Mãe da rua ou pique bandeira? Corre cotia ou passa anel? As crianças com mais de 50 anos vão lembrar dessas brincadeiras; ainda não havia telas para brincar sentado, brincávamos correndo, gastando muita energia. Pulava corda, amarelinha; e as brincadeiras dos meninos. Carrinho de rolimã, fubeca, pião, pipa ou papagaio – dependendo da região –, e tantas outras.
Alguns vão dizer que é saudosismo, e é mesmo. As brincadeiras eram simples e ingênuas, mas não vivíamos num mundo tão sobrecarregado de informação, não tínhamos sede sobre fatos, tínhamos uma vontade imensa de brincar e assistir TV, que era recheada de programação infantil que trazia curiosidades e a fantasia de que as crianças precisavam para se desenvolver, nas décadas de 60 e 70, quando éramos apenas crianças.
Quem não lembra da simplicidade que era ser criança? Brincávamos na rua de pega-pega, esconde-esconde, de pular corda. Bullyng sempre existiu, mas era na brincadeira e não na maldade. As crianças não tinham raiva ou preconceito, todos eram amigos, ninguém pensava em matar os colegas. A educação começava em casa, íamos à escola para aprender as questões escolares, e não ousávamos desrespeitar o ambiente escolar. Não éramos perfeitos, mas as imperfeições eram corrigíveis, não precisava de cadeia.
Não tínhamos celular e nem computador, conversávamos com as pessoas, sabíamos ficar sem fazer nada e passar o tempo. Nasci junto com a ditadura, a qual vivi até adulta, mas não me preocupava com o que acontecia. Quando criança, era apenas uma criança, na adolescência vivi em paz, embora às voltas com as regras pesadas, mas isso não me afetou. Não sou revoltada nem traumatizada, minha educação me fez entender o meu lugar. Hoje tenho dois filhos e um neto, muita coisa mudou, respeito a época de cada um, mas a educação não é de época nem da moda, é a base de uma boa educação, e isso eu ainda cobro.
Outro dia vi um comentário bem insignificante de um internauta numa publicação sobre a juventude dos anos 80. Tratava-se das músicas e vestimentas da época, e claro que quem viveu essa época mágica e inesquecível tem muitas lembranças. Pois bem, a pessoa vem e escreve que falam num saudosismo como se não tivesse ocorrido nada de ruim, e detalhou fatos políticos da época, querendo desmerecer as memórias ali expostas, e ainda ressaltou que era criança, mas viveu tudo aquilo. Como uma criança lembraria de tantos detalhes e teria tido um trauma tão grande sendo apenas criança? Sim, hoje sabe dos fatos, mas não sofreu. E nós, jovens, éramos muito felizes, sim. Apesar da ditadura e de toda a repressão, vivíamos as maravilhas daqueles anos, sem brigas, sem ofensas e sem querer ser o sábio da vez.
Nosso país e o mundo mudaram nesses últimos 40, 50, 60 anos, e nós mudamos também, senão seríamos engolidos pelas transformações. Mas jamais podemos deixar de ter nossas lembranças sem nos importar se teve problemas, pois a vida é curta demais para sempre trazer pra perto o ruim. Vamos deixar um pouco de lado esse vício de querer trazer intriga para onde está tudo bem. Vamos viver um pouco a época em que nossa preocupação era pegar o lencinho e sair correndo atrás de quem jogou, assim a gente muda o foco do politicamente correto para o ‘se o lencinho for meu, eu te pego’.