligência, esperteza, pelo jeitinho de falar. Enfim, formas que os pais encontraram para viralizar através de seus filhos, como se o mundo hoje fosse contado por curtidas ou visualizações, uma necessidade imensa de aparecer.

Muitos conseguiram, e até começaram a fazer merchandising através desta exposição, aparecer cada vez mais, e o dia a dia dessas crianças foi mostrado normalmente, sem que pensassem no que poderiam estar fazendo com seus próprios filhos. Hoje alguns são famosos, mas a infância foi, infelizmente, perdida, porque até brincar é mostrado pela câmera. Como serão essas crianças daqui a alguns anos?

Fora essa exposição proposital, tem também aquela por excesso de amor e querer mostrar o crescimento, os momentos de felicidade, passeios. Só não esperávamos que houvesse tantas pessoas arquitetando contra os pequenos, roubando fotos, vídeos de família para exibir essas crianças como se estivessem à venda, e realmente tem quem compre essas imagens para vender a pedófilos.

Não é de hoje que se fala de não postar fotos de criança, principalmente com uniforme de escola, em frente de casa, carro, lugares em que você esteja em tempo real, mas nada disso importa, todos querem mostrar onde e o que estão fazendo, e tudo isso só facilitou o crime e os golpes, que não param; cada ora é um novo que aparece. As crianças e adolescentes correm perigo somente por postarem fotos, por serem atraídos por joguinhos, com jeito de criança, para chegar mais perto, com plataformas escondidas de acesso que parece inocente, mas não é.

Agora que foi revelado pelo influenciador Felca, fotos de crianças vazadas, vendidas, exploradas por pedófilos e muitas pessoas interessadas em viralizar às custas da infância, e até alguns pais que recebiam uma mesada em troca da adultização de seus filhos, acendeu um alerta para o que está de fato acontecendo com essa fase da vida que é tão curta, especial, complicada, e que muitos não estão se dando conta de que estão acabando com o mundo infantil, colocando-os no mundo adulto erotizado, pernicioso e perigoso.

O que será dessa geração daqui a alguns anos, qual tipo de adulto se tornarão, o que poderão contribuir para um mundo melhor, se eles estão sendo jogados num mundo sujo? Será que precisaremos reeducar os adultos para podermos criar crianças mais conscientes da vida, que possam brincar, entender a vida através da brincadeira como era antes? Pular corda, amarelinha, brinquedos e não telas, dar risada, ter amigos. Quando foi que isso acabou? Por que tanta pressa de os filhos crescerem se a infância é a melhor fase da vida?

A partir disso conseguimos enxergar os porquês que hoje não conseguimos entender. Tanta violência, abuso contra a mulher, abuso no trabalho, na escola, na vida. O que essas crianças estão aprendendo é que estão levando a todo esse caos que estamos vivendo. Filhos que não podem deixar de ter tudo o que desejam, crescem ansiosos, imediatistas, não aceitam o não! A birra incessante até que consigam o que querem. A falta de presença dos pais transformada em material, luxo, a ter.

A falta de paciência dos adultos, os berros, a violência dos pais contra as mulheres; não raro com seus próprios filhos. Priorizar a vida do casal e deixar os filhos de lado. Não participar da vida escolar, saber dos amigos, com quem anda, onde está, ou melhor, com quem está falando, se realmente aquilo é um jogo. Chegamos a um terço do século com toda a população, não se exclui nem a infância, envolvida em um verdadeiro caos humano. Como podemos exigir respeito, se os adultos não respeitam nada nem ninguém, são os tais exemplos que tanto se fala e não se faz. Se um pai ou uma mãe vai até a escola defender um malfeito do seu filho agredindo, mesmo que verbalmente, um professor, qual exemplo ele dará para seu filho? Que tudo se consegue na violência? A criança aprende e cresce violenta. É responsabilidade dos pais, sim, pois são eles que devem proteger e zelar pela vida de um menor. Se isso não acontece, em quem confiar? Expor seus filhos na rede, de forma irresponsável, é entregar de bandeja à prostituição, à pedofilia.

Quantos homens e mulheres estão despejando suas frustrações nas crianças, na escola, aonde for, sem sequer refletir sobre suas atitudes, só querendo ter razão. Quantas crianças estão carregando problemas psicológicos por não saberem se defender, tendo problemas de aprendizagem, relacionamentos com colegas, professores. Estão sofrendo e precisando de ajuda, mas não são escutados (escutar é diferente de ouvir), tornam-se agressivos e isso vira uma bola de neve. A escola chama atenção, chama os pais, e não querem resolver, defendem e o problema continua.

Por isso a importância da educação socioemocional, mas também é necessária a educação familiar, podemos ajudar as crianças e adolescentes, mas e os pais querem aprender? O dinheiro tomou conta da cabeça das pessoas, tudo gira em torno do dinheiro, e tudo acaba em doença mental, e é a última que se pensa em tratar. Sem saúde mental não há solução para tanto problema. Sem regras rígidas não tem solução, sem responsabilização não tem o que ser feito.

Para acabar com a violência precisa de uma educação eficaz em casa, parceria com a escola, respeito e responsabilidade dos responsáveis. Só assim teremos um mundo e uma sociedade preparada para colocar filhos no mundo que possam fazer a diferença, e não para continuar com a violência. Cuidem dos seus filhos, protejam, conversem, mostrem os caminhos perigosos que podem encontrar na internet. Ser responsável é a melhor forma de começar a pensar em ter filhos. Eles nãos nascem sem caráter, eles aprendem dentro de casa.

“Se você perceber algo de estranho com alguma criança ou adolescente, que esteja correndo perigo, não hesite em denunciar. Disque 100 Direitos humanos em completo sigilo, ou ao Conselho Tutelar da sua cidade, ou região”.

Por Maristela Prado

Abuso contra a mulher é crime.

Outro dia li uma frase que dizia: “Até o rio tem limite”. Os animais, embora sejam irracionais, agem por instinto, têm inteligência e sabem quando estão errados, se chateiam com as broncas, mas não sentem raiva do dono por isso, continuam amando e esquecem em seguida o que aconteceu, e aprendem o seu limite. Por que então o ser humano, criado com inteligência e racional, não aprende seu limite? A sua superioridade o faz considerar esperto demais, ou tão covarde que foge dos seus próprios erros como um animal irracional fugindo de uma predação. 

É para se pensar nessa racionalidade que se acredita ter, parece mais uma criança desobediente do que um adulto. Não tem limites, mas exige limite do outro, não controla sua própria vida, mas quer controlar a do outro, não dá conta da responsabilidade adulta e quer que o outro seja totalmente responsável por sua vida, erra o tempo todo, mas a culpa é sempre do outro. Esse é o narcisista, que acha que tem tudo na mão, mas, na verdade, não tem nada, vive de jogo, afeta o mental do parceiro(a) para sair bem das burrices que comete. Enquanto a vítima acha que está com problema, ou que está errada, é o abuso psicológico começando a dar os primeiros sinais, mas que normalmente a pessoa não percebe. Esse é o perigo.

Dificilmente nessa fase se percebe a dimensão do abuso que está sofrendo, a sua psiquê é tão afetada que a dúvida começa na sua cabeça, o outro está sempre com a razão. Te repreende por tudo, chantageia, faz pouco caso na frente dos outros, arruma uma atitude banal sua para mostrar que tem razão, é uma pessoa adorável socialmente, mas detestável como parceiro. E quem vai acreditar? Quando esse abuso passar a ser visto, a deixar marcas. Caí da escada, bateu a cabeça no armário, não sabe que mancha roxa é aquela, e por aí vai.

Nem sempre se há tempo para consertar o erro, antes achava que era amor, de repente está afastada da família, sua aparência, seu sorriso já não são mais iguais, e os problemas começam a surgir. O medo toma conta e, quando percebe, está somente obedecendo quem te usa, fazendo seu joguinho psicológico, mas quem está dentro não enxerga. Nem tudo é perfeito, nem tudo dá certo, um dia a casa cai.

Por que é tão difícil uma mulher entender que está vivendo uma relação abusiva? O autor escolhe sua vítima porque viu alguma fragilidade emocional em você, como medo de ficar sozinha, romântica demais, cede demais. Nenhuma relação tem só um lado, quando há amor de verdade os dois cedem, os dois relevam, senão não há relação que sustente.

Tudo tem limite, se o seu relacionamento chegou nisso ou está começando assim, preste atenção, a paixão um dia acaba, mas o abuso não. Eles dão sinais, não se iluda com alguém muito especial, logo a máscara cai, e o que era especial vira um filme de horror. Não acredite em mudanças, em lágrimas de crocodilo, é cena para mexer com seus sentimentos, não vai mudar, depois de um tempo só piora. Não existe conto de fadas, existe a dura realidade do machismo disfarçado de delicadeza.

As fases para se chegar no feminicídio são muitas, mas visíveis. Ninguém começa uma relação agredindo fisicamente, primeiro é o psicológico, moral, sexual, parental, patrimonial até chegar ao feminicídio. Procure ajude se precisar, existem casas de acolhimento às mulheres vítimas de agressão. Não se cale, sua vida vale mais.

Abaixo deixo alguns telefones de emergência. Abuso é crime.

Número 180 – Central exclusiva que presta atendimento à mulher. A vítima registra a denúncia, recebe orientações e informações sobre leis e campanhas. A ligação é gratuita, funciona 24 horas todos os dias da semana.

Número 181 – É o número de apoio para denunciar de forma anônima o abuso sexual.

Número 190 – É p número da Polícia Militar, que pode ser conectado nos casos de flagrante ou quando o abuso sexual está ocorrendo naquele momento.

 Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. Funciona por meio do serviço disque 100 

             Gratuitos e sigilosos, não precisa se identificar.

Também pode registrar a ocorrência nas DEAM (Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher). Funciona 24 horas.

• Casas-Abrigo: oferecem local protegido e atendimento integral (psicossocial e jurídico) a mulheres em situação de violência doméstica (acompanhadas ou não de filhos) sob risco de morte. Elas podem permanecer nos abrigos de 90 a 180 dias.

• Casa da Mulher Brasileira: integra, no mesmo espaço, serviços especializados para os mais diversos tipos de violência contra as mulheres: acolhimento e triagem; apoio psicossocial; delegacia; juizado; Ministério Público, Defensoria Pública; promoção de autonomia econômica; cuidado das crianças – brinquedoteca; alojamento de passagem e central de transportes.

• Centros de Referência de Atendimento à Mulher: fazem acolhimento, acompanhamento psicológico e social e prestam orientação jurídica às mulheres em situação de violência.

• Órgãos da Defensoria Pública: prestam assistência jurídica integral e gratuita à população desprovida de recursos para pagar honorários de advogado e os custos de uma solicitação ou defesa em processo judicial, extrajudicial, ou de um aconselhamento jurídico.

Procure na sua cidade ou região.

Por Maristela Prado

Quando a liberdade dependia do silêncio

Nasci em julho de 1964, apenas quatro meses depois do golpe militar que implantou a ditadura no Brasil. Época marcada por conflitos, torturas, perseguições e medo. Ninguém tinha voz, e quem dava a voz era perseguido, e mesmo aqueles que nada tinham a ver com a situação, poderiam ter a infelicidade de estar passando no local errado, na hora errada, e muitas vezes eram pegos, torturados e desapareciam. Hoje vivemos um medo parecido, só que de balas perdidas e de uma criminalidade desenfreada, que tem tomado conta das cidades, mas também de pessoas desequilibradas e fanáticas que, às claras, defendem a volta do período em que a nossa liberdade dependia do nosso silêncio.

Nenhuma nação sobrevive à violência física ou moral, nem mesmo uma criança aprende apanhando; aprende que bater é normal, e quando se sentir ofendido deve bater. Então, o que a repressão e a tortura podem ensinar? Nada. Ter medo não é ter respeito, surge a raiva, o ódio. O ser humano não nasceu para se calar diante do que não aceita, somos livres para gostar ou não, aceitar ou não os desejos de quem acredita que manda, que o poder lhe torna superior, sublime. É apenas outro ser humano como outro qualquer, ser rico ou pobre, branco ou preto, homem ou mulher, ser desta ou daquela religião, ter ou não ter, não diferencia um ser humano do outro.

O que está faltando no Brasil e no mundo é amor, dignidade e respeito. Existem pessoas em situação de miséria total, e outras querendo cada vez mais, e sequer pensam no outro. E, mais do que isso, ainda discriminam o pobre que, muitas vezes, é sua própria origem. Todas as maldades que vemos hoje são por poder, por domínio. Precisamos do equilíbrio, nem muito, nem pouco. Mas isso não vai acontecer, sabemos.

Podemos, e devemos, salvar as crianças que estão nascendo, e as que já estão em fase escolar, ensinando valores da vida, não das coisas. Criando filhos que aprendam que viver não é uma questão financeira e nem de poder, é uma postura de dignidade e de respeito. Na nossa bandeira, de todos os brasileiros, está escrito “Ordem e Progresso”, não existe nem um, nem outro. Ordem não é silenciar o povo, é dar exemplos de cidadania, e progresso é trabalho, educação, condições dignas de viver em um país desenvolvido, que há tanto tempo ouço sobre isso, mas como desenvolver um país onde o poder só serve para eles próprios e não para o povo?

Lembra da palavra ‘harmonia’? Faz tempo que não se fala dela, escutar o outro, não só falar e se colocar no topo da conversa, ou ainda fazer prevalecer a sua opinião. Você tem sua razão, eu tenho a minha. Ter argumentos quando for julgado, não precisa humilhar, mexer na ferida, isso é covardia e frustração, é feio. Ajudar a quem precisa não é só financeiramente, mas também emocionalmente, entender os sentimentos, seus e dos outros, a tal da empatia, lembra?

Pedir licença, dizer obrigada(o), desculpa, não é moda, é educação, e isso vem de casa, escola nenhuma tem obrigação de dar educação, as escolas ensinam conhecimentos, cultura; embora haja quem não aceite, ética e convivência, mas já é urgente que se introduza a educação emocional que está perdida nas telas onde é terra sem lei, nas imagens de violência dos jogos que as crianças começam a ter acesso desde de muito pequenas, tudo isso é exemplo de vida, tudo pode. Os adolescentes precisam de mais atenção, estão se preparando para a vida adulta, e não podem seguir com esses princípios. É agora, não é para pensar, não dá mais tempo, os problemas emocionais estão crescendo a cada dia, nunca se teve tanta depressão, ansiedade e tantos outros problemas mentais. Uma Nação para prosseguir não precisa de bomba, de alguém reprimindo e calando o povo, precisa de paz e de humanidade.

 Corremos o risco de uma evasão de professores por excesso de problemas mentais, exaustão mental por crianças e adolescentes malcriados que desaprenderam a hierarquia. Sim, ainda existe, o professor está ali para ensinar, se você já soubesse não precisaria estudar, mas não é isso que aprendem.

Por que falei tudo isso se comecei falando do golpe militar de 64, ano em que nasci? Porque nada se aprendeu com a repressão, pois apenas o medo era o principal ‘motor’ daquela baderna. Aconteceram tragédias com pessoas que apenas queriam a liberdade de volta, acabou com famílias. Então vamos lutar pela educação de verdade, por meio da qual se aprende sobre emoções, dores e sofrimentos causados pelo sarcasmo, pelo prazer de destruir o outro, como se aquele que faz isso não tivesse uma ferida que não quer ser mexida.

Sou filha dessa ditadura, mas vivi e sobrevivi com minha família, numa vida simples, naquela época não precisávamos provar nada a ninguém, marca era apenas uma marca. Nunca faltou nada na minha casa, nem amor. Tenho o prazer de ter educação e respeito, aprendi em casa. Aprendi também a ter cultura em meio a muitos livros, jornais e revistas e muita música. Pais dignos, trabalhadores e cultos, que nos ensinaram a ter respeito e comportamento, e nunca foram chamados na escola para resolver uma agressão, uma palavra mal falada. Na escola aprendi a ter conhecimento, e respeitar a quem me ensinava.

As crianças nada têm a ver com tudo isso, são vítimas de maus exemplos, de ambientes conturbados, da tecnologia que lhes levam a qualquer lugar, a ter informações que não deveriam saber agora, a ter acesso a tudo sem limite. Se cada um começar uma pequena mudança, daqui a alguns anos teremos um mundo melhor para as próximas gerações. Plante agora, você não vai se arrepender.

Por Maristela Prado

A indústria da beleza e os perigos por trás do milagre

Há muito tempo falo sobre os padrões impostos às mulheres. A beleza está em primeiro lugar. Não pode estar fora do peso e tudo tem que ser milimetricamente perfeito. Todas têm a mesma aparência, cabelos, cílios, boca, botox para levantar aqui e ali, e não pode estar nada em desalinho com a “beleza padrão”.

Só que todo excesso é perigoso, e passou dos limites. Mês passado (outubro), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu o uso dos implantes hormonais. Conhecidos como ‘chips da beleza’, estavam sendo usados indevidamente pela indústria estética, mas, na verdade, foram elaborados para tratar problemas graves como TDPM (Transtorno Disfórico Pré-Menstrual) ou endometriose – doenças que milhares de mulheres enfrentam.

Nesta sexta-feira (22 de novembro), a Anvisa anunciou a revogação da proibição da venda, uso e propaganda de implantes hormonais, uma decisão que promete impactar positivamente a saúde de pacientes que dependem desse tratamento. A nova resolução foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), reforçando que seguirão proibidos somente os implantes à base de esteroides anabolizantes e hormônios androgênicos, os que estavam de fato sendo usados para fins estéticos, com promessas – não comprovadas – de chapar a barriga, melhorar a performance, a pele, etc… os tais “chips da beleza”.

Mas para isso acontecer foi preciso um movimento entre pacientes, médicos, farmacêuticos, empresários e fabricantes legais dos implantes. A Anvisa recebeu mais de 500 relatos de mulheres, que de uma hora para outra ficaram sem tratamento, o qual daria severos danos à saúde, já que esta foi a única forma que lhes trouxe conforto com os sintomas terríveis que as doenças causam, e que estavam em completo desespero ao se depararem com a medida. A decisão foi tomada após a CEO do MC Legacy Lab, Manuela Coutinho, coordenar o grupo que se reuniu com a diretoria da Anvisa em Brasília.

É necessário cuidar da saúde e bem-estar da mulher, com avaliação médica criteriosa. Vimos muitos casos, até de óbito, causados por negligência e falta de responsabilidade com os cuidados necessários. Não se pode sair aplicando ou receitando medicamentos que não são de uso apropriado, prejudicando e até podendo matar pessoas apenas pelo prazer da aparência, e principalmente estar inserido na beleza perfeita que só existe nos filtros das fotos e – quiçá – em imagens da TV.

Sempre devemos nos informar sobre tantos novos milagres, temos o dever e o direito de ter informações e a capacidade dos profissionais envolvidos em nossa saúde. As pessoas que realmente precisam do tratamento são as mais prejudicadas nessa incompetência de quem não trabalha com seriedade e responsabilidade.

Por Maristela Prado

O veto dos celulares nas escolas

Escolas de todo o país estão aderindo ao desuso do celular no espaço escolar. Esta medida tem urgência no que se refere à saúde mental das crianças e adolescentes, diante da falta de atenção, falta de foco nos estudos, e, principalmente, e a necessidade de estar conectado em tempo integral.

Com o passar dos anos, e a tecnologia avançando cada vez mais, tanto crianças como jovens se distanciaram da socialização entre si. É cada vez mais comum se deparar com rodinhas de amigos e todos conectados, sem interação alguma. Isso, por sua vez, destrói os relacionamentos olho no olho, conversas e convivência em grupo.

O Ministério da Educação anunciou um projeto de lei para vetar o uso de celulares na escola, algumas já baniram o uso, e o resultado tem sido positivo, tanto para as crianças como para os adolescentes, que é muito mais difícil fazer compreender, mas alguns têm achado o veto positivo, pois agora interagem muito mais com os amigos.

Há relatos de que crianças de até três anos precisam de um acompanhamento mais de perto. Segundo matéria do G1, existem crianças nessa faixa etária que não comem ou não trocam de fraldas sem o celular. Um grande perigo para o desenvolvimento cognitivo das crianças, de modo que é preciso consciência das escolas, as quais já estão se adaptando à proibição, e aos pais dentro de casa, estabelecendo hora e tempo para o uso.

Nas escolas as telas são importantes para uso nos estudos, como pesquisas, livros digitais, vídeos interativos, simulações e jogos educativos, mas sem acesso às redes sociais, sendo que são elas que mais tiram a atenção e distraem os alunos.

Criança precisa brincar com joguinhos educativos, parquinho, interação com os amigos, hora do lanche sem celulares, participação nas aulas, interesse por livros, pelo aprendizado, pelo ambiente escolar. Tirar a atenção dos pequenos para as telas é uma forma de amor, para crescerem e aprenderem a conviver com pessoas, e não apenas virtualmente.

Os adolescentes estão crescendo com problemas psicológicos nunca vistos, preferem a interação pela internet, dentro do quarto e sozinhos, causando irritabilidade, ansiedade e até mesmo depressão. Dificuldade no convívio social e em lidar com suas emoções. Além de estarem expostos a abusos e conhecimentos em desacordo com a idade.

Não bastasse tudo isso, estão sendo seduzidos por apostas de jogos onde crianças estão aderindo e jogando, ou seja, um vício que não tem nenhum cuidado onde são postados. A internet tornou-se perigosa, se não estivermos atentos em qual ambiente os jovens estão tendo acesso, teremos um futuro de pessoas com severos transtornos psicológicos, vícios e completa falta de interação com pessoas.

Isso é saúde mental de crianças e adolescentes, não estamos falando de adultos que já se corromperam ao mal uso da internet e a usam para o mal. O futuro depende apenas de como essa geração está sendo exposta sem qualquer preocupação ao conteúdo ao que estão tendo acesso. O futuro a eles pertence, mas o presente somos nós que devemos preparar.

O fogo, o ar, a água e a Terra. A vida está por um fio

Morreremos sufocados ou queimados? Por que o Homem se tornou tão irracional no segundo milênio? Dinheiro, poder, audácia, excesso de ‘sabedoria’ nula, ou será que foi eu quero, eu posso, eu tenho?

 Há muito se fala sobre o derretimento das geleiras, um dia iria acontecer, mas quem se importou com isso? Aos poucos o clima foi mudando, aumentando a temperatura. Hoje vemos o aquecimento global causando doenças, as consequências desastrosas como secas, tsunamis, furacão, vulcões adormecidos há décadas entrando em erupção, o aumento do nível do mar.

O ser humano não está preparado para calor extremo, frio extremo, não existe mais estação do ano, ou é calor demais ou frio demais, seja o mês que for. As doenças começam a surgir, vírus estão saindo de seus habitats e invadindo cidades no mundo. Tudo por causa do Homem.

Do outro lado do mundo, guerras que não findam estão destruindo a Terra, crateras são abertas pelos mísseis, cidades praticamente desaparecem, pessoas inocentes morrem por um interesse político e de território. As placas tectônicas se movimentando. Mas não param.

Aqui no Brasil, as queimadas, a princípio, achamos que fossem por causa da seca, da falta de chuva, que também é consequência dessa instabilidade climática, não tem onde formar as atmosferas de gelo e calor para gerar chuva. Estão acabando com nosso ar, com nosso oxigênio. Além de tudo isso, o Homem continua a causar na Terra, alguns com alma perversa, ainda não se sabe o motivo, mas queimam por queimar, queimam por puro prazer, queimam vidas, a vegetação tem vida.

O agronegócio sendo prejudicado por quais questões? Destruir onde se planta alimentos é destruir a vida, não perde só quem planta, perde toda a população, inclusive quem incendeia. O alimento não chegará à mesa ou chegará mais caro, mas será esse o motivo para ter o que reclamar depois? E isso interessa a quem, se faltará para todos?

Quem está pensando nas consequências disso? Essas pessoas não têm família, filhos, netos, pai, mãe? Quando se toma uma atitude insana está também prejudicando os seus, se é que tem alguém para chamar de seu. Matar pessoas, animais, a própria vegetação, não tem graça, não existe motivo, a vida é dada para todos, inclusive para quem tem coragem de um ato tão desumano.

Estamos sem ar, não temos mais um céu azul, é cinza. Se nada for feito o próprio Homem vai acabar com o mundo, pois está colocando tudo a perder. Acabaremos sufocados, queimados e loucos? A Terra não terá mais como abrigar ninguém, tão breve acabará a água, acabará o ar, acabará a terra e acabará em fogo. E tudo já está acontecendo. Quanto tempo mais teremos se isso não tiver fim? Ou o Homem acaba com tudo ou a Terra acabará com o Homem. E todos voltaremos ao pó.

Portanto, vamos sim às ruas protestar, mas para um bem a todos, um bem à vida. Agora não é momento de sair em defesa desse ou daquele, é hora de todos se unirem pela vida, e a vida não é uma rede social, é respirar, pulsar o coração, ter a mente sã e amor no coração. Tendo isso não precisa de briga, não somos animais irracionais para brigar por território, nascemos com inteligência suficiente para procurar nosso caminho, e não é inflando o peito, é respeitando e fazendo por si. Daí sim terá vida, o que está a se fazer é caminhar para a morte, e isso não faz parte da evolução. Evolua para Ser melhor, e não para Ter mais.

As emoções nas crianças

Já ouviu falar em educação socioemocional? É um programa para implementar nas escolas para crianças e adolescentes. Mas o que é isso? É um processo de ensino e aprendizagem no âmbito social, comportamental, pensamentos e emoções, aprender a ter resiliência, empatia com os outros, no caso da escola com amigos, professores, funcionários, para a vida.

Estamos num mundo onde as crianças estão expostas a todo tipo de informação, como a violência, a falta de controle de adultos sendo exemplo para crianças, palavreado inadequado, valores, educação e respeito deixados de lado.

Nunca tivemos tantas crianças com ansiedade, depressivas e consumistas, é comum vermos as exigências mais absurdas pelo consumo, pelo simples fato de ter. O consumo e o descarte de coisas por outras que dizem ser mais avançadas, mas que na verdade é um ponto aqui ou nada apenas para vender, para ganhar, para enlouquecer.

Daí os problemas emocionais em crianças! Vivem como adultos sedentos pelo novo, desfazem de colegas que não têm o objeto de desejo do momento, praticam o bullying, seus valores é o quanto custa, não o que vale a pena. Precisam de ajuda.

Este artigo estava pronto ontem (21 de agosto), quando li uma matéria sobre um garoto negro, gay, da periferia de São Paulo e bolsista do colégio Bandeirantes, um dos mais caros da cidade. O garoto de 14 anos sofria bullying há um ano e meio, desde que conseguiu a bolsa através de um processo seletivo rigoroso para alunos de baixa renda acessarem colégios de classe alta. Avisou a mãe o que estava acontecendo, sofria com a situação, e ela tentava acalmá-lo, mas o garoto deixou de falar no assunto. O gesto desesperado do garoto aconteceu no dia 12 de agosto, quando ele saiu de casa para ir à escola, mas não chegou, tirou a própria vida no caminho.

A escola aderiu ao programa ‘convivência positiva’ depois de muitos fatos ocorridos na unidade em relação a comportamento. A escola não pode ajudar sozinha, tem que haver a colaboração da família para que a disciplina seja alcançada, senão nada disso surtirá efeito. A educação começa em casa, e a família não pode deixar nas mãos da escola a educação dos bons modos e respeito. O adulto de amanhã será exatamente o que aprendeu em casa, e não na escola.

Resgatar a educação não é careta, é necessidade social, é saber que não se pode tudo e nem falar tudo o que pensa, a resiliência é que ajuda a criança a se transformar ou superar traumas. A empatia, saber se colocar no lugar do outro, ‘o que você não quer pra você não faça para o outro’. Ou seja, aprender a lidar com suas próprias emoções e a dos outros também, não achando que o problema do outro não lhe diz respeito, e desta forma sentindo-se mais importante e valorizada.

A escola não educa, a educação vem de casa, mas a escola pode nutrir esses valores, além de instruir didaticamente. São pequenas atitudes no dia a dia que transformam, mas os pais também precisam participar, isso é parceria, e principalmente para seu filho.

Silvio Santos vem aí. Para a eternidade

A morte do comunicador Silvio Santos, sem dúvida, foi a maior cobertura jornalística vista nos últimos anos, até por conta da falta do sensacionalismo existente em mortes de celebridades, mas ele mesmo pediu para que não fosse visto morto. E eu concordo plenamente. Qual a intenção de as pessoas virem uma figura tão querida e consagrada, durante setenta anos de pura alegria, morto no caixão? O choro, a curiosidade, o adeus?

A imagem que sempre achei que devemos ter de qualquer pessoa que se vá é de quem ela foi, do que de bom deixou. A morte é um fato natural da vida, mas é dura e jogada como um balde de água fria. Acabou.

Quem foi Silvio Santos, o homem alegre, sorridente, que comandava uma emissora de televisão e estava à frente de um dos programas mais assistidos e adorados pelo povo brasileiro? Quem era o Senor Abravanel?

Foi um homem com sonhos e um talento para a comunicação que, muito novo, foi descoberto e teve a oportunidade de mostrar a que veio. Não nasceu em berço de ouro, não tinha vergonha de dizer que foi camelô. Sabia que para chegar aonde sonhava precisava batalhar e correr riscos, e foi o que fez. Mas nunca deixou que suas conquistas o deixassem olhar só para cima, olhava dos lados, e também para baixo.

Agia com seus funcionários com justiça e respeito, o que sempre falo nas minhas crônicas; a base de tudo é o respeito. Sabia reconhecer os méritos, mas os erros também, era justo com quem merecia, ajudava, sabia das aspirações de cada um de seus artistas, e respeitava suas escolhas. Ele não teve sorte, foram suas boas ações que o tornaram reconhecido, aclamado e querido pelo povo. ‘Quem faz o bem recebe o bem, e vice-versa também’.

Naturalmente que não sabemos dos bastidores de sua vida íntima, e não precisamos saber disso, conhecemos o comunicador, aquele que sempre com um sorriso e bom humor falava com milhões de pessoas todos os domingos, sua presença era só alegria, e o que mais colocamos dentro de nossas casas todos os dias através da televisão são apenas péssimas notícias, morte, maldade, inveja. Por isso ele falava: “Vamos sorrir e cantar”.

Mas agora o povo brasileiro terá que se acostumar sem o Silvio Santos, embora estivesse fora das câmeras havia algum tempo, mas certamente comandava de casa; agora não, sua linda missão na Terra foi cumprida. Suas filhas herdam o legado, só o futuro dirá como será.

Do Senor Abravanel pouco sabemos das controvérsias, só sabemos do que de melhor ele fez, e muitos deveriam seguir, mas os bons exemplos não querem, porque os maus exemplos são mais fáceis e rápidos de conquistar o topo, não importa a que preço, só interessa aonde vai chegar, e esse topo nunca tem fim. Um dia cairão, é rápido também, não terão homenagens, não serão lembrados e tampouco consagrados pela eternidade. A vida é de escolhas, as consequências também. “Da vida não se leva nada, vamos sorrir e cantar” (Silvio Santos). Tudo o que ele conquistou ficou aqui, e ele sempre soube que assim seria.